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    Eleição de Biden não deve fazer os EUA elevarem as importações brasileiras

    Além da tendência protecionista do novo presidente, a falta de competitividade da indústria brasileira é principal barreira às exportações

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Os Estados Unidos vêm há anos perdendo espaço na lista de maiores compradores de produtos brasileiros. A escalada de barreiras comerciais recentes – como a imposição de taxas e cotas sobre as compras de aço, por exemplo – ajudam a explicar a dificuldade do Brasil em manter seu espaço por lá. 

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    Nem mesmo a troca de governo nos Estados Unidos, com a vitória de Joe Biden, deve mudar esta tendência. 

    De um lado, está o fato de que a proteção à produção americana, algo que sempre existiu, se tornou ainda mais forte na última década, e não será uma alternância de partido que vai revertê-la. 

    Do outro, estão dificuldades muito mais profundas do próprio Brasil com custos altos e baixa produtividade, que há tempos minam o avanço da indústria no mercado global.

     

    “Dizer que para o Brasil é melhor com Biden ou com Trump poderia ser uma análise que fizesse sentido antes”, diz o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio exterior (Funcex), Mario Carvalho. “Mas vai ser tensão de qualquer maneira daqui para frente.”

    De acordo com Carvalho, há uma mudança “na infraestrutura econômica dos Estados Unidos” em curso nas últimas duas décadas, o que levou à ascensão de um clamor protecionista muito maior dentro do país. 

    “A partir dos anos 90, com a economia manufatureira doméstica sendo substituída por produto importado, o rendimento médio do americano começa a cair”, diz Carvalho. “A ideia de que era mais barato e menos custoso mandar fazer os semimanufaturados lá fora mudou.” 

    Não por acaso, o fenômeno foi ganhando corpo à medida que a China e sua avalanche de produtos baratos ascendiam e reconfiguravam completamente o mercado global do século 21.

    Fraqueza da indústria brasileira

    Embora os Estados Unidos sejam um dos maiores consumidores de produtos brasileiros, vêm perdendo representatividade no comércio exterior desde o início dos anos 2000.

    Isso reflete um problema maior, resultado de uma reconfiguração completa que aconteceu nas exportações brasileiras de 2000 para cá.

    Produtos industrializados – vendidos principalmente para países como os Estados Unidos – foram perdendo espaço, enquanto o agronegócio e produtos básicos – os preferidos da China – roubavam de vez a cena.

    “Em 2000, 60% de tudo o que o país exportava era de produtos manufaturados, e isso foi caindo até chegar a 24% hoje”, diz José Augusto de Castro, presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

    Foi nesse intervalo que a China saiu de menos de 2% das vendas brasileiras para se tornar o principal comprador do Brasil, a partir de 2009, à frente dos Estados Unidos.

    Com a mudança da pauta exportadora brasileira, os Estados Unidos saíram de uma participação de mais de 20% de tudo o que o país exportava (em especial, aviões, aço, calçados e carros) em 2000 para algo próximo a 10% em 2020. Já a China, massiva compradora de soja, minério de ferro, petróleo e carnes, passou de 3% para 30% nesse mesmo período. 

    Não é que as vendas de outros produtos e para outros países caíram, é bom deixar claro. Os embarques para os Estados Unidos cresceram quatro vezes nesses 20 anos. É que as vendas de commodities para a China cresceram muito mais: elas se multiplicaram por 42. Tanto é que a receita com exportações para a China teve um aumento de 4.100% entre 2000 e 2019.

    Com a pandemia, a distância entre China e Estados Unidos aumentou na pauta de exportações brasileiras. Enquanto as vendas para os americanos caíram 30% neste ano — considerando os valores de janeiro a outubro em 2020 ante o mesmo período de 2019 —, para os chineses aumentaram 11%. 

    A resposta, porém, não é tão simples quanto os Estados Unidos estão em crise e consumiram menos. As importações totais deles, neste ano, caíram 12% — bem menos do que o recuo de 30% sentido pelo Brasil. 

    Ou seja: sim, os americanos compraram menos coisas em 2020, mas compraram ainda menos do Brasil. E isso já em um cenário em que o dólar está completamente favorável, já que o real foi uma das moedas que mais perderam valor no mundo neste ano. Isso resulta em produtos brasileiros baratos como nunca para quem compra em dólar — o que, ao que parece, continuou não sendo o suficiente. 

    “Dólar não é fator de competitividade, é uma mera conversão de moeda”, defende Castro, da AEB. Para ele, a saída para o fenômeno passa bem longe da postura a ser adotada pelo novo presidente dos Estados Unidos, e está diretamente relacionada aos velhos problemas daqui de dentro. 

    “Nós não temos custo competitivo”, diz, mencionando os conhecidos gargalos de infraestrutura, logística e, principalmente, impostos altos e complexos, que deixam os produtos brasileiros mais caros.

    “É o famoso custo-Brasil. A China não compra manufaturados de nós. Quem compra são só Estados Unidos, a União Europeia, a América do Sul, mas nossa indústria não tem preços competitivos para participar de tudo e acaba perdendo espaço para outros países.”

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