Pagamento pelo WhatsApp será aprovado quando proteção for garantida, diz BC
Presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, disse que é favorável a competição, desde que seja compravado que dados de usuários serão protegidos
Os pagamentos pelo WhatsApp serão aprovados pelo Banco Central (BC) assim que for comprovado que o arranjo proposto pela empresa é competitivo e tem a proteção de dados na forma que a autoridade monetária considera adequada, afirmou o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, nesta quinta-feira (2).
“Entendemos que existe um ponto que ele pode ser competitivo ou pode não ser. Mas a gente não está dizendo que não é, a gente só quer que peçam autorização e que nos mostrem como vai ser o funcionamento para gente ter certeza que é competitivo”, disse ele, ao participar de evento promovido pelo jornal Correio Braziliense.
Na semana passada, o BC mandou as bandeiras de cartões Visa e Mastercard, que haviam anunciado parceria com o WhatsApp, suspenderem o uso do aplicativo controlado pelo Facebook para pagamentos e transferências, enquanto avalia eventuais riscos ao funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
O WhatsApp anunciou em 15 de junho que seus usuários poderiam fazer pagamentos por meio do aplicativo, numa parceria que também incluía instituições financeiras como o Banco do Brasil e a empresa de meios de pagamentos Cielo.
Pela nova ferramenta, usuários passariam a poder transferir dinheiro a pessoas ou empresas no país dentro de uma conversa, anexando o pagamento como se fosse foto ou vídeo.
O presidente do BC indicou que a solução inicialmente apresentada para a operação foi de que ela dispensava autorização pelo fato de começar “com volumetria baixa”. Mas ele defendeu que essa prerrogativa foi criada pelo BC para tirar a burocracia envolvendo o começo de negócios pequenos, que não “influem no sistema”. Segundo Campos Neto, esse não seria o caso do WhatsApp.
O entendimento da autoridade monetária é que um arranjo que começa com 120 milhões de usuários –base do WhatsApp no país– é significativo e, portanto, precisa passar pelo mesmo crivo que outros arranjos, defendeu Campos Neto.
“Em nenhum momento Banco Central proibiu nada, o BC está disposto a autorizar assim que for seguido o mesmo trilho dos outros arranjos”, disse. “Temos uma agenda super pró-competição. Assim que for comprovado que é um arranjo competitivo e que tem a proteção de dados na forma que nós entendemos necessária, será aprovado.”
Mais cedo nesta semana, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) decidiu retirar medida cautelar que impedia acordo para a criação do sistema de pagamentos lançado pelo WhatsApp com a Cielo. O órgão de defesa da competição afirmou, porém, que vai continuar investigação sobre a parceria.
Recuperação em ‘V’
Sobre a recuperaçao da economia brasileira, Campos Neto disse que começou em “V”, reforçando a mensagem de política monetária de que o espaço para queda dos juros básicos existe, mas é pequeno.
“Nós temos espaço, mas não muito mais. Está perto de uma taxa que a gente entende que se ela for sendo reduzida continuamente pode gerar efeitos indesejados”, afirmou.
Quando cortou a Selic em 0,75 ponto, à mínima atual de 2,25% ao ano, em junho o BC já havia aberto a porta para nova redução “residual” à frente, condicionada à avaliação do cenário. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) acontece em 4 e 5 de agosto.
Campos Neto afirmou ainda avaliou que as duas últimas semanas de abril foram as piores para a economia brasileira e que houve recuperação a partir do começo de maio, dando início a uma retomada em “V”.
“E aí a parte de dados em tempo real, que é importante olhar, a gente começa a ver uma melhora mais rápida em junho. Então energia, tráfego, arrecadação, volume de TED, tudo isso a gente consegue ver uma melhora já em junho”, disse.
Em sua fala inicial, Campos Neto disse que a adoção de medidas mais rígidas de distanciamento social no chamado lockdown não é o que “faz tanta diferença” em relação a um isolamento mais frouxo, pontuando que a diferença no tráfego de pessoas nesses dois cenários compreende um intervalo de 10% a 13%.
Para Campos Neto, o que pesa mais é a decisão voluntária das pessoas de circular ou não, que sofre o impacto do que chamou de “fator medo”. Ele frisou que é muito importante manter o sistema financeiro funcionando, já que a capacidade de alocação de recursos é que fará a economia voltar num formato mais desejado.
Inflação
Sobre a inflação, Campos Neto avaliou que o avanço de preços na economia está bem comportado neste ano e deve seguir assim no próximo. Já quanto ao desemprego, ele reconheceu que deverá haver uma piora da taxa no Brasil em relação a patamares atuais.
Segundo o presidente do BC, a última rodada de medidas anunciadas pela autarquia para destravar o crédito veio após percepção de que o volume de financiamentos estava caindo. O pacote foi concebido para direcionamento de recursos a pequenas e médias empresas.
Ele também admitiu que o spread no Brasil é alto e tem algumas anomalias, mas disse que o BC está combatendo-o num caminho que já está traçado.
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