Bolsa fecha em forte alta após tombos, seguindo melhora no exterior
Queda acentuada dos últimos dias aumenta apetite dos investidores, mas mercado continua avaliando série de medidas econômicas anunciadas contra o coronavírus
A terça-feira foi de recuperação técnica na bolsa brasileira, com o Ibovespa fechando em forte alta, respaldado pela melhora nos mercados externos. Mas o cenário continua volátil, uma vez que permanecem as dúvidas sobre o tamanho do dano causado pelo coronavírus nas economias, mesmo após uma série de medidas adotadas no Brasil e por outros países.
O Ibovespa, principal índice da B3, terminou o dia em alta de 9,69% a 69.729 pontos. Na véspera, tinha caído mais de 5%.
No ano, porém, o índice ainda acumula queda de 39,7%. Em relação à máxima histórica de fechamento, atingida em janeiro (119.527,63 pontos), o declínio ainda supera 40%.
“Apesar de toda volatilidade vista desde a semana passada, o mercado por enquanto segue respeitando a faixa entre 60 e 70 mil pontos”, observa o analista Rafael Ribeiro, da Clear. “Isso não significa que chegamos ao fundo do poço, mas sem dúvida esse teste (de quedas acentuadas e rápidas) fez o mercado todo refazer suas contas em busca de empresas extremamente descontadas”, completa.
Na visão de profissionais do mercado financeiro no Brasil, a trégua encontrou respaldo em números que sugerem uma certa estabilização dos casos do novo coronavírus na Itália, além de sinalização do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de alívio do ‘lockdown’ (ordem de quarentena) no país nas próximas semanas.
“No momento, a evolução da epidemia continua sendo o principal foco de atenção dos agentes”, destacou o gestor Alfredo Menezes, da Armor Capital.
Sinais de redução de estresse nos mercados interbancário e de crédito após a bateria de decisões de banco centrais também ajudavam, sugerindo que as medidas começaram a gerar impacto. Além disso, há expecativa de votação pelo Congresso dos EUA de pacote de estímulo econômico de US$ 2 trilhões.
O gestor David Cohen, da Paineira Investimentos, ressaltou, contudo, que a volatilidade deve permanecer muito elevada nos mercados, com o Brasil acompanhando o cenário externo.
“Dentro dessa volatilidade global que estamos tendo, é mais difícil encontrar grandes diferenciações entre os ativos… O mundo deve andar junto por algum tempo”, acrescentou.
Recuperação lá fora
O respiro na bolsa brasileira acompanhou o observado em outras economias. Nos EUA, o Dow Jones registrou o maior ganho percentual em um dia desde 1933. O índice subiu 11,37%, para 20.704,91 pontos. Já o S&P 500 avançou 9,38%, para 2.447,33 pontos, e o Nasdaq Composite ganhou 8,12%, para 7.417,86 pontos.
Na Europa, as bolsas tiveram o melhor dia desde 2008 diante das promessas de estabilidade. A recuperação mais forte foi vista na Alemanha, com o DAX fechando em alta de 10,9%. O FTSE, de Londres, subiu 9%.
Na Ásia, as bolsas de países como Japão e Coréia do Sul, encerraram o pregão com altas expressivas, de 7% e 8% respectivamente. A China também respirou, com a subida de 2,3% e 4,4% em Hong Kong.
Os preços do petróleo também terminaram no azul no mercado internacional, mas longe das máximas.
Destaques da B3
Banco do Brasil disparou 17,13%, melhor resultado entre os grandes bancos de varejo no Ibovespa, após declínio forte na véspera, com a ação preferencial do Itaú subindo 9,65% e a do Bradesco avançando 15,05%. A unit do Santander fechou em alta de 13,41% e a do BTG Pactual saltou 24,82%.
O papel preferencial e o ordinário da Petrobrás subiram 15,22% e 15,92%, respectivamente, apesar da variação tímida dos preços do petróleo no mercado internacional. A estatal reduzirá em 15% o preço médio da gasolina em suas refinarias a partir de quarta-feira e manterá o valor do diesel, informou a companhia à Reuters após ser consultada.
Magazine Luiza avançou 21,42% e B2W fechou em alta 20,86%, na esteira da recuperação generalizada, ajudada ainda pela perspectiva de migração de consumo para o comércio online com o fechamento de lojas físicas após medidas de restrição de circulação de pessoas. Via Varejo subiu 13,61%.
Multiplan ganhou 17,30%, com o setor se shopping também se recuperando de perdas severas recentes geradas por anúncios de fechamentos de empreendimentos em razão do novo coronavírus. BrMalls fechou com elevação de 13,16% e Iguatemi saltou 16,84%.
As preferenciais da Azul e da Gol valorizaram-se 13,24% e 16,88%, respectivamente, após novas medidas em resposta aos efeitos da pandemia, incluindo redução drástica na oferta de voos pelas duas companhias.
Vale subiu 10,38%, acompanhando a reação nos mercados como um todo. Os futuros do minério de ferro na China fecharam praticamente estáveis nesta terça-feira, com o mercado dividido entre preocupações com demanda e crescentes chances de uma redução na oferta da matéria-prima.
*Com Reuters