Médicos alertam para aumento de mortes de grávidas por Covid-19 em 2021
Dados do Ministério da Saúde também indicam crescimento; pesquisadores estudam possível relação com as novas variantes
Estudo feito pelo pesquisador Marcos Nakamura, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e outros seis obstetras, alerta para o aumento de mortes de grávidas contaminadas com Covid-19 em 2021. De acordo com o levantamento, entre 1 de janeiro e 10 de maio deste ano, o Brasil perdeu 636 grávidas para a doença, o que representa 58,4% de todas as mortes de gestantes desde o início da pandemia. Ainda segundo o estudo, de março de 2020 a maio de 2021, 1088 grávidas morreram em decorrência da Covid-19 no país.
Porém, para o Ministério da Saúde, pasta responsável pelos dados oficiais de Covid-19 no País, esse número é diferente. De acordo com boletim epidemiológico do MS, de março de 2020 a 15 de maio de 2021, 766 grávidas morrem de Covid no Brasil. O ministério informou que os dados estão atualizados e não há atraso no repasse da comunicação entre os municípios, o que poderia explicar a discrepância.
No entanto, tanto o estudo conduzido pelos médicos quanto os dados do Ministério da Saúde, indicam aumento significativo de mortes de grávidas com Covid-19 em 2021, se comparado com 2020 — quando ainda não havia variantes do coronavírus circulando pelo Brasil.
O estudo conduzido pelos pesquisadores também aponta que a taxa de letalidade entre grávidas em 2021 já é maior do que a taxa apresentada em 2020. No ano passado, foi de 7,4% e, no momento, a letalidade é de 15,6%. De acordo com os obstetras envolvidos no estudo, esse aumento pode estar relacionado à circulação de variantes genéticas mais agressivas da doença no País, como a P.1 – embora os médicos destaquem que isso ainda está em análise e não é possível afirmar de forma categórica esta relação.
“Uma vez que as variáveis relacionadas ao acesso à saúde e às diferenças demográficas não são significativamente diferentes e as mulheres parecem ser mais saudáveis na amostra de 2021, tais diferenças podem estar relacionadas à circulação de variantes genéticas mais agressivas no país”.
As mortes de grávidas neste ano tiveram menos incidências de comorbidades do que no ano passado — 59% das gestantes que morreram por Covid-19 até março de 2021 não tinham nenhuma comorbidade ou fator de risco.
O colapso hospitalar nas redes público e privada ocorrido neste ano também pode ter sido um fator que contribuiu com os números elevados, segundo o artigo publicado. “Acreditamos que o colapso do sistema de saúde não pode ser descartado como uma das possíveis razões para o aumento do índice de letalidade”.
O estudo finaliza chamando atenção para o fato de que “enquanto medidas eficazes de contenção da pandemia, incluindo vacinação e testes em massa, não forem adotadas de forma consistente no país, não será possível prever o fim dessa calamidade”.
“A grande maioria das gestantes continuam suscetíveis a contrair a Covid-19, porque só estão sendo vacinadas gestantes com comorbidades. Porém, mesmo que a vacinação avance de forma rápida, ainda morrerão muitas gestantes, já que atualmente a maioria das mortes tem acontecido em grávidas sem comorbidades”, alerta Marcos Nakamura, que obstetra e pesquisador do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).