Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Pesquisadores da USP encontram coronavírus na gengiva de vítimas da Covid-19

    O vírus foi encontrado no tecido periodontal por meio de uma autópsia minimamente invasiva; é a primeira vez que pesquisadores detectam o SARS-CoV-2 em gengivas

    Hospital de campanha em Santo André (SP) durante pandemia da Covid-19
    Hospital de campanha em Santo André (SP) durante pandemia da Covid-19 Foto: Danilo M Yoshioka/Futurapress/Estadão Conteúdo (19.mar.2021)

    Da CNN, em São Paulo

    Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) detectaram, pela primeira vez, a presença do novo coronavírus na gengivas de pacientes com Covid-19 que faleceram em decorrência da infecção.

    Os resultados do estudo foram publicados nesta sexta-feira (26) no Journal of Oral Microbiology, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

    Para realizar as análises, os pesquisadores adotaram uma autópsia minimamente invasiva em pacientes diagnosticados com Covid-19 que morreram no Hospital das Clínicas da FM-USP e observaram, por meio de análises por RT-PCR e histopatológicas, a presença do SARS-CoV-2 no tecido periodontal.

    As descobertas contribuem para desvendar uma das possíveis fontes do novo coronavírus na saliva de pacientes com COVID-19, destacam os autores do estudo.

    “A presença do SARS-CoV-2 no tecido periodontal pode ser um dos fatores que contribuem para a presença desse vírus na saliva de pacientes infectados e demonstra que as origens do novo coronavírus em gotículas salivares não são somente as vias respiratórias”, disse Bruno Fernandes Matuck, um dos pesquisadores do estudo, à Fapesp.

    Poucos vírus já foram detectados em gengivas

    Antes do surgimento do SARS-CoV-2, outros poucos vírus, como da herpes simples (HSV), o Eptein-Barr (EBV) e o citomegalovírus humano (HCMV) já tinham sido detectados em tecidos gengivais.

    As possíveis fontes de infecção podem ser as células epiteliais da gengiva, expostas à cavidade oral, e a migração desses vírus pela corrente sanguínea.

    Em razão da alta infecciosidade do SARS-CoV-2 em comparação com outros vírus respiratórios, os pesquisadores levantaram a hipótese de que o novo coronavírus poderia se replicar na cavidade bucal e, dessa forma, aparecer na saliva.

    Com o intuito de testar essa hipótese, eles mapearam componentes da cavidade bucal que contribuem com a composição da saliva. Entre eles, as glândula salivares, o tecido periodontal e células do trato respiratório superior.

    “A ideia foi procurar dentro desses três componentes o que estaria contribuindo para a saliva de pacientes com Covid-19 apresentar uma carga viral tão alta”, explica Matuck.

    Cientista faz estudos de vacinas contra as novas cepas do coronavírus
    Cientista faz estudos de vacinas contra as novas cepas do coronavírus
    Foto: CNN

    Por meio de um sistema de endoscópio por vídeo, acoplado a um smartphone, foi possível localizar e extrair, com pinças, amostras desses tecidos e também das papilas gustativas e do epitélio respiratório de, inicialmente, sete pacientes mortos por COVID-19, com idade média de 47 anos.

    As análises das amostras indicaram a presença do SARS-CoV-2 no tecido periodontal de cinco pacientes até 24 dias após a manifestação dos primeiros sintomas da infecção em alguns casos. “Esses achados mostram que o tecido periodontal parece ser um alvo do SARS-CoV-2, podendo contribuir, por muito tempo, para a presença do vírus em amostras de saliva”, diz Matuck.

    Os pesquisadores ponderam que a infecção do tecido periodontal pelo SARS-CoV-2 e a presença do vírus na saliva por longo tempo não significa que as partículas do RNA viral sejam infecciosas por todo esse tempo.

    “Outros estudos demonstraram que a capacidade de contágio do vírus diminui ao longo do tempo e atinge o pico em 15 dias”, diz Luiz Fernando Ferraz da Silva, professor da FM-USP e coordenador do estudo.

    Periodontite pode agravar infecção pelo coronavírus

    A detecção do SARS-CoV-2 na gengiva também corrobora a hipótese de que a inflamação do tecido gengival, chamada de periodontite, aumenta o risco de apresentar quadros graves da Covid-19, avaliam os pesquisadores.

    Isso porque pessoas com periodontite têm maior secreção do fluido gengival que compõe a saliva. Além disso, comorbidades como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica, fatores que podem contribuir para um pior prognóstico de Covid-19, estão altamente associadas à doença periodontal.

    “Uma vez que o SARS-CoV-2 infecta o tecido periodontal, a maior secreção de fluido gengival eleva a carga do vírus na saliva”, afirma Matuck.

    Exame confirmou a presença da nova variante do coronavírus
    O exame RT-PCR pode detectar a presença do novo coronavírus por meio de secreções nasofaríngeas
    Foto: Ernesto Carriço/Enquadrar/Estadão Conteúdo

    O estudo também confirma a acurácia de testes de Covid-19 pela saliva, como o desenvolvido no Brasil pelo Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH-CEL) e o Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID), financiado pela FAPESP.

    “Da mesma forma que o exame de RT-PCR é importante porque detecta o vírus em secreções nasofaríngeas, o SARS-CoV-2 também pode ser detectado com muita precisão na saliva porque há carga viral sustentada nesse fluido em pacientes infectados”, afirma Silva.

    O próximo passo dos pesquisadores é analisar a carga viral do SARS-CoV-2 no tecido periodontal de pessoas com Covid-19 assintomáticas ou com sintomas leves da doença para avaliar se a resposta nessas células é diferente em comparação com as de pacientes em estado grave.

    Atualmente, eles estudam os receptores de entrada do SARS-CoV-2 na cavidade bucal.