‘Novas cepas já substituem completamente as antigas linhagens’, diz virologista
Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, afirma que o Brasil vive praticamente "uma outra pandemia"
Uma variante do coronavírus foi identificada na última quarta-feira (31), em Sorocaba, interior de São Paulo. Os estudos preliminares mostram que o material é semelhante à variante sul-africana. Segundo o virologista e professor da Universidade Feevale do Rio Grande do Sul, Fernando Spilki, as variantes já representam a maioria dos casos de Covid-19 em alguns locais do Brasil.
“Hoje, com a P1, ao estudarmos esta variante em termos numéricos, a gente tem visto que estamos vivendo praticamente uma outra pandemia. A P1 vem substituindo completamente as linhagens antigas na maioria dos estados em que analisamos. Agora, nós vamos ter que ver a campo como será a competição entre estas outras variantes”, afirma.
Spilki explica que laboratórios de universidades têm utilizado um exame semelhante ao PCR, chamado de “PCR diferencial”, que já é capaz de especificar se o vírus que o indivíduo está infectado é de uma das variantes já conhecidas.
“Para a descoberta de novas variantes precisamos de sequenciamento, mas este PCR diferencial tem encontrado dados muito interessantes, como este de que hoje, praticamente, já não encontramos linhagens mais antigas em algumas regiões brasileiras”. As mais encontradas, segundo ele, são a de Manaus (P1) e a variante inglesa.
Fernando Spilki comentou que há uma atenção muito grande dos outros países em relação ao Brasil, especialmente em relação à P1.
“Estamos consolidando parcerias com outros países, como a Inglaterra que faz um trabalho muito bem feito, e cruzando os dados que a gente acha no nosso sequenciamento para entender o que isso quer dizer do ponto de vista epidemiológico”, explica o professor.
Um dos resultados que eles encontraram é que a P1 e a inglesa levam mais tempo para completar seus ciclos. Além disso, os dados demonstram que o índice de internação é de duas a três vezes maior entre os jovens em relação às linhagens anteriores.
“A ciência encontra os achados e já começa a apresentar soluções. Já estamos estudando como podemos abreviar este ciclo e como vai se desenvolver em cada região. A partir daí, já podemos oferecer informações mais precisas para a população e aos parceiros internacionais, além de maneiras deles poderem nos ajudar no enfrentamento desta crise”.