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    Brasil poderá poupar até 485 mil vidas se optar por quarentena total

    Modelo matemático da Imperial College simula o impacto das medidas nos sistemas de saúde em cenários de não intervenção, mitigação e supressão da epidemia

    Cecília do Lago , Da CNN, em São Paulo

    Se agir de maneira rápida e eficaz ao aplicar as medidas mais radicais de supressão da epidemia do novo coronavírus, o Brasil poderia salvar até 485 mil vidas, segundo um estudo publicado na última quinta-feira (26) por mais de 40 cientistas da força-tarefa de combate à COVID-19 do Imperial College de Londres.

    Já o presidente Jair Bolsonaro defende o isolamento vertical, ou seja, a quarentena parcial aplicada somente aos grupos de risco. Caso seguisse somente a estratégia de mitigação defendida pelo presidente, até final de 2020, simula o modelo matemático, o Brasil poderia chegar a 529 mil mortes relacionadas à insuficiência respiratória da COVID-19 e 120 milhões de infectados pelo novo coronavírus. 

    O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a comentar um número semelhante de infectados em uma coletiva de imprensa, quando afirmou que ao infectar metade da população, o vírus começaria a perder velocidade de transmissão. 

    Entretanto, se adotar antecipadamente medidas mais drásticas, como o distanciamento social para toda a população e a quarentena geral, as mortes ao final do ano ficam estimadas em 44 mil pessoas, com 250 mil internações, 57 mil doentes em estado crítico e 11 milhões de infectados. No pico da epidemia, seriam necessários 15 mil leitos de UTI para abarcar os casos graves de COVID-19. Esse é o melhor cenário brasileiro simulado pelo modelo matemático dos pesquisadores e o único em que o pico da doença não atinge a total capacidade do nosso sistema de saúde.

    A conclusão do estudo destaca que tomar ações rapidamente, ainda que sejam decisões difíceis para os governos, pode evitar bilhões de infecções e milhões de mortes no mundo inteiro. Os cientistas estimaram que, se nenhum país tivesse tomado medida alguma para combater o coronavírus, a humanidade teria ainda neste ano 7 bilhões de infectados e 40 milhões de mortos. Mas esse simulação aterradora já está descartada pelos pesquisadores do estudo porque todos os 202 países analisados já tomaram alguma medida, com ou sem atraso.

    O trabalho da equipe de cientistas da Imperial College foi criticado após um estudo no dia 16 de março que estimava em até meio milhão de mortos no Reino Unido se nada fosse feito para conter a pandemia, ou seja, se a aposta fosse que a imunidade de rebanho desse conta de impedir o contágio. O trabalho foi crucial para que o primeiro-ministro Boris Jonhson mudasse a estratégia do Reino Unido. As estimativas do estudo anterior estão mantidas pela equipe de especialistas em doenças infecciosas.

    O estudo não estima o impacto que a quarentena causa na economia e na sociedade dos países, somente estima os efeitos sanitários. A metodologia é baseada no comportamento da doença na China e em países ricos e não deve ser considerada uma previsão, apenas uma simulação de impacto dos cenários possíveis. 

    Os cientistas admitem que os países pobres podem sofrer mais duramente os efeitos de uma quarentena prolongada, mas defende ser a medida mais segura até que um tratamento eficiente contra a covid-19 fique disponível ou até que uma vacina seja criada. A OMS acredita que isso possa demorar 18 meses. Alertam ainda que afrouxar as medidas de supressão pode levar a uma segunda onda epidêmica, trazendo de volta a sobrecarga generalizada ao sistema de saúde.

    Os números de mortos e infectados em países pobres pode ser ainda mais altos do que as estimativas, caso esses países adotem apenas medidas de mitigação, como isolar somente os grupos de risco, como defendeu o presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento na última terça-feira, em rede nacional.

    Nos cenários em que os países apenas aplicam medidas de mitigação, seus sistemas de saúde ficam sobrecarregados muitas vezes além de sua capacidade em todos os 202 países analisados. O único cenário para o Brasil em que a epidemia fica administrável, ou seja, abaixo do limite da capacidade, é o de supressão mais drástica da epidemia aplicada mais cedo.