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    Hospitais de SP têm falta de profissionais de saúde para UTIs, dizem médicos

    Instituições públicas e privadas buscam especialistas em atendimento em terapia intensiva para pacientes com Covid-19 e outras doenças

    Fernanda Colavitti, da CNN, em São Paulo

    A falta de leitos nas unidades de terapia intensiva (UTIs) para atender o número crescente de pacientes com quadros de Covid-19 não é o único problema grave enfrentado pelos hospitais.

    Médicos de instituições públicas e privadas de São Paulo ouvidos pela CNN também relatam preocupação com a escassez de profissionais de saúde qualificados para atuar nas UTIs e contaram que estão reorganizando suas estruturas diariamente para lidar com o iminente colapso.

    O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, ligado à rede pública de saúde de São Paulo e referência na área, vem trabalhando no limite desde janeiro, segundo Jaques Sztajnbok, chefe da UTI do hospital. “Estamos com 100% de ocupação nos leitos de UTI, principalmente para pacientes de Covid-19. Hoje temos 50 leitos, a maioria para Covid-19, e serão abertos mais 10 leitos em espaços da enfermaria”, afirma.

    Sztajnbok relata a crescente dificuldade para conseguir profissionais qualificados que atuem à frente dessa situação emergencial. “Estamos clamando por concurso público para preencher vagas na UTI do Emílio Ribas faz um ano. Mas não temos resposta do governo do Estado”, afirma Sztajnbok. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que no Instituto de Infectologia Emílio Ribas foram contratados 194 novos profissionais para expansão de leitos e atendimento aos casos graves de Covid-19 e que o número de médicos passou de 300 para 347, sendo que os 47 novos contratados foram exclusivamente para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

    Para entender a gravidade da situação, é preciso olhar as duas pontas da fila: a quantidade de leitos ocupados e a de pacientes que estão solicitando vagas. O Emílio Ribas já chegou a ter uma fila de 1.300 solicitações de vagas gerais. “Se 40% desses pacientes precisarem de UTI, são mais de 500 solicitações de vagas. Ou seja, disponibilizamos um leito, mas temos mais de 500 pacientes precisando dele. Para mim, isso já é um colapso.”

    Sztajnbok diz que há um limite para o quanto se pode expandir a rede hospitalar. “Quando se fala em criar leitos de terapia intensiva, eu pergunto: ‘quem é que vai trabalhar nesses leitos?’ Apenas criar leitos não resolve o problema na ponta”, finaliza.

    Leitos de UTI em hospital de Jundiaí, em São Paulo
    Leitos de UTI em hospital de Jundiaí, em São Paulo
    Foto: Divulgação/Prefeitura Municipal de Jundiaí

    A alta demanda por profissionais de saúde qualificados para trabalhar em UTIs por conta da pandemia ficou evidente ainda em 2020. De acordo com um levantamento do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), realizado no ano passado, o déficit de enfermeiros e técnicos de enfermagem especializados em UTI estava em torno de 17 mil no país.

    Reestruturação constante

    A situação na rede privada não é diferente. A falta de profissionais qualificados para atuar nas unidades de terapia intensiva é o ponto mais crítico também no Hospital Albert Einstein, segundo Claudia Laselva, diretora de operações e práticas assistenciais. “Estamos com dificuldade de encontrar profissionais prontos. Os que têm experiência em UTI estão empregados. Muitas vezes, com mais de um emprego, por conta dessa necessidade simultânea em todos os hospitais”, afirma.

    Neste mês de março, o Einstein vem trabalhando com ocupação média em torno de 93% nos leitos de UTI e, nos últimos três dias, essa taxa ultrapassou os 100%. “Antes da pandemia, entre leitos intensivos e semi-intensivos, trabalhávamos com aproximadamente 135 vagas. Hoje, estamos com 226 leitos destinados a UTI e semi-intensivo para pacientes Covid e não Covid”, afirma Laselva.

    Isso foi possível devido a uma reestruturação dos espaços internos. Áreas do hospital que anteriormente eram destinadas a atividades ambulatoriais, como imunização e quimioterapia, foram transformadas em leitos, por exemplo. A mesma medida vem sendo tomada no centro de reabilitação e no espaço onde aconteciam treinamentos de profissionais. “Temos uma flexibilidade muito grande para transformar leitos de clínica-médica em leitos de UTI. A maior dificuldade é mesmo encontrar profissionais para atuarem nessas unidades”, conclui. 

    Mais jovens e mais tempo internados

    O Hospital Sírio-Libanês também está enfrentando problemas semelhantes. De acordo com Luiz Francisco Cardoso, superintendente de pacientes internados e práticas assistenciais do hospital, a taxa de ocupação desses leitos tem variado entre 95% e 100% na instituição.

    De acordo com o boletim divulgado pelo hospital, na sexta-feira (12), na unidade de São Paulo, havia 219 pacientes internados com quadro de Covid e 63 estavam na UTI.

    A maior demanda, segundo Cardoso, é por enfermeiros, fisioterapeutas e médicos, postos que exigem muita especialização, treinamento e experiência. “O mercado de colaboradores da saúde já é muito escasso normalmente. Agora, está ainda mais difícil. Aqui no Sírio temos várias vagas abertas aguardando candidatos”, afirma.

    São 16 vagas abertas para técnicos de enfermagem intensivistas, 7 vagas para enfermeiros intensivistas em São Paulo e uma vaga para enfermeiro intensivista em Brasília. Entre janeiro e fevereiro, houve a contratação de 700 profissionais entre Brasília e São Paulo. Desses, 10 eram médicos intensivistas.

    Parte desse gargalo é atribuída ao aumento no tempo de internação nas UTIs. Segundo o especialista, os pacientes com Covid-19 costumam ficar de 10 a 12 dias na UTI, enquanto pacientes com H1N1, por exemplo, ficavam internados 3 dias, em média. “Isso faz com que a rotatividade de leitos seja menor e a necessidade dessas vagas, maior”, conclui.

    Outro ponto que sobrecarrega as unidades de terapia intensiva é a diminuição da idade dos pacientes com Covid-19. “Os pacientes mais jovens são mais resistentes e permanecem internados por mais tempo”, afirma Pedro Mathiasi, superintendente de Qualidade e Segurança do Hcor. “Além disso, no início da pandemia a gente trabalhava com hospital vazio, as pessoas tinham medo de vir se consultar. Hoje, os hospitais estão cheios de pacientes com outras patologias também”.

    No Hcor, a taxa de internações em vagas de apartamentos e UTI dedicadas exclusivamente a pacientes com Covid-19 era de 97% na sexta-feira (12). “A nossa gestão na crise do Covid é dia a dia, e não raro, turno a turno”, afirma o infectologista.

    O infectologista diz que para conseguir atender à demanda crescente o hospital vem fazendo uma reorganização dos leitos, de modo a aumentar a disponibilidade para a área de pacientes com Covid-19, e tentando garantir o número de profissionais aptos a fazer esse atendimento. “Respirador e oxigênio são essenciais, mas gente para cuidar é mais essencial ainda, e esse recurso está cada vez mais escasso”, afirma.

    Vaga no WhatsApp

    Para suprir a falta de profissionais, a Prevent Sênior está recrutando médicos de outras unidades da federação para atuar no cuidado dos pacientes Covid e não Covid nos leitos normais e de UTI de sua rede própria de hospitais na capital e na grande São Paulo. Na mensagem de recrutamento que está sendo compartilhado em grupos de WhatsApp, a empresa se compromete a custear transporte e hospedagem dos interessados e a pagar R$ 2,2 mil por plantão.

    Em comunicado à imprensa na sexta-feira (12), a instituição informou que, até o momento, há 1.200 novos profissionais em processo de credenciamento, aumento de 25% em seu quadro de médicos. E que estão em vias de contratação mais 400 profissionais de saúde nas áreas de enfermagem e fisioterapia, o que totaliza 1.600 novos colaboradores.

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