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    Vírus inativado, eficácia desconhecida e duas doses: o que se sabe sobre Covaxin

    Apesar de acordo para compra de 20 milhões de doses, vacina indiana ainda tem pendências antes de ser utilizada no Brasil

    Anna Gabriela Costa e Guilherme Venaglia, da CNN, em São Paulo

    O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (25) a assinatura de contrato para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, vacina que é desenvolvida na Índia pela Bharat Biotech. No Brasil, o laboratório indiano tem parceria com a farmacêutica Precisa Medicamentos.

    Apesar do acerto anunciado pelo governo, a vacina ainda não foi aprovada para registro nem para uso emergencial no Brasil.

    O processo de admissão do imunizante está em suas etapas iniciais, com a visita da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para conhecer a fábrica da Precisa prevista para a próxima semana. A taxa de eficácia geral da Covaxin ainda não foi divulgada.

    A vacina

    A Covaxin é uma vacina para o combate ao Sars-CoV-2, o novo coronavírus causador da Covid-19, de duas doses. O imunizante é produzido a partir de vírus inativado.

    O desenvolvimento da vacina em colaboração com o Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR) e o Instituto Nacional de Virologia (NIV). A produção ainda tem apoio da Fundação Bill & Melinda Gates. 

    Segundo os fabricantes, o laboratório possui capacidade instalada de produção de 300 milhões de doses anuais.

    Entre as vantagens do imunizante está a conservação, já que pode ser armazenada em temperaturas que variam de 2ºC a 8ºC. Além disso, de acordo com a Bharat Biotech, a vacina se mostrou eficaz em testes contra a nova variante britânica do vírus.

    Resultados apresentados

    A Covaxin foi avaliada em ensaios clínicos nas fases 1 e 2, com resultados promissores de segurança e resposta imunológica, informou o laboratório à CNN.

    “O desenvolvimento do produto e os dados dos ensaios clínicos obtidos até agora geraram cinco artigos científicos*, que foram submetidos a revistas internacionais e revisados por pesquisadores independentes”, afirma a Bharat Biotech.

    A primeira fase de testes da vacina apresentou resultados de segurança e resposta imunológica dentro do esperado, de acordo com um estudo publicado em 21 de janeiro pela revista londrina The Lancet, referência em publicações científicas no mundo. 

    Uso emergencial na Índia

    A publicação dos dados da fase 2 dos ensaios clínicos está sendo submetida ao processo de revisão por pesquisadores independentes. No entanto, segundo o laboratório responsável pela Covaxin, “os resultados até agora divulgados nos permitem manter o mais elevado grau de certeza na eficácia do imunizante”.

    Após a apresentação desses resultados, em 3 de janeiro a Covaxin foi recomendada para uso restrito em situação de emergência por um painel nomeado pelo governo indiano, que submeteu suas descobertas ao Drugs Controller General of India, a Anvisa do país.

    Desde então, a Índia ampliou o uso da Covaxin em seu programa de imunização em massa, que teve início em 16 de janeiro e aplicou 5 milhões de doses da vacina em profissionais da área da saúde, segundo a Precisa Medicamentos.

    Em que fase estão os testes?

    Os ensaios clínicos de fase 3 da Covaxin começaram em meados de novembro de 2020 e estão hoje na reta final, com 26 mil voluntários em toda a Índia.

    A Precisa Medicamentos, representante do laboratório no Brasil, assinou um termo de cooperação científica com o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein para realizar no país os estudos complementares de fase 3 da vacina. Os testes devem ser iniciados imediatamente após o aval da Anvisa..

    O que especialistas dizem sobre a vacina

    A CNN ouviu especialistas sobre o laboratório indiano Bharat Biotech, o histórico de produção de vacinas a baixo custo para países em desenvolvimento e sobre as semelhanças dessa vacina com a chinesa Coronavac, que já é aplicada no país.

    De acordo com o imunologista Eduardo Nolasco, a vacina indiana utiliza o vírus inativado, como a Coronavac, entretanto, possui o acréscimo de uma importante molécula protetora contra o vírus. 

    “Acrescentaram na vacina uma molécula que faz com que a resposta de linfócitos T seja aumentada. É o que a gente chama de resposta celular. É basicamente a formulação dela que difere da Coronavac, principalmente por conta desse indutor da resposta de linfócitos T”, explica.

    “Isso é muito importante porque já foi avaliado que a nossa principal resposta de defesa à Covid-19 é de linfócitos T, então eles acrescentaram essa molécula que vai aumentar a produção dessa resposta, que é importante e protetora, talvez até mais do que a própria produção de anticorpos”, completa.

    O imunologista acrescenta que a Índia já responde por mais de 60% de produção de vacinas no mundo. “A Bharat Biotech participa ativamente dessa produção. Possui inúmeras vacinas conhecidas, como as vacinas contra raiva, coqueluche, mas talvez a mais famosa seja a Rotavac, que é uma vacina contra o rotavírus, que provoca bastante mortes nos países em desenvolvimento”, diz.

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