‘As sociedades têm lideranças que devem dar o exemplo’, diz médico
Professor e epidemiologista Paulo Lotufo também falou sobre o papel dos agentes econômicos no combate à pandemia de Covid-19
As internações por Covid-19 seguem em queda no estado de São Paulo, mas os números ainda são bastante elevados. Mesmo assim, as medidas de restrição estão sendo flexibilizadas em todo o estado, e há o receio de que a o relaxamento possa trazer efeitos negativos para a transmissão do novo coronavírus.
O epidemiologista e professor titular da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Lotufo, questiona a culpabilização dos cidadãos e critica as lideranças políticas pela falta de exemplo no cumprimento nas regras básicas de segurança.
“A gente não pode colocar a culpa no indivíduo. A sociedade tem lideranças que são eleitas periodicamente. São estas lideranças que dão o exemplo. E quando você não tem uma liderança dando o exemplo, fica muito difícil para o cidadão seguir outro tipo de orientação.”
Lotufo falou a respeito do encontro do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com quarenta mulheres empresárias e enfatizou o papel do setor privado no apoio à saúde pública.
“No dia de 400 mil mortes, nós temos uma foto em que o primeiro mandatário do país aparece reunido com 40 mulheres executivas, das quais 30 estavam sem máscara. Todas agrupadas. Isso é um péssimo exemplo e a demonstração de que as empresárias, pessoas de liderança, não estão preocupadas em ter um projeto para o país em termos de conter a pandemia”, critica.
O professor ressalta que o número de mortes em São Paulo ainda é semelhante à março e mais crítico do que julho de 2020, pior momento da pandemia no último ano. Ele acredita, portanto, que é preciso entendimento e apoio dos setores econômicos para que o Brasil consiga, de fato, sair da crise.
“Eu acho que os agentes econômicos precisam colocar a mão na cabeça, no bolso, e pensar que é a hora de parar de brigar com estados, municípios e saúde pública. Eles têm que colaborar e fazer as coisas de uma forma racional.”
Para isso, Lotufo cita como exemplo uma proposta de abertura intercalada das atividades. “Os Shoppings Centers tiveram a ideia de que, em alguns dias, os shoppings abrem, nos outros, as lojas de material de construção, e nos demais dia as academias, de tal forma que dividissem isso”, explica.
(publicado por Fernanda Colavitti)