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    Brasil pode ter 500 mil mortos pela Covid em 4 meses, diz ex-ministro da Saúde

    Ex-ministro da Saúde Arthur Chioro avalia que o ritmo de imunização é lento e incapaz de conter o número de mortes

    Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, durante pandemia da Covid-19
    Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, durante pandemia da Covid-19 Foto: Aguilar Abecassis/Photopress/Estadão Conteúdo (5.mar.2021)

    Flávia Martins e Daniel Adjuto, da CNN, em São Paulo

    Sem medidas de distanciamento e com atraso na vacinação, o Brasil pode chegar a meio milhão de mortes por Covid-19 até julho. Essa é a opinião de Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde e médico sanitarista, em entrevista à CNN. Segundo ele, a projeção leva em conta já o atual ritmo de contaminações e mortes.

    “O ritmo de vacinação está muito lento. Se continuarmos assim e com os números seguindo a tendência dos últimos meses, vamos chegar aos 500 mil mortos em julho”, diz Chioro.

    Para efeitos de comparação, o Brasil demorou um ano para alcançar a marca de 250 mil mortes. Se as contas de Chioro, que comandou a pasta da Saúde entre 2014 e 2015, estiverem certas, o número irá dobrar em apenas 4 meses – menos de metade do tempo.

    Segundo o ex-ministro de Dilma Rousseff, houve uma falta de gestão e políticas públicas por parte do governo federal desde o início da pandemia. Ou seja, os atuais números da Covid-19 no Brasil poderiam ser menores caso o governo tivesse tomado atitudes preventivas quando as primeiras ondas já alcançavam países da Ásia e da Europa.

    “Se o Brasil tivesse aproveitado o tempo que teve enquanto assistia os números da doença aumentarem em outros países como Itália, Espanha e Reino Unido, poderia ter evitado este cenário trágico que estamos vivendo. Tivemos tempo suficiente para aplicar medidas que poderiam ter sido eficazes no combate à doença”, afirma.

    Para corroborar a sua opinião, o ex-ministro, que também é professor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo, relembrou um estudo de março de 2020 da universidade britânica Imperial College, considerada um dos principais locais de estudo da doença.

    Pesquisadores da instituição projetaram números de mortes e casos confirmados para cada país em dois cenários: com medidas preventivas e sem qualquer tipo de ação. No Brasil, o número mínimo de mortes no primeiro cenário teria sido de 44 mil pessoas. Já a projeção máxima aponta 1,1 milhão de mortes.

    Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde
    Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde
    Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

    Correr atrás do prejuízo

    Para o ex-ministro, após mais de um ano do início da pandemia, não há como reverter decisões não tomadas anteriormente. Há, ainda, outros agravantes que pioram a situação. A quantidade de médicos que atua em unidades de atenção básica, por exemplo, não é suficiente para atender toda a demanda que o país enfrenta.

    “A formação de médicos no Brasil é muito focada em especialização, então vemos uma falta de profissionais que poderiam prestar os cuidados básicos, fazer uma triagem assertiva e evitar que o vírus se espalhasse na velocidade que vemos hoje”, disse.

    Chioro sugere uma solução de curto prazo. Segundo ele, é necessário que o governo federal implemente medidas emergenciais para tornar mais profissionais de saúde aptos a trabalhar na atenção básica da linha de frente. Desta maneira, de acordo com ele, ajudaria a reforçar contingente de médicos exaustos que têm tido que lidar com mais de mil vítimas diárias enquanto o país completa um ano da primeira morte pela Covid-19. O Brasil encerrou esta última quarta-feira (10) com 2.286 mortes em 24 horas.