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    O que você precisa saber sobre a variante B.1.617, originária da Índia

    Linhagem é a quarta classificada pela Organização Mundial da Saúde como “variante de preocupação”. Maranhão e Rio de Janeiro têm casos confirmados no país

    Lucas Rocha, da CNN, em São Paulo

    A linhagem B.1.617 do novo coronavírus foi detectada pela primeira vez na Índia em outubro de 2020. A cepa está presente em 66 países, incluindo o Brasil, que teve os primeiros casos confirmados no dia 20 de maio.

    Até o momento, a variante foi detectada no Maranhão e no Rio de Janeiro, sendo o último de um viajante confirmado pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Já os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e Ceará monitoram casos suspeitos, segundo levantamento da CNN.

    O Ministério da Saúde e as secretarias estaduais de saúde informaram que não foram registrados casos de transmissão local da cepa. Governos locais e estaduais estabeleceram medidas para tentar conter a introdução da variante. O Ministério da Saúde avalia a formulação de um plano nacional de barreiras sanitárias.

    Especialistas consultados pela CNN avaliam que as medidas podem não ser suficientes para conter a disseminação da B.1.617 no país. No podcast E Tem Mais, Monalisa Perrone fala sobre os riscos da variante para o Brasil. O episódio conta com a participação do virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul. 

    Embora esteja sendo chamada de “variante indiana”, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não identifica vírus ou variantes com o nome de países, mas sim com termos técnicos, de modo a evitar o estigma sobre uma população.

    O surgimento de uma nova variante do SARS-CoV-2 é motivo de preocupação entre a comunidade científica global, que se desdobra para responder diferentes questões como a possibilidade de ampliação da capacidade de transmissão, de aumento da letalidade e redução da eficácia das vacinas desenvolvidas contra a Covid-19.

    Especialistas explicam o que já se sabe e o que permanece incerto sobre a variante B.1.617.

    Primeiros casos identificados no Brasil

    Os primeiros casos da variante no país foram notificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) à Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão. No dia 16 de maio, equipes do Laboratório Central de Saúde Pública do estado (LACEN) realizaram a coleta de amostras de 23 tripulantes do navio MV Shandong Da Zhi, ancorado na costa de São Luís.

    A identificação foi realizada pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. Os testes revelaram que 15 das 24 amostras foram positivas para o novo coronavírus, sendo três de pacientes que apresentaram sintomas, um deles internado em um hospital privado de São Luís, e 12 de pessoas assintomáticas. 

    Os pesquisadores realizaram o sequenciamento genômico de seis amostras, considerando aquelas que apresentaram maior carga viral. Segundo a virologista Mirleide Cordeiro dos Santos, que coordena o laboratório responsável pela detecção, o mecanismo permite dizer com precisão a origem e a caracterização da linhagem viral com base no perfil genômico. Os resultados mostraram que todas as amostras pertencem à linhagem B.1.617.2, uma sub-linhagem da B.1.617, identificada na Índia.

     

    A quarta variante de preocupação

    A OMS classificou a linhagem B.1.617 como uma “variante de preocupação” (VOC – Variant of Concern, em inglês) há uma semana. Ela é a quarta a receber essa caracterização, junto com as variantes P.1, identificada em Manaus, B.1.1.7, do Reino Unido, e B.1.351 ou 501.V2, da África do Sul.

    A inclusão das cepas nessa classificação considera evidências que incluem o aumento da transmissibilidade, o agravamento da doença, a redução significativa na neutralização por anticorpos produzidos pela infecção ou induzidos pela vacinação, a eficácia reduzida das vacinas ou falhas na detecção pelo diagnóstico.

    Diante de uma variante de preocupação, estratégias de saúde pública específicas podem ser necessárias, como a notificação à OMS e o estabelecimento de medidas locais ou regionais para controlar a disseminação, além do desenvolvimento de novos testes de diagnóstico, mais específicos, e até mesmo a revisão e reformulação de vacinas.

    O que se sabe até o momento sobre o impacto das mutações

    Segundo os especialistas, a variante apresenta pelo menos 18 mutações, sendo nove localizadas na estrutura da proteína spike, ou proteína S, relacionada à entrada do vírus nas células humanas, e outras nove presentes em diferentes regiões do genoma viral. 

    De acordo com a Mirleide Cordeiro, do Instituto Evandro Chagas, pelo menos duas mutações (L452R e T478K) podem estar associadas ao escape da resposta imune do organismo e outra (P681R) poderia favorecer o aumento da capacidade de ligação do vírus com o receptor celular, contribuindo assim para que o vírus seja mais transmissível.

    O pesquisador José Eduardo Levi, do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (USP), destaca que a variante originária da Índia tem uma mutação chamada E484Q que apresenta pontos em comum com uma mutação presente nas outras três variantes de preocupação, identificadas em Manaus, no Reino Unido e na África do Sul.

    “Quando há mutações como essas, o anticorpo não encontra mais o vírus. A consequência é que ele consegue infectar uma pessoa que já tinha anticorpos”, explica Levi.

    Mirlene pondera que os estudos sobre os impactos das mutações são preliminares e que ainda são necessárias investigações complementares que confirmem ou descartem essas hipóteses.

    Variante apresenta maior capacidade de transmissão

    Segundo a OMS, existem evidências de que a linhagem B.1.617 tenha maiores taxas de transmissão. No boletim semanal sobre a Covid-19, a entidade destacou o rápido aumento da prevalência da variante em vários países.

    A Índia enfrenta um dos piores cenários da pandemia, com recordes de casos e mortes diários. A OMS ressalta que o aumento da transmissão no país ainda não é totalmente compreendido e pode ter sido provocado por vários fatores, incluindo o aumento na proporção de casos de variantes com transmissibilidade potencialmente aumentada, aglomerações em eventos religiosos e políticos e baixa adesão a medidas de prevenção.

    Enquanto isso, pesquisadores em todo o mundo realizam estudos para confirmar se há ou não uma maior transmissibilidade. “No momento, podemos pontuar que a variante tenha uma capacidade de transmissão mais acentuada, como as outras variantes de preocupação”, diz Mirleide.

    Não se sabe se a variante é mais agressiva ou mais letal

    Os especialistas afirmam que ainda não existem evidências sobre o impacto da variante na evolução da infecção para casos mais graves ou no número de mortes. “Estudos estão sendo realizados para identificar as características e o real impacto dela, principalmente nessa questão da severidade da doença”, diz Mirleide.

    Impactos para a eficácia das vacinas ainda são incertos

    O surgimento de uma nova variante de preocupação vem acompanhado da dúvida sobre o impacto da linhagem sobre a eficácia das vacinas. Segundo os pesquisadores, não existem dados consistentes até o momento que indiquem que a variante identificada na Índia reduza a capacidade de proteção dos imunizantes.

    Estudos publicados em formato preprint, que ainda não foram submetidos à revisão por pares, indicam que as vacinas da Pfizer e da Moderna são eficazes no bloqueio da variante. As pesquisas foram destaque de um artigo da revista científica Nature.

    “Alguns estudos apontam que ainda há uma resposta por parte das vacinas em relação à variante. Por conta desses ensaios preliminares, a OMS segue incentivando que seja feita a vacinação, independentemente da vacina que cada país tenha adotado. Ainda é uma das melhores formas de proteção disponíveis”, afirma Mirleide. 

    Medidas de vigilância são necessárias para conter a nova variante

    Os especialistas explicam que a forma mais eficiente de conter a dispersão da nova variante pelo Brasil é pelo isolamento e cuidado dos infectados e rastreio dos contatos, ou seja, pessoas que estiveram próximas e que podem ter sido infectadas. 

    A Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão informou que os 23 tripulantes permanecem em quarentena, isolados em cabines individuais na embarcação. Em relação às medidas de vigilância dos contactantes do hospital privado, onde está o único tripulante internado, a secretaria afirma que iniciou a testagem e realiza monitoramento de todos os profissionais que tiveram contato com o paciente. O monitoramento é realizado em parceria com o Ministério da Saúde e a Anvisa. 

    “O teste é feito para verificar se estão infectados ou não. Todas as pessoas que têm contato com elas também estão sendo monitoradas e podem ser colocadas em isolamento”, explica Mirleide. 

    Reforço nas estratégias de prevenção

    A pesquisadora do Instituto Evandro Chagas destaca que as estratégias de prevenção contra a Covid-19 são eficazes contra todas as variantes, incluindo a cepa identificada na Índia. 

    “O que deve ser feito nesse momento, independentemente da linhagem que está circulando, é fortalecer as medidas de proteção. Fazer o uso da máscara, higienização das mãos, manter o distanciamento sociale ampliar a vacinação. Assim, conseguimos também minimizar a transmissibilidade viral como um todo. Ao criarmos barreiras de contenção, acabamos impactando na redução da severidade, da ocorrência de reinfecções e das taxas de hospitalização”, concluiu.

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