Dólar inverte sinal e fecha sessão em quase R$ 5; entenda os motivos
Pressões internacionais e domésticas deram novo fôlego à divisa norte-americana
Após um dia instável, o dólar fechou a terça-feira (26) em alta de 0,46% a R$ 4,989. A moeda começou a sessão no campo negativo, mas inverteu o sinal e passou a subir à tarde e meio às pressões globais e domésticas.
Para a economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, a virada se deu principalmente pela alta dos juros dos treasuries, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Pela manhã, os rendimentos dos papéis subiam, ainda em meio ao processo de ajustes de posições de investidores à perspectiva de que a política monetária nos EUA seguirá restritiva.
Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) manteve os juros em 5,25% e 5,5%, mas deixou a porta aberta para novo aumento da taxa ainda neste ano.
“Além disso, há mais outros dois fatores que podem ter trazido a aversão ao risco no mercado na parte da tarde. Um deles é a preocupação com aumento no preço do petróleo, por conta de problemas envolvendo a Rússia, e também uma preocupação com a desaceleração da economia chinesa”, afirma.
Também citando a pressão dos papéis do Tesouro dos EUA, Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, destaca que o dólar sobe ante as demais moedas globais, e que a divisa brasileira ainda apresenta uma das menores desvalorizações.
“Com a valorização dos treasuries, os investidores tendem a buscar esses prêmios maiores em ativos de baixo risco, como é o caso dos títulos de dívida emitidos pelos Estados Unidos e, com isso, o dólar tende a se valorizar em todo o mundo”, pontua.
“O DXY, que é uma espécie de índice que compara o dólar com uma cesta de moedas, se valorizou 3% no último mês”.
No mercado de commodities, os preços do petróleo fecharam em alta, com o barril do WTI de volta à marca psicológica dos US$ 90.
A perspectiva de aperto na oferta, em meio à extensão dos cortes da Arábia Saudita e Rússia, parece se sobrepor aos temores globais com o nível elevado de taxas de juros, que poderiam levantar preocupações sobre a demanda.
O contrato do WTI para novembro fechou com ganho de 0,79% (US$ 0,71), a US$ 90,39 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para dezembro subiu 0,72% (US$ 0,67), a US$ 93,96 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).
Para Marcio Riauba, gerente da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio, a aversão a riscos também pode ser atrelada à crise no setor imobiliário da China.
“Isso impacta até a questão do minério de ferro, que acaba demandando por Brasil na questão da Vale, onde acaba puxando para baixo até as bolsas”, avalia.
Riauba cita também o resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) como motivo da instabilidade da moeda americana. “Isso acaba levando também um sinalzinho de desconforto para o Banco Central”, acrescenta.
A prévia da inflação subiu 0,35% em setembro, após apresentar alta de 0,28% no mês anterior.
Ainda na pauta doméstica, próximo ao fim da sessão, a cena política também pesou após relator da reforma tributária no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), afirmar que é “impossível” entregar a análise do texto na próxima semana.
*Publicado por Amanda Sampaio, da CNN. Com informações da Agência Estado e Reuters.