Demora em resultados de testes prejudica contenção do COVID-19, diz governo
Boletim do Ministério da Saúde diz que capacidade de processar exames é "notadamente insuficiente para o controle da epidemia" no Brasil
A demora entre a coleta de exames para o diagnóstico de COVID-19 e a liberação do resultado dos testes está prejudicando a contenção da pandemia do novo coronavírus no país, já que possíveis infectados não ficam em isolamento, diz documento do Ministério da Saúde divulgado na noite de sábado (18).
Segundo o 12º boletim epidemiológico do ministério sobre a COVID-19, a capacidade de processamento de exames por parte dos 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen), um em cada unidade da federação, é insuficiente para o controle da disseminação da doença. O mesmo boletim traz uma série de medidas que o governo busca tomar para ampliar esta capacidade, como o uso de laboratórios de polícias e da Embrapa, além de uma parceria público-privada.
O reconhecimento destas limitações vem em um momento de incerteza sobre quando o país enfrentará o período mais crítico da COVID-19. Uma previsão dada pelo Ministério da Saúde na terça-feira (14) à CNN dizia que o pico virá entre maio e agosto. Na quinta-feira (16), no entanto, Nelson Teich assumiu o comando da pasta e disse à TV Bandeirantes que “está mentindo” quem disser que sabe quando virá o pico da doença.
De acordo com números divulgados neste domingo (19) pelo Ministério da Saúde, o Brasil chegou a 2.462 mortes por COVID-19 e 38.654 casos confirmados da doença. O número de vítimas dobrou em uma semana e, devido às dificuldades na testagem, a quantidade real de casos tende a ser maior.
Limitações
No boletim epidemiológico de sábado, o Ministério da Saúde diz que, apesar do uso dos Lacen, há uma “limitação da capacidade de processamento diária, visto que apenas 10% destes conta com métodos automatizados para a extração do material genético e demais etapas de processamento da metodologia de RT-qPCR”.
“Esse fato restringe a capacidade instalada para aproximadamente 2 a 3 mil exames diários no país, notadamente insuficiente para o controle da epidemia em um país com a população acima de 200 milhões de habitantes, com dificuldades logísticas e de acesso”, reconhece o ministério.
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O governo ressalta que “devido a essas dificuldades, o grande tempo decorrido entre a coleta da amostra, processamento e liberação do resultado implica na perda da oportunidade de isolamento e, consequentemente, no aumento do número de comunicantes e prováveis novos infectados por caso confirmado.”
No boletim epidemiológico 7, datado de 6 de abril, o Ministério da Saúde estimou que “pra o momento mais crítico da emergência, será necessária uma ampliação para realização de 30 a 50 mil testes de RT-PCR por dia.”
Segundo informações disponíveis no site do ministério, os testes RT-PCR identificam o vírus da COVID-19 logo no início dos sintomas — ou seja, no período em que ainda está agindo no organismo — e são usados para diagnosticar casos graves.
Medidas
O mesmo boletim de sábado traz uma série de medidas que o Ministério da Saúde pretende tomar para ampliar a capacidade de testagem no país, e uma delas coincide com a previsão de que será necessário processar pelo menos 30 mil testes durante o período mais crítico da pandemia.
Segundo o documento, “encontra-se em desenvolvimento uma proposta de Parceria Público-Privada (PPP), na qual está prevista a preparação de um Núcleo Técnico Operacional (NTO) com a capacidade de processamento de até 30.000 testes/dia por metodologia RT-PCR, com a utilização de equipamentos em comodato e insumos fornecidos pelo Ministério da Saúde, bem como a coleta das amostras, o processamento e a laudagem de exames para a COVID-19.”
A proposta tem como alvo inicial capitais, regiões metropolitanas e cidades com mais de 500 mil habitantes. O ministério estima que, desta forma, os resultados estejam disponíveis em até quatro dias após a coleta do exame.
O Ministério da Saúde também diz que quer aproveitar da rede nacional de laboratórios voltados para a identificação da carga viral de HIV e hepatite B e C. Isso poderia ampliar a quantidade de laboratórios disponíveis para 102, no lugar dos atuais 27.
Outra possibilidade, diz o ministério, é o uso de máquinas da rede de teste rápido para tuberculose, que são 250 distribuídas em 200 laboratórios brasileiros.
O Ministério da Saúde também diz no boletim que tem feito parcerias com laboratórios vinculados a outras pastas, como Agricultura, Justiça e Defesa. “Da mesma forma, deve-se explorar outras possibilidades de colaboração com laboratórios municipais, da Fiocruz, Institutos, Universidades, Hospitais Universitários e outros que possam apoiar na resposta dessa epidemia, constituindo assim uma rede de colaboração de laboratórios para diagnóstico da COVID-19 no âmbito estadual e municipal”, afirma o documento.