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    A melatonina é segura para crianças? Saiba o que dizem os especialistas

    As pessoas se acostumaram a pensar que a melatonina é um suplemento, mas trata-se de um hormônio que precisa ser ministrado com cautela e em casos especiais

    Sandee LaMotte, da CNN

    A melatonina é um remédio para dormir, encontrada facilmente e bastante popular, usada por milhões de pessoas em todo o mundo. Ela é apresentada como uma forma natural para os adultos terem um boa noite de sono. Diante de tudo isso, por que não seria boa para as crianças?

    “Há uma visão de que ela é natural e não pode fazer mal”, disse Rebecca Robbins, uma cientista associada do Brigham and Women’s Hospital, em Boston, Estados Unidos, instituição que estuda o sono.

    “A verdade é que não sabemos as implicações da melatonina a longo prazo, para adultos ou crianças”, disse ela.

    “As pessoas pensam que a melatonina é uma erva ou suplemento, mas é um hormônio”, disse Cora Collette Breuner, professora do departamento de pediatria do Hospital Infantil de Seattle, da Universidade de Washington.

    “Tomá-la retarda a puberdade? Retarda o início do período menstrual ou faz com que aconteça mais cedo? Afeta alguém que tem doenças relacionadas aos hormônios, como doenças da tireoide? Afeta alguma outra coisa relacionada aos hormônios, como insulina e diabetes? Ainda não existe um veredito”, disse Breuner.

    O que é melatonina?

    A melatonina é secretada pela glândula pineal, localizada nas profundezas do cérebro, e liberada na corrente sanguínea. Os níveis de melatonina regulam o ciclo sono-vigília ou ritmo circadiano, que ajusta o funcionamento do corpo para o dia e para a noite.

    Desencadeada pela escuridão, a produção de melatonina é interrompida pela luz. Esse é um dos motivos pelos quais os especialistas em sono recomendam evitar a luz antes de dormir e durante a noite, incluindo a azul, que é emitida por smartphones e laptops.

    A pesquisa mostra que a melatonina é mais usada para tratar a latência do sono, que é a quantidade de tempo que uma pessoa leva para adormecer, disse Breuner. O medicamento é frequentemente usado para combater a dificuldade de adaptação por conta da mudança de fuso horário, o chamado jet lag.

    Trabalhadores de turnos noturnos, que precisam adiar a hora de dormir, também usaram a melatonina com sucesso, de acordo com um estudo de 2018, mas em conjunto com terapia comportamental.

    Quando se trata de uso do medicamento em crianças, “estudos recentes indicaram que os efeitos da melatonina variam de criança para criança devido a diferentes distúrbios do sono e variabilidade nos ritmos circadianos”, disse Breuner.

    Em seis ensaios clínicos randomizados sobre o tratamento com melatonina na população infantil, a melatonina diminuiu o tempo que a criação leva para adormecer, variando entre 11 e 51 minutos, afirmou a especialista.

    “No entanto, esses estudos foram pequenos e com resultados muito variáveis”, destacou Breuner. “Então, eu pergunto aos pais: ‘Vocês realmente estão querendo diminuir em 11 minutos o tempo que seu filho leva para adormecer?’”

    “Também digo às famílias que isso não é algo que seu filho deveria tomar para sempre. Ninguém sabe quais são os efeitos de longo prazo disso no crescimento e desenvolvimento de seu filho”, acrescentou Breuner.

    Efeitos desconhecidos da melatonina

    O uso de melatonina parece “ser seguro para a maioria das crianças para uso de curto prazo”, de acordo com o Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa (NCCIH) na sigla em inglês), um departamento do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.

    Mas a agência também aponta que “há incertezas sobre qual dose usar e quando administrá-la, os efeitos do uso da melatonina por longos períodos de tempo e se os benefícios da melatonina superam seus possíveis riscos”.

    Os efeitos colaterais documentados em crianças incluem sonolência, dores de cabeça, agitação e aumento da urina ou enurese diurna, o conhecido xixi na cama. Também existe o risco de a melatonina interagir de maneira prejudicial com medicamentos às vezes prescritos para reações alérgicas em crianças.

    A agência também alerta que o suplemento pode afetar o desenvolvimento hormonal, “incluindo a puberdade, os ciclos menstruais e a superprodução do hormônio prolactina”, que causa o desenvolvimento das mamas e do leite nas mulheres.

    Sem controle de qualidade

    Como a melatonina é vendida como suplemento alimentar e não como medicamento nos Estados Unidos, os fabricantes de melatonina não estão sujeitos ao escrutínio das medidas de segurança e do processo de aprovação da FDA (Food and Drug Administration, equivalente à Anvisa).

    “Alguns suplementos de melatonina podem não conter o que está listado no rótulo do produto”, avisa o NCCIH. A agência aponta para um estudo de 2017 que descobriu que a maioria dos 31 suplementos diferentes de melatonina comprados em supermercados e farmácias e testados continham níveis de melatonina que não correspondiam à descrição do frasco.

    As concentrações reais de melatonina em suas versões líquida, em cápsulas ou comprimidos para mastigar variaram de 83% a menos que o indicado pelo rótulo a 478% a mais, descobriu o estudo.

    “Além disso, 26% dos suplementos continham serotonina, um hormônio que pode ter efeitos prejudiciais mesmo em níveis relativamente baixos”, disse o NCCIH.

    Se você está procurando pelo medicamento, “a melatonina de qualidade farmacêutica é o melhor caminho”, disse Breuner. “Tem a pureza mais elevada e passa por maior escrutínio.” Nos Estados Unidos, a melatonina farmacêutica tem um selo mostrando que o produto foi testado pelo Programa de Verificação de Suplementos Alimentares.

    Qual é a dosagem certa?

    Mesmo quando feita e embalada corretamente, no entanto, a melatonina é vendida em níveis que excedem em muito a quantidade necessária para induzir o sono, disse Breuner.

    Nos estudos originais do final dos anos 1980, a melatonina induzia com sucesso o sono quando ministrada em dosagens entre “0,5 a 1,0 miligramas diários à noite”, em vez dos 5 a 200 miligramas que podem ser comprados atualmente em lojas ou na internet.

    Hoje, os estudos estão sendo feitos usando “microgramas, não 5 miligramas, mas 5 mil microgramas”, disse Breuner.

    “Os Estados Unidos têm um tipo de cultura do tipo ‘quanto mais, melhor’, mas a melatonina não deve ser usada dessa forma. Uma pequena dose é bastante potente”, disse Robbins.

    Consulte um pediatra

    A falta de conhecimento sobre a dosagem adequada, pureza e efeitos colaterais, disse Breuner, são os principais motivos pelos quais os pais não devem dar melatonina a seus filhos sem o consentimento e a orientação de um pediatra.

    Outro motivo é o tempo usando o medicamento. Muitas pessoas tomam melatonina ou dão aos filhos antes de dormir. Mas para fazer funcionar, você deve dar à criança “pelo menos duas horas antes de querer que ela adormeça, não imediatamente antes de dormir”, disse ela. Isso permite que o hormônio seja absorvido e desencadeie a sonolência.

    Desencadear o sono é a chave. A maior dificuldade identificada pelos pais em seus filhos pode ser resolvida com o que Breuner chama de uma adequada “higiene do sono”.

    Retirar smartphones, tablets, laptops e televisão que emitem luz azul pelo menos duas horas antes de dormir manterá a produção de melatonina funcionando, assim como ler ou ouvir histórias para dormir em um quarto suavemente iluminado, tomar um banho quente ou fazer alongamentos leves.

    Se feitas na maioria das noites, essas ações “acionam” o cérebro para esperar a hora de dormir, fazendo assim uma transição suave para o sono.

    Breuner pede a todos os pais que tirem a melatonina de seus filhos a cada três ou seis meses por um período de seis semanas para ter certeza de que o corpo da criança ainda está produzindo melatonina. Ela chama isso de período de “lavagem”.

    “Eles sempre olham para mim como se eu fosse louca”, disse Beuner. “Eu digo a eles: ‘Realmente preciso que você tente fazer um período de lavagem, quando a criança não usará (o medicamento) por seis semanas’.”

    “Uma das coisas que descobri é que, em 75% dos casos em que isso é feito, os pais nunca mais precisaram dar melatonina para a criança, e elas ficaram realmente bem sem ela”, disse.

    Crianças que realmente precisam de melatonina

    Existe um percentual de crianças para as quais a melatonina é uma bênção, disse Breuner. Especialmente para crianças com diagnóstico de autismo.

    “As crianças que apresentam esse quadro têm muita dificuldade em dormir ou permanecer dormindo”, disse ela, acrescentando que muitos estudos descobriram que adicionar doses de seis a dez miligramas à noite pode ser “muito útil.”

    “Para aquelas crianças em minha clínica que foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista eu nem mandei essas crianças fazerem um período de lavagem”, disse Breuner. “Essas famílias dizem: ‘Por favor, não faça isso. Isso é a única coisa que impede meu filho de vagar pela casa à noite’.”

    Outro grupo de crianças que pode se beneficiar da melatonina, disse Breuner, é aquele com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), que tomam estimulantes para ajudar nas atividades escolares durante o dia.

    “Elas podem sentir o efeito do estimulante à noite, e é muito difícil para a criança se acalmar”, disse ela. “Ou o remédio acabou e elas não conseguem se concentrar e se organizar o suficiente para dormir. Então, os pais estão pedindo melatonina para ajudar seus filhos a se concentrar e organizar sua rotina de higiene do sono.”

    A lição final para os pais

    “Não faça o que não é recomendado ao começar a usar o remédio sem falar com o pediatra sobre isso primeiro”, disse Breuner. “Você precisa ter certeza de que a melatonina – ou qualquer sonífero – não interfere em outro medicamento que a criança está tomando, como esteroides para asma.

    “E, por favor, dê ao seu filho uma pausa a cada três ou seis meses para ver se ele fica bem sem qualquer medicamento, junto com alguns abraços, canções de ninar e higiene do sono adequada.”

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)

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