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    Recuperação do coronavírus pode durar três meses após alta hospitalar

    Pacientes que ficaram internados em estado grave convivem com órgãos ainda em processo de recuperação, mesmo em casa, e análise de sequelas permanentes

    Carla Bridi , Da CNN, em São Paulo

    Mãos trêmulas, respiração ofegante e fraqueza corporal. Essa é a primeira visão que se tem do arquiteto e músico Nelson Coelho, quatro dias depois de receber alta hospitalar. Aos 60 anos e sem comorbidades, ele testou positivo para o Covid-19 ainda no mês de março e ficou internado por 46 dias em dois hospitais da cidade de São Paulo, a maioria do período na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

    A primeira consulta depois da alta foi agendada com o médico que o acompanhou durante todo o período de internação. “A tomografia do Nelson foi a pior que eu vi dos meus pacientes”, afirma o pneumologista Rafael Carraro. “O pulmão dele estava 80% afetado”.

    Nelson entrou para uma estatística de quase 190 mil brasileiros recuperados após infecção pelo coronavírus. Eles correspondem a 40% do total de casos confirmados no país, enquanto o número de mortes corresponde a 6%, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. Residente em São Paulo, ele também entrou para os números de 4 em cada 5 pacientes de UTI que sobrevivem à infecção no estado, epicentro da doença no país. 

    Minoria entre os infectados, pacientes que estiveram entre a vida e a morte pelo Covid-19 iniciam um longo processo de recuperação em casa, após a alta hospitalar. “Um paciente como o Nelson a gente estima que ele precise, pelo menos, de uns três meses de treinamento, de reabilitação, para ele voltar a ter um status, uma performance que ele tinha antes da infecção, e não é às custas de uma recuperação pulmonar”. 

    Curado da pneumonia ainda durante a internação no hospital, os próximos passos para Nelson de fortalecimento em casa são voltados para a recuperação física e ganho de massa muscular. O tratamento é padrão para pacientes que ficam por tempo prolongado em internação na UTI, debilitados pelo quadro de internação e pela falta de locomoção por tempo prolongado. “A internação, por si só, geralmente a gente observa uma perda de força muscular que fica em torno de 1% ao dia”, explica Christina May, Coordenadora do Serviço de Reabilitação do Hospital Sírio Libanês. 

    No caso de Nelson, a internação por tempo prolongado decorreu do avanço do coronavírus aos rins, fazendo com que ele começasse a passar por sessões de hemodiálise ainda durante a entubação na UTI, que se estenderam até a véspera de sua alta hospitalar. Já em casa, ele deverá fazer dois exames semanais para avaliar a necessidade de hemodiálise posterior à internação, além de hemogramas para acompanhar a regressão da anemia com que foi acometido ainda no hospital, que levou até à transfusão de sangue. 

    “Hoje em dia se discute muito a generalização do tratamento para pacientes com infecção pelo Covid. E a gente vê que a infecção, a característica da doença, ela varia muito de uma pessoa para outra, e fala a favor de ter uma interação grande com fatores genéticos do indivíduo que a gente ainda não conhece”, afirma Carraro.

    Estudos ainda estão em andamento em relação a sequelas permanentes. Até o momento, se sabe que os órgãos mais afetados pela infecção com o coronavírus são os pulmões, coração, rins e o cérebro, principalmente na coordenação de funções motoras e na perda de olfato e paladar, como apontou nesta semana um estudo da Universidade da Flórida, que mostra perda de 80% do olfato em pacientes recuperados

    Depois do susto, restam as lembranças da internação em isolamento total da esposa e dos dois filhos e o valor às coisas simples. “Eu comemorei porque tomei banho em pé e sozinho, quando que iria imaginar isso? São essas coisas que fazem a gente ver que não foi pouca coisa não”, diz Nelson. “Só de ficar em casa, sentar no sofá, assistir um filme, são coisas que a gente não dava valor antes”, reflete a também arquiteta Nice Coelho, esposa de Nelson. “Só de pensar em tudo que a gente viveu e que ele quase morreu, já é motivo de alegria ele estar aqui”.

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