Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Entidades médicas defendem ‘conscientização’ em vez de vacina obrigatória

    Para o presidente da Comissão de Ética da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Gabriel Oselka, obrigatoriedade deve ser encarada como último recurso

    Dose da vacina contra Covid-19 BioNTech-Pfizer
    Dose da vacina contra Covid-19 BioNTech-Pfizer Foto: BioNTech/Divulgação via Reuters

    Iuri Corsini*, da CNN, no Rio de Janeiro

    Enquanto o País aguarda a aprovação de uma vacina contra a Covid-19 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a discussão sobre a obrigatoriedade ou não da vacina acontecerá nesta quarta-feira (16) no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, para médicos e entidades ouvidas pela CNN, a solução é uma só: “política de conscientização coletiva”.

    Para o presidente da Comissão de Ética da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Gabriel Oselka, dispor de um instrumento legal que permita, em último caso, a vacinação obrigatória, é uma medida adequada e necessária. Porém, segundo ele, a filosofia de vacinação do país vem há décadas priorizando a conscientização coletiva e mostrando para a sociedade a importância das vacinas para erradicar doenças.

    Leia também:
    Governo quer assinar contrato para comprar seringas e agulhas em 10 de janeiro
    Bolsonaro deve liberar R$ 20 bilhões para compra de vacinas e sugere termo de responsabilidade
    Epidemiologista: Presidente não pode ser irresponsável e tem que dar o exemplo
    Garcia: ‘Se a produtora da vacina não se responsabiliza, alguém tem que assinar’

    “A posição da maior parte das pessoas é que a obrigatoriedade é o último recurso. Preferimos trabalhar com informação e esclarecimento; que as pessoas entendam que a vacina é o recurso mais importante para diminuir doenças e mortalidade. Não é desejável que se recorra a obrigatoriedade, mas em casos extremos e diante dessa pandemia, apenas em casos extremos, acho válida a obrigatoriedade da vacinação”, afirmou.

    Oselka, entretanto, chamou atenção para o fato de que umas das coisas que se objetiva com a obrigatoriedade é a imunidade coletiva. Só que tal imunidade não será possível, pois não teremos vacinas suficientes por muitos meses.

    Gulnar Azevedo, professora de epidemiologia da UERJ e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), também destacou que o mais importante é informar as pessoas sobre os benefícios de ser vacinado. Segundo ela, falar em obrigatoriedade traz um “caráter policial desnecessário”.

    A pesquisadora chamou atenção para a necessidade de um plano de comunicação bem estruturado, com campanha nacional de conscientização algo que, segundo ela, não vem acontecendo até o momento.

    “É preciso ter um trabalho mostrando os benefícios de ser vacinado. Buscar o que tem de melhor para as pessoas contribuírem. Obrigatória ou não, historicamente, as pessoas sempre aderiram às campanhas de vacinação no Brasil. Tenho certeza que na hora que a vacina chegar, haverá filas para as pessoas se vacinarem”, disse.

    Para o médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Leonardo Weissmann, mais importante do a discussão da obrigatoriedade, seria focar em planejamentos de conscientização da população sobre a importância e eficácia das vacinas aprovadas pela Anvisa. Segundo ele, a partir do momento que a Anvisa aprova um imunizante, a sociedade pode ter certeza de que essa vacina é segura.

    “Essa conscientização é importante porque quanto mais pessoas imunizadas e protegidas, mais rápido alcançaremos a imunidade coletiva e diminuiremos a chance do vírus se espalhar cada vez mais. É fundamental, também, que o Ministério da Saúde atue para esclarecer a população tirando as dúvidas para que as pessoas se sintam mais seguras. O momento é de união e de cada um ter dimensão de sua responsabilidade perante os outros, para combater esse vírus da Covid-19”, disse Weissmann.
    Mas o que seria essa obrigatoriedade? A pessoa vai presa caso não se vacine? Ela será vacinada à força? Na verdade, o que se propõe é que o indivíduo sofra sanções administrativas caso se recuse a tomar uma vacina obrigatória. A intenção é possibilitar que as autoridades públicas apliquem restrições às pessoas que não se vacinarem. Algo como a exigência de apresentar o cartão de vacinação para poder embarcar em voos nacionais e internacionais, por exemplo, ou a obrigatoriedade de mostrar o cartão de vacinação para acessar o transporte público.

    A expectativa é que o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, apresente hoje em plenário seu voto favorável para que os governos federal, estadual e municipal possam obrigar a população a se vacinar contra a Covid-19.

    Outros tempos, mesmas polêmicas
    Essa discussão vem lá de trás, desde o Período Regencial, quando a vacina contra a varíola foi declarada obrigatória para crianças, em 1937. Já na República Velha, nova polêmica, quando, em 1904, Oswaldo Cruz instigou o Congresso a tornar novamente obrigatórias as vacinas contra a varíola. O Congresso aprovou a proposta e gerou comoção popular. Tal episódio ficou conhecido como Revolta das Vacinas, quando a população saiu às ruas em protesto contra tal obrigatoriedade. Mais de 100 anos depois, estamos diante de um novo impasse. Afinal, até que ponto é necessário obrigar as pessoas a se vacinarem?

    Ao que tudo indica, o caminho de sucesso é a consciência coletiva. Algo que tem dado certo há muitos anos no Brasil.

    (*Estagiário sob supervisão de Maria Mazzei)