Pesquisa da UFMG identifica 68 bebês que nasceram com anticorpos para Covid-19
Estudo detecta exposição ao novo coronavírus durante a gestação pelo teste do pezinho
A Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) divulgou nesta quinta-feira (26) resultados preliminares de uma pesquisa que identificou que a maioria das mães que testou positivo para o coronavírus durante a gestação pode passar anticorpos para os bebês.
A pesquisa está sendo desenvolvida com o apoio do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad), Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG) e da Universidade Federal de Uberlândia.
Até agora 506 mães e bebês foram testados e 68 casos de transferência de anticorpos IgG da mãe para o filho foram identificados. O objetivo é chegar a 4 mil mães testadas.
A pesquisa utiliza a rede de coleta da triagem neonatal, conhecida popularmente como teste do pezinho, realizada em Minas Gerais pelo Nupad, órgão complementar da Faculdade de Medicina da UFMG. A mesma gota de sangue no papel filtro coletada para a triagem neonatal é utilizada na pesquisa. Dessa forma, os bebês não passam por nenhum procedimento diferente do habitual.
Os casos identificados ocorreram em todas cinco cidades mineiras onde a pesquisa está sendo realizada, Nova Lima, Contagem, Itabirito, Ipatinga e Uberlândia. Os critérios para a escolha dos municípios foram a taxa de prevalência de Covid-19, o número de nascimentos por mês e a existência de rede de apoio para eventual necessidade de reabilitação das crianças com alterações nos testes de neurodesenvolvimento.
Os casos positivos serão acompanhados por dois anos, período em que se observará se a infecção durante a gestação trouxe consequências para o desenvolvimento das crianças. Um grupo de controle, com mães e bebês com resultados negativos, também será acompanhado. Outro objetivo é avaliar a duração da imunidade adquirida pelo feto durante a gestação.
Além de descobrir os cuidados necessários com esses recém-nascidos, os resultados podem dar respostas sobre uma futura vacinação de bebês.
Outra informação que chamou bastante a atenção dos pesquisadores é a proporção de casos assintomáticos, mães que não tiveram sintomas da doença e ainda assim passaram anticorpos para os fetos. Na pesquisa em Minas Gerais o número chegou a 40%.
“Outros estudos já mostraram a presença de anticorpos no bebê, mas a maioria deles investigou a transferência de anticorpos após as manifestações da Covid na mãe. Nesta pesquisa, estamos testando todas as mães e bebês, independente delas terem apresentado qualquer sintoma da doença durante a gravidez, porque sabemos que cerca de 80% das infecções são assintomáticas”, explicou a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Cláudia Lindgren, que cita o zika, rubéola e HIV como vírus que permanecem “ocultos” no organismo por bastante tempo.
“Temos a hipótese que, à semelhança de outras infecções virais durante a gravidez, o Sars-Cov-2 pode trazer repercussão futura”, pontua.