Terceira onda pode ser pior que a segunda, diz secretário de saúde do STF
Epidemiologista explica possíveis cenários da pandemia de Covid-19 nos próximos meses
Em entrevista à CNN neste sábado (29), o epidemiologista Wanderson de Oliveira, secretário de Serviços Integrados de Saúde do Supremo Tribunal Federal (STF), afirma que é possível que o Brasil tenha um terceiro pico de casos de Covid-19 pior que o anterior.
Segundo ele, no inverno, os vírus respiratórios circulam com mais facilidade. “As pessoas andam muito mais em ônibus fechados, por causa do frio e da chuva, elas mantêm mais as janelas fechadas e a circulação do ar não é tão boa no inverno quanto é no verão. Então, o risco existe e nós podemos ter uma terceira onda pior do que a segunda por causa das características ambientais e comportamentais.”
Ele explica que o segundo pico de casos, que aconteceu no começo deste ano, estava relacionado a uma série de fatores comportamentais, como festas de final de ano e feriados, mas não estavam ligados a fatores ambientais, como agora no inverno, que traz essa maior facilidade de transmissão. “A segunda onda foi praticamente por características comportamentais”, disse.
Ele afirma ainda que segundo projeções, já estamos em ascensão de casos. “O número de óbitos tende a aumentar nas próximas semanas, principalmente em meados de junho e julho. A questão é quanto tempo vamos permanecer nesta ascensão de casos, na transmissibilidade mais elevada”, disse.
Segundo ele, o Brasil pode ver o número de óbitos por Covid-19 passar de 1 milhão até setembro no pior dos três cenários.
“Há um otimista, com número de casos menor do que em abril; um conservador, com números praticamente próximos do que tivemos no início de abril; e um pior, em que em uma projeção poderíamos passar 1 milhão de óbitos até o início de setembro. Tudo vai depender de como a sociedade deseja passar esse inverno. Se acharmos que dá para fazer aglomeração, ficar em bar, restaurante, não usar máscara e fazer contato próximo, teremos o pior cenário.”
Oliveira defende que o aumento da testagem. “Estamos vivendo um momento muito crítico. Temos que ampliar, principalmente, a testagem. Na minha opinião, nos três próximos meses, a missão é identificar os casos sintomáticos, isolar essas pessoas e monitorar os contactantes.”
Mesmo que a vacinação aumente, não resolverá a situação em curto prazo, explica o epidemiologista. “A vacina não vai fazer efeito para esse momento. Ela tem que ser acelerada principalmente para pessoas em grupos especiais, como professores, completar a vacinação de adultos acima de 50 anos e com comorbidades acima de 18 anos. No inverno, o efeito dessas ações não será percebido porque é o período com mais casos de gripes e resfriados.”
Sobre as variantes, ele diz que é cedo para dizer se a cepa da Índia causará grandes estragos no país. “Em regiões em que não tivemos circulação muito grande da variante P.1, talvez se essa cepa entrar tenhamos volumes de surtos mais representativos. Agora, onde a P.1 é predominante, não sabemos se a da Índia irá substituí-la, se haverá uma competição entre elas.”