Oxford e Butantan precisam dar clareza aos dados de vacinas, dizem pesquisadoras
Natalia Pasternak e Denise Garrett questionam motivo para Butantan não publicar eficácia real da Coronavac e relembram problemas em testes da AstraZeneca
O Instituto Butantan apresentou nesta sexta-feira (8) o primeiro pedido de uso emergencial de uma vacina contra o novo coronavírus à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A medida foi tomada um dia depois da apresentação pelo governo de São Paulo dos dados de eficácia da Coronavac, a vacina que o Butantan desenvolve em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
Em artigo publicado nesta sexta sobre a situação das vacinas que poderão ser usadas no país, a microbiologista e pesquisadora Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, e a epidemiologista Denise Garrett questionaram a opção do Butantan de divulgar o que chamaram de “desfechos secundários muito promissores” em vez dos desfechos primários.
“Não foram apresentados os números do desfecho primário, ou seja, a eficácia real da vacina na prevenção de doença, assim como foi feito de maneira bastante clara para as vacinas da Pfizer e Moderna”, escreveram no texto publicado pelo Instituto Questão de Ciência.
As duas destacaram que a vacina desenvolvida pela AstraZeneca e Universidade de Oxford também teve problemas na execução de seus testes de eficácia.
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“Apesar de ter conseguido aprovação no Reino Unido, México e Índia, para aprovação nos Estados Unidos os dados disponíveis sobre a vacina não são suficientes – falta clareza, principalmente a respeito da eficácia em idosos, justamente a população mais afetada” , disseram.
Juntas, a Coronavac e a vacina de Oxford são as principais apostas do governo federal para colocar em prática seu Plano Nacional de Imunização.
Na quinta-feira (7), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que o país havia assegurado 354 milhões de doses dos imunizantes – 100 milhões da Coronavac e 254 milhões da AstraZeneca/Oxford.
Apesar das críticas, Pasternak e Garrett disseram que as duas vacinas mostraram indícios de que são capazes de prevenir casos graves da Covid-19.
“Vacinas com eficácia mais ‘baixa’ como a AZ [AstraZeneca] com 62%, ou Coronavac, com 63%, se esse número for confirmado, não devem ser desprezadas só porque existem vacinas “melhores”. Se uma vacina com 62%, ou mesmo 50%, de eficácia, for 90% capaz de reduzir hospitalização e morte, já será de grande valia para o controle da pandemia e o retorno à normalidade. E reduzirá também a circulação da doença.”
Outras possibilidades para o governo
O Brasil também aderiu ao acordo internacional Covax, da Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, o fez pleiteando a cota mínima que cobre apenas 10% da população, o que dá direito ao país de comprar 42 milhões de doses das vacinas que fazem parte do programa
“A Moderna deve ser a primeira disponível [pelo programa Covax], uma vez que já recebeu autorização da FDA. É uma vacina com resultados muito claros, eficácia de 94%, eficaz em idosos também, e com boa estimativa para prevenção de casos graves. Pode ser armazenada em temperaturas de -20o C, o que não é impeditivo para nossa cadeia de frio. Seria uma boa aposta, portanto, mas só a teremos em pequena quantidade”, disseram as pesquisadoras.
Já para a Novavax, outra vacina que faz parte do consórcio, a situação seria mais complicada já que os estudos de fase 3 ainda precisam ser concluídos e o laboratório, muito menor que os outros com estudos em fases mais avançadas, pode ter dificuldades para conseguir voluntários.
“Outra empresa que encerrou a fase 3 e deve liberar em breve os resultados é a Janssen, com a vantagem de trabalhar com uma única dose, e com transporte em temperatura de geladeira, ideal para nossa cadeia de frio. Resta saber por que o Ministério da Saúde ainda não procurou a Janssen para um acordo”, questionaram.