‘Não tem sentido marcar uma data única para começar a vacinação’, diz médica
Carla Domingues, que já coordenou o Plano Nacional de Imunização, defende que a aplicação deve começar assim que as doses chegarem aos estados e municípios
A diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai se reunir às 10h da manhã deste domingo (17) para decidir pela aprovação, ou não, dos pedidos de uso emergencial das vacinas Coronavac e AstraZeneca.
Em conversa com a CNN, a epidemiologista Carla Domingues, que já atuou como coordenadora do Plano Nacional de Imunização, acredita que, logo que a aprovação for anunciada, muito em breve as vacinas serão distribuídas em todo o Brasil. “Eu acredito que dentro de 15 dias todas as localidades já estarão com a vacina disponível para começar a vacinar a população-alvo definida pelo Ministério da Saúde”, diz.
A especialista defende que a aplicação das doses comece assim que elas chegarem aos estados e municípios, e que uma localidade, que já tenha a vacina, não deveria aguardar para dar início à vacinação.
“Seria incoerente do país, em um momento que a gente já precisa começar a vacinação, aguardar 15 dias para que todo mundo comece no mesmo dia.” Domingues afirma que é impossível que, após a aprovação, as vacinas cheguem até quarta-feria (20) em todos os estados.
Em ofício enviado pelo Ministério da Saúde ao Instituto Butantan, a pasta exige que toda a produção de Coronavac seja entregue ao governo federal para que a distribuição fique centralizada no órgão. Sobre isso, Carla Domingues ressalta o porquê de todas as vacinas serem entregues à Central Nacional.
“O importante é que a gente deixe claro que os laboratórios têm que entregar a vacina para o Ministério da Saúde. Algumas vezes, há excepcionalidade de, no caso de São Paulo, por exemplo, na campanha de gripe, o laboratório entregar direto na Central Estadual, mas isso como excepcionalidade. Quando nós temos muitas vacinas, é possível fazer esse fracionamento e já deixar a parte de São Paulo entregue diretamente na Secretaria Estadual [de Saúde]. Mas nós estamos falando agora de um quantitativo muito pequeno, que o Ministério da Saúde vai ter que administrar para ver qual é a melhor forma de garantir que todos os estados recebam essa vacina”, diz.
Como reposta ao ofício, o Instituto Butantan pediu que 1,6 milhão de doses permanecessem em São Paulo porque fazem parte da cota que será aplicada no estado. Domingues afirma que toda a produção do Instituto Butantan já foi comprada pelo Governo Federal.
“Eu entendo que o Ministério da Saúde comprou toda a produção do Butantan. Foi isso que foi informado publicamente para todos nós, as 46 milhões de doses. As 11 milhões que já produziu e as demais que ainda vai produzir serão todas entregues ao Ministério da Saúde. Então, eu não vejo como ter essa cota estadual, a não ser que o Butantan tenha uma produção a mais e aí seja uma produção independente para se ter este Plano Estadual. Então eu acho que está virando uma disputa política de novo.”