Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Com diagnóstico de Bolsonaro, cloroquina ficará ainda mais polarizada, diz Teich

    Em entrevista à CNN, ex-ministro avaliou discurso do presidente e situação da Covid-19 no Brasil. Bolsonaro foi diagnosticado com a doença nesta terça (7)

    Da CNN, em São Paulo

    O ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse acreditar que, com o diagnóstico de Covid-19 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o debate sobre o uso da cloroquina ficará ainda mais polarizado. Em entrevista à CNN nesta terça-feira (7), ele avaliou o discurso do presidente e a situação geral do novo coronavírus no país.

    “O grande problema é que o fato de usar o remédio não significa que foi ele que te curou. Para a pessoa que não tem um lado mais matemático, mais técnico, isso é difícil de entender. As pessoas falam que usaram o remédio e ficaram curadas, que prescreveram o remédio e os pacientes ficaram curados. Mas uma coisa pode não ter nada a ver com a outra”, disse. “Essa questão da cloroquina, se já era polarizada, agora vai ficar muito mais”.

    Leia também:

    Presidente Jair Bolsonaro testa positivo para Covid-19

    OMS interrompe estudos com hidroxicloroquina e remédios para HIV contra Covid-19

    Segundo Teich, os maiores estudos já feitos com a cloroquina e a hidroxicloroquina até o momento não mostraram nenhum benefício, e o único remédio aceito para uso emergencial é o remdesivir. Para o ex-ministro, esse debate é importante por conta da destinação de recursos.

    “Uma das razões de você não usar coisas que não funcionam é deixar de gastar em coisas que funcionam”, disse. “A gente tem que ter reserva para usar com coisas que sabidamente ajudam.”

    Ao divulgar que contraiu a Covid-19, Bolsonaro afirmou que quem tem menos de 40 anos “tem que levar vida normal” — declaração que foi contestada por Teich. “Não existe garantia que a idade vai tornar a pessoa imune à doença e que ela não pode morrer. Os números são menores [em pessoas jovens], mas não são zero”, disse.

    Ele também lembrou que não é apenas o risco de mortalidade que deve ser levado em conta. “Quantas pessoas mais novas têm convívio com outras mais velhas quando voltam para casa? Não é só se você pode morrer, mas o quanto você pode disseminar”, falou.

    ‘Situação de incerteza’

    Para Teich, o cenário da Covid-19 no Brasil ainda é de “absoluta incerteza”. Como exemplo, ele citou o desenvolvimento das potenciais vacinas.

    “Amanhã pode ser que tenha a vacina, mas e se você não tiver o frasco para pôr a vacina? A tampa desse frasco?”, questionou. “Tem que ter uma visão da cadeia como um todo, porque sempre falta algum insumo que não tinha imaginado. A gente não sabe o que vai acontecer, não conhece a realidade da Covid”.

    Ele também disse que vê alguns indicadores com desconfiança, como as estimativas de quantas outras pessoas serão contaminadas a partir de um indivíduo doente.  “Se há isolamento, a pessoa tem pouco contato com outras pessoas. Quando libera, pode ser que aumente e volte a doença”, disse.

    O ex-ministro disse também que o país não está aprendendo com seus erros e, por conta da falta de dados consolidados, as políticas estão sendo feitas com base em “tentativa e erro”.

    Entretanto, Teich não arriscou dar um parecer sobre as cidades que estão reabrindo. “A gente está no meio do problema e me dou o direito de não tentar adivinhar”, disse. 

    (Edição: Bernardo Barbosa)