Não devemos ver a saúde como despesa e sim como investimento, diz pesquisador
Dependência tecnológica do país é o maior desafio da saúde brasileira -- que importa 85% dos equipamentos médicos
O Brasil importa 85% de princípios ativos de medicamentos e de equipamentos médicos. A dependência tecnológica é hoje o maior desafio na área da saúde diante da pandemia do novo coronavírus.
Em entrevista à CNN, o economista e pesquisador da Fiocruz, Carlos Gadelha, defendeu que o toda a produção de insumos e equipamento médicos seja colocada em primeiro plano e avaliou o cenário de crise no país. “Na verdade essa pandemia ela coloca de forma absurdamente evidente a dependência do país de importações.”
“Existe uma questão estrutural que se a gente não enfrentar o Brasil vai ficar enxugando gelo não apenas para a pandemia do coronavírus e todas as outras que vierem daqui para frente. Nós temos o maior sistema universal do mundo para atender mais de 210 milhões de pessoas. Um sistema de saúde sem amparo tecnológico, é um sistema com pés de barro”
O especialista também avaliou a posição do Brasil quanto ao aparato tecnológico mediante o cenário de pandemia. “Hoje nós importamos U$16 bilhões, se formos considerar tudo que pagamos em tecnologia internacional, o Brasil está importando cerca de U$20 bilhões de dólares anualmente. Isso equivale quase a um orçamento anual do Ministério da Saúde. Um país sem tecnologia neste momento fica vulnerável”, explica.
O profissonal também alertou para a tamanha vulnerabilidade do sistema de saúde brasileiro. “Apenas na área de fármacos 94% é dependente de importação. É uma questão de razoabilidade para se poder implementar políticas públicas. Na área de ventiladores nossa dependência da área é de 60% a 80%. Imagina agora com esta explosão da demanda”, analisou.
Gadelha também criticou o contigenciamento por parte do governo federal na área de ciência e teconologia, classificando como ‘suícidio’. “A saúde é um desafio da saúde brasileira, é algo que se é legítimo investir. Hoje nós vemos um contigenciamento de 87% da área da ciência, o que é um suicídio, tendo em vista que é um país que quer dar o acesso [ ao desenvolvimento]. Nós precisamos deixar de ver a saúde como despesa e passar a ver como investimento”, conclui Gadelha.