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    Eleições 2022

    Saiba quem é Almir Garnier, comandante da Marinha no governo Bolsonaro que teria aceitado dar golpe

    Tenente-coronel Mauro Cid disse à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir detalhes de um plano de golpe para não deixar o poder

    Léo Lopesda CNN , São Paulo

    Em sua delação premiada à Polícia Federal (PF), o ex-ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid relatou que, em uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após as eleições do ano passado, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, demonstrou disposição em participar de um golpe de Estado.

    A reunião em que Bolsonaro teria discutido um plano de golpe para não deixar o poder com a cúpula das Forças Armadas foi revelada primeiramente por O Globo e UOL e confirmada pela CNN.

    Segundo fontes com acesso à investigação, Cid detalhou duas situações. Em uma delas, cita que Bolsonaro recebeu em mãos uma minuta golpista. Em outro momento, o ex-ajudante de ordens detalha a reunião com a cúpula militar.

    No encontro, as Forças Armadas teriam sido consultadas sobre a possibilidade de uma intervenção militar.

    A resposta da cúpula da Marinha, ainda segundo Mauro Cid, teria sido que as tropas estavam prontas para agir, apenas aguardando uma ordem dele. Já o comando do Exército não teria aceitado o plano.

    Quem é o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, que teria aceitado participar de golpe?

    O almirante da reserva Almir Garnier Santos foi o segundo comandante da Marinha durante o governo de Bolsonaro.

    Ele assumiu o posto, em abril de 2021, no lugar de Ilques Barbosa Júnior, demitido em março daquele ano após uma troca no comando do Ministério da Defesa, que passou às mãos do general Walter Braga Netto.

    O carioca Almir Garnier, que completa 63 anos nesta sexta-feira (22), ingressou na Escola Naval em 1978, iniciando sua carreira na Marinha. Nos anos 1980, serviu a bordo de navios da Esquadra brasileira. A partir de 1991, fez mestrado em uma escola da Marinha dos EUA e, ao retornar, serviu em funções técnicas por cerca de dez anos.

    Ex-comandante da Marinha, almirante da reserva Almir Garnier Santos, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
    Ex-comandante da Marinha, almirante da reserva Almir Garnier Santos, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. / Tânia Rêgo/Agência Brasil

    “Em 31 de março de 2010 foi promovido ao posto de Contra-Almirante, em 31 de março de 2014 ao posto de Vice-Almirante e em 25 de novembro de 2018 ao posto de Almirante de Esquadra”, afirma sua biografia que constava no site da Marinha.

    Garnier trabalhou por mais de dois anos e meio como “assessor especial militar” no Ministério da Defesa durante os governos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-presidente Michel Temer (MDB), tendo servido aos ministros Celso Amorim (jun./2014 – dez./2014), Jaques Wagner (jan./2015 – out./2015), Aldo Rebelo (out./2015 – mai./2016) e Raul Jungmann (mai./2016 – nov./2018).

    Com a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2019, o almirante Almir Garnier assumiu o cargo de secretário-geral do Ministério da Defesa, órgão do Ministério considerado “o principal ponto de interlocução com os demais órgãos públicos”.

    Em 31 de março de 2021, foi indicado por Bolsonaro para assumir o cargo de comandante da Marinha.

    Em maio de 2022, cinco meses antes das eleições, Garnier questionou a segurança das urnas eletrônicas e defendeu uma auditoria privada, em entrevista ao jornal O Povo.

    “Como comandante da Marinha, eu quero que os brasileiros tenham certeza de que o voto deles vai valer, de que quem eles colocarem na urna vai ser contado e quem eles escolherem de uma forma limpa, transparente, como demanda a Constituição Federal e as leis nacionais, serão validados”, disse o então comandante da Marinha.

    Ex-comandante da Marinha, almirante da reserva Almir Garnier Santos, durante programa A Voz do Brasil
    Ex-comandante da Marinha, almirante da reserva Almir Garnier Santos, durante programa A Voz do Brasil / Marcello Casal Jr / Agência Brasil

    “Não quero ver o meu povo brigando entre si por dúvidas. Então, mais transparência, quanto mais auditoria, melhor para o Brasil, porque nós teremos muito mais certeza do resultado e toda a vida nacional seguirá com mais calma”, acrescentou.

    “O presidente tem feito críticas [às urnas eletrônicas], mas não é só o presidente que faz crítica, muita gente faz críticas às urnas há muito tempo. O presidente da República é o meu chefe, é o meu comandante, ele tem o direito de dizer o que quiser”, concluiu.

    No dia anterior e no dia do segundo turno das eleições, 29 e 30 de outubro do ano passado, Garnier fez publicações em suas redes sociais com a seguinte legenda: “Parafraseando o grande Almirante Barroso, comandante em chefe da esquadra brasileira no momento mais crítico da guerra da tríplice aliança, digo-lhes: nunca parem de lutar!”

    Ao ser substituído no cargo com o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Garnier não participou da cerimônia de posse de seu sucessor, o almirante Marcos Sampaio Olsen. Foi a primeira vez na história que uma troca de comando acontece na Marinha sem a presença do antecessor.

    Relatora da CPMI do 8 de janeiro quer convocar e quebrar sigilo de Garnier

    A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI do 8 de janeiro, quer convocar e quebrar o sigilo telemático do almirante Almir Garnier. “Ele passa a ser uma figura central nas investigações”, disse a parlamentar.

    A CNN tenta contato com a defesa de Garnier para comentar as acusações feitas por Cid em delação, e aguarda retorno.

    O que dizem as defesas?

    Em nota, a defesa de Mauro Cid cita as matérias da imprensa sobre “possíveis reuniões com a cúpula militar para avaliar golpe no país” e afirma que “não tem os referidos depoimentos, que são sigilosos, e por essa mesma razão não confirma seu conteúdo”.

    Os advogados de defesa de Jair Bolsonaro (PL) emitiram um comunicado alegando que o ex-presidente “jamais compactuou” com qualquer movimento ilegal. Eles afirmam que o ex-presidente “durante todo o seu governo jamais compactuou com qualquer movimento ou projeto que não tivesse respaldo em lei, ou seja, sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição Federal”.

    A defesa ainda alega que Bolsonaro “jamais tomou qualquer atitude que afrontasse os limites e garantias estabelecidas pela Constituição e, via de efeito, o Estado Democrático de Direito”.

    Por fim, os advogados afirmaram que vão adotar “medidas judiciais cabíveis contra toda e qualquer manifestação caluniosa, que porventura extrapolem o conteúdo de uma colaboração que corre em segredo de Justiça, e que a defesa sequer ainda teve acesso”.

    Marinha do Brasil divulgou uma nota à imprensa esclarecendo que “não teve acesso ao conteúdo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid” e “não se manifesta sobre processos investigatórios em curso no âmbito do Poder Judiciário”.

    No comunicado, a Marinha ainda reafirma que “pauta sua conduta pela fiel observância da legislação, valores éticos e transparência”. E reitera que “eventuais atos e opiniões individuais não representam o posicionamento oficial da Força e que permanece à disposição da justiça para contribuir integralmente com as investigações”.

    CNN também entrou em contato com Exército e Aeronáutica, mas ainda não teve retorno.

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