Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Para expulsar banhistas, cidades de SP usam grades, carro de som e até trator

    Municípios do litoral como Santos, Guarujá e São Sebastião estão preocupados com movimento durante a Semana Santa

    Em São Sebastião, praia estava cheia no fim de semana anterior à Páscoa mesmo com quarentena
    Em São Sebastião, praia estava cheia no fim de semana anterior à Páscoa mesmo com quarentena Foto: Divulgação/Prefeitura de São Sebastião

    Pedro Duran Da CNN, em São Paulo

    Guardas municipais na areia, grades metálicas de proteção na orla, carros de som nas ruas e até trator são algumas das estratégias que estão sendo adotadas pelas prefeituras de cidades litorâneas de São Paulo pra tentar frear a aglomeração de banhistas.

    O feriado da Páscoa acendeu um alerta por todo o litoral paulista. Na última semana, o movimento em estradas paulistas subiu 10%, o que sinaliza um “relaxamento” da quarentena. Até por isso, o governo decidiu colocar mensagens de conscientização em painéis eletrônicos nas estradas, e o próprio governador João Doria (PSDB) fez um apelo para que as pessoas não desçam para o litoral.

    A reportagem da CNN conversou com prefeitos e autoridades do governo estadual, que se mostraram receosos do que pode acontecer a partir desta quinta-feira (9), quando os primeiros veranistas devem descer para o litoral.

    São Sebastião: trator e guardas

    Prefeitura de São Sebastião usa até trator para dispersar banhistas
    Prefeitura de São Sebastião usa até trator para dispersar banhistas
    Foto: Divulgação/Prefeitura de São Sebastião

    Dos três casos de coronavírus confirmados em São Sebastião, no litoral norte, dois são veranistas; não moram na cidade. O município já teve uma morte por COVID-19 registrada.

    A cidade está superlotada. Além dos 90 mil habitantes, tem outras 50 mil pessoas instaladas, segundo um levantamento da prefeitura, mesmo com hotéis, pousadas e casas de aluguel fechados por decreto. São turistas ou pessoas que mantém casas de veraneio nas praias mais sofisticadas do litoral do estado, como Juquehy, Baleia, Riviera e Maresias.

    “Nos outros casos suspeitos, a gente tem vários funcionários de condomínios de luxo: seguranças, porteiros, jardineiros, o que mostra claramente onde o vírus tem se espalhado”, disse o prefeito Felipe Augusto (PSDB).

    Um dos gargalos é que a cidade tinha apenas seis leitos de UTI. Com a chegada do vírus, a prefeitura conseguiu ampliar para 38 leitos, mas ainda avalia que isso é insuficiente.

    Por ter mais de 100 km de praia, o prefeito considera inviável fechar a orla com bloqueios e ainda tem enfrentado resistência dos banhistas, que mesmo durante a quarentena seguem indo para a praia. Guardas municipais têm tentado convencer as pessoas a deixarem as áreas de areia, mas a extensão da praia dificulta o trabalho. Até tratores têm sido usados para dispersar os banhistas.

    Santos: grades de metal na orla

    Coronavírus: prefeitura de Santos fecha calçadão de praias com grades
    Coronavírus: prefeitura de Santos fecha calçadão de praias com grades
    Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos

    Maior cidade do litoral de São Paulo, Santos tem um agravante na luta contra o coronavírus: um a cada cinco habitantes da cidade tem mais de 60 anos. Depois de ter fechado as praias para o público, o prefeito Paulo Barbosa (PSDB) determinou a instalação de grades de proteção impedindo o acesso ao calçadão no último sábado (4).

    “Fiz porque a gente tomou medidas restritivas na faixa de areia que foram compreendidas pela maioria absoluta da população, mas uma minoria continuou usando calçadão pra caminhadas e práticas esportivas. Por isso, ampliamos as restrições. Temos mais responsabilidade porque temos muita gente na faixa de risco”, disse Barbosa.

    Guarujá: carros e barreira sanitária

    Carro de som no Guarujá alerta para necessidade de evitar aglomerações
    No Guarujá, carro de som alerta para necessidade de evitar aglomerações
    Foto: Divulgação/Prefeitura do Guarujá

    Nesta quarta-feira (8), um decreto municipal permitiu que a cidade fizesse como Santos, bloqueando o calçadão e a orla das principais praias da cidade, como Astúrias, Tombo e Pitangueiras.

    A cidade implantou barreiras sanitárias em sete locais, uma força-tarefa com agentes de trânsito e guardas municipais que, juntos, já barraram 5 mil veículos de pessoas que não têm imóvel no Guarujá, turistas, banhistas e veranistas. A rede hoteleira da cidade e as pousadas estão fechadas por decreto.

    Dos 330 mil habitantes da cidade, 90 mil moram em condições precárias e a cidade só tem 40 leitos de UTI. Vinte deles serão exclusivos para coronavírus, e um deles já está ocupado com uma pessoa com suspeita, esperando a contraprova do Instituto Adolfo Lutz, na capital. Há sete casos já confirmados da COVID-19. Pessoas em situação de rua foram encaminhadas para um ginásio. Há 220 vagas e acompanhamento médico no local.

    A prefeitura está terminando um hospital de campanha na base aérea instalada na cidade, com apoio da Aeronáutica, onde serão mais 50 leitos, 20 deles de UTI.

    “Em duas a três semanas, é melhor que nós possamos nos sentir ridículos por termos exagerado do que esúpidos por não termos agido. O falido se recupera, o falecido não”, diz o prefeito Valter Suman (PSB). “É triste falar isso, mas me sinto numa cidade fantasma”.

    Seis carros de som rodam pela cidade, falando sobre o crescimento do número das mortes e orientando as pessoas ficaram em caso e evitarem a todo custo aglomerações.

    Aglomerações

    Especialistas apontam que o espalhamento do vírus pelo ar é agravado em ambientes onde há aglomeração. Justamente por isso, a recomendação deles é que atividades ao ar livre onde não há qualquer tipo de proximidade ou contato com outra pessoa não oferecem riscos. Mas atividades de lazer, como passeio em praias cheias, diminuem a eficácia da quarentena.

    “A base do isolamento social é que a gente conviva o mínimo possível com as pessoas do ponto de vista física, tenha o mínimo possível de chance de contato. Isso significa que eventualmente nós podemos fazer pequenas saídas para ir a um mercado, uma pequena caminhada, desde que a gente não encontre com pessoas, não converse com pessoas na rua, que a gente não encoste nas pessoas”, diz o infectologista Renato Grinbaum.

    “É um temor muito grande se as pessoas começarem a relaxar, se elas forem para almoços de família na Páscoa, se elas forem para a praia se divertir e com contatos entre pessoas, como se a gente tivesse uma situação normal. O que a gente espera, caso isso aconteça, é que algumas das pessoas vão adoecer e transmitir para outras pessoas, e que a gente vai perder um bocado da eficácia do isolamento social”, completa.