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    Ex-capitão do Bope analisa guerra de facções no Rio de Janeiro

    O antropólogo e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Paulo Storani, falou à CNN sobre os confrontos entre facções rivais no Rio

    Da CNN, em São Paulo

    Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (27), o antropólogo e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Paulo Storani falou sobre os confrontos entre facções rivais no Complexo do São Carlos, na região central do Rio de Janeiro. Trocas de tiros tiveram início na quarta-feira (26) e se estenderam até hoje.

    Segundo a polícia, a tensão começou com a movimentação de traficantes de uma facção, que pretendiam tomar o território de comunidades que fazem parte do Complexo do São Carlos.

    Na avaliação de Storani, a situação é uma “consequência natural” da determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que operações policiais não fossem realizadas em favelas do Rio durante a pandemia do novo coronavírus. 

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    Antropólogo e ex-capitão do Bope, Paulo Storani, em entrevista para a CNN (27.ag
    Antropólogo e ex-capitão do Bope, Paulo Storani, em entrevista para a CNN (27.ago.2020)
    Foto: CNN Brasil

    A segurança pública do Rio de Janeiro, disse o ex-capitão do Bope, “está sob intervenção do STF”.

    “A consequência natural disso, em que pese a relevância da decisão que foi tomada pelo STF, é o fortalecimento das facções criminosas e o aumento do seu ímpeto de expansão de território de domínio, invadindo facções criminosas rivais”, explicou.

    Storani afirma que “não existe nenhum manual da polícia para entrar atirando em inocente dentro de comunidade”.

    “Esse enfrentamento entre forças letais [traficantes e policiais] vai causar letalidade. Infelizmente é quando morrem inocentes.É um trauma para a comunidade, cidade, país, mundo, principalmente quando falamos de criança”. 

    Na noite dessa quarta-feira, Ana Cristina da Silva, de 25 anos, foi morta enquanto tentava proteger o filho, de três anos, durante um tiroteio na comunidade. A mulher estava a caminho do trabalho quando a intensa troca de tiros começou. Ela morreu no local e sem atendimento. 

    Decisão do STF

    Em junho deste ano, o ministro Edson Fachin, do STF a paralisação de operações policiais em favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia da Covid-19. A exceção ficou para hipóteses consideradas excepcionais, que devem ser devidamente justificadas por escrito pela autoridade competente, com a comunicação imediata ao Ministério Público do estado do Rio de Janeiro, responsável pelo controle externo da atividade policial.

    “Nos casos extraordinários de realização dessas operações durante a pandemia, sejam adotados cuidados excepcionais, devidamente identificados por escrito pela autoridade competente, para não colocar em risco ainda maior população, a prestação de serviços públicos sanitários e o desempenho de atividades de ajuda humanitária”, disse o ministro. 

    O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou nesta sexta-feira (5) que não se realizem operações policiais em favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia da Covid-19. A exceção fica para hipóteses consideradas excepcionais, que devem ser devidamente justificadas por escrito pela autoridade competente, com a comunicação imediata ao Ministério Público do estado do Rio de Janeiro, responsável pelo controle externo da atividade policial.

    “Nos casos extraordinários de realização dessas operações durante a pandemia, sejam adotados cuidados excepcionais, devidamente identificados por escrito pela autoridade competente, para não colocar em risco ainda maior população, a prestação de serviços públicos sanitários e o desempenho de atividades de ajuda humanitária”, disse o ministro.  

    De acordo com o ministro, “não há como evitar os protocolos de conduta para o emprego de armas de fogo. O direito à vida os reclama”. 

    “Exigem que o Estado somente empregue a força quando necessário e exigem a justificativa exaustiva dessas razões. Os protocolos previamente estabelecidos são o guia a ser seguido, pois, de forma transparente e responsável, definem em que situações o uso progressivo da força se tornará legitimado, ao mesmo tempo em que permitem a avaliação das justificativas apresentadas pelos agentes quando do emprego da força”, diz.

    Ações policiais questionadas

    A decisão se deu em uma ação apresentada no ano passado pelo PSB, que questiona a política de segurança pública adotada pelo governador Wilson Witzel (PSC), que estimularia o conflito armado e exporia “os moradores de áreas conflagradas a profundas violações de seus direitos fundamentais”. 

    O PSB pediu a suspensão de diversas medidas previstas em decretos, como o uso de helicópteros como plataformas de tiros em operações policiais e mandados de busca e apreensão coletivos e genéricos. 

    Em 18 de maio, o estudante João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, morreu durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil do Rio no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana da capital.

    A família e testemunhas afirmam que policiais chegaram atirando à casa onde João e amigos estavam, na Praia da Luz, em Itaoca. O rapaz foi atingido na barriga e transportado em helicóptero da Polícia até o heliponto da Lagoa, na zona sul do Rio, onde a morte foi constatada.

    Parentes passaram a noite procurando o adolescente em hospitais e só acharam o corpo 17 horas depois, no IML (Instituto Médico-Legal) do Tribobó.

    (Edição: Sinara Peixoto)

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