Profissionais da saúde dormem em barracas para proteger família da Covid-19
Para manter o distanciamento social com parentes, profissionais da linha de frente utilizam até megafones para ajudar na comunicação
Na casa, a área de lazer virou acampamento para as irmãs Patrícia e Andressa Orlandeli, que trocaram o conforto que tinham pela saúde da família. Elas trabalham em hospitais e Andressa já foi uma vítima do coronavírus, quando decidiu sair da casa da mãe e se isolar. “Para preservar principalmente a saúde da minha mãe. Como a gente não sabe o que poderia acontecer, acho que foi uma forma de protegê-la principalmente”, disse Andressa, que é nutricionista.
Patrícia, enfermeira do setor de radiologia, é casada e tem 2 filhos, um deles com problemas respiratórios e na mesma casa moram os sogros que já tem idade. Mudar a rotina para garantir a saúde da família foi uma decisão difícil já são 45 dias de isolamento. “Acabei tomando essa decisão de me isolar aqui em cima na área da casa pra não trazer nenhuma contaminação. Porque a consciência da gente pesa demais nessa hora né?”.
Para matar a saudade da família, a mãe Patrícia e a tia Andressa descem a escada e se comunicam pela janela. Rebeca tem 3 anos e Pietro, 7. E a atitude de falar pelo vitrô que separa o quintal e a cozinha é a definição de estar perto e distante ao mesmo tempo. “É a vontade de querer abraçar. Querer beijar, e não poder e aí você expressa do jeito que você pode, fazendo gestos”, conta Patrícia.
Enquanto isso, a mãe das irmãs, a dona Cleide, segue sozinha em casa. “É muito difícil viu. A gente fez umas vídeo chamadas, mas mesmo assim não é igual. Porque você beija o telefone. Se elas não estão aqui”, conta a aposentada de 65 anos.
Megafone para chamar os pais
A situação é parecida para a médica Vanessa Prado, que é cirurgiã do aparelho digestivo. Nesta época de pandemia, ela precisou dobrar os plantões para dar atendimento aos pacientes vítimas da Covid-19. Vanessa mora sozinha e conta que antes da pandemia passava todos os dias na casa dos pais, que têm 80 anos. Ela já está há 60 dias sem o contato mais íntimo da família. “É muito difícil. A gente fica com sentimento de saudade, de não ter o colo da mãe, não poder tocar no pai, não poder fazer a barba do pai ou ajeitar uma coisa na mãe, ou na tia. Mas isso é para o bem deles”, comentou.
Vanessa comprou até um megafone pra se comunicar melhor com os pais e com sua tia, de 70 anos, que mora na mesma casa. A filha usa o megafone pra saber como está a família e comunicação acontece da calçada mesmo. A mãe diz que sente falta do abraço e do beijo. Estes são momentos de cuidados e carinho. A pandemia vai passar. Mais à frente vamos perceber que nada será como antes. “A gente vai dar valor as pequenas coisas , o beijo, o abraço, o aperto de mão, tanto do pai, da mãe dos pacientes. Esse carinho. falar que você ama, pra quem você ama, pra quem você gosta. Vai ficar este recado. Valor às pequenas coisas”.