O Grande Debate: governo Bolsonaro interferiu na operação da PF no Rio?
Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla debateram se o presidente influenciou a Polícia Federal a acelerar investigação de caso envolvendo Wilson Witzel
No Grande Debate da noite desta terça-feira (26), Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho abordaram a Operação Placebo, em que a Polícia Federal realizou busca e apreensão no Palácio das Laranjeiras e no escritório do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). Investigadores suspeitam de que Witzel comanda uma estrutura de fraudes ligadas a contratos relacionados a medidas de combate ao novo coronavírus.
Para Augusto, “quem comete atos ilegais devem ser investigados e processados e caso as provas sejam contundentes, sentenciado”, mas é necessário debater o uso político das operações, algo que segundo ele vem acontecendo desde a Lava Jato e leva a dúvidas sobre se Bolsonaro interferiu ou não neste caso.
Augusto questionou o método de obtenção de provas da Operação Placebo, que segundo ele foi excessivo. “Tenho críticas à forma invasiva de obtenção de provas, como a busca e apreensão, especialmente porque neste caso foi a primeira medida neste sentido.”
Já Caio criticou a cobertura da imprensa sobre a operação, dizendo que os veículos se importam mais com tentativas de relacionar Bolsonaro ao caso do que com o caso em si. Ele diz ainda que as suspeitas de corrupção em relação à compra de materiais relacionados a Covid-19 deveriam ser investigadas há tempos.
“O ‘covidão’ ficará marcado por ter combatido governadores autoritários cujas ações não foram noticiadas suficientemente”, afirmou.
Ele também disse acreditar que a PF não se sujeitaria a uma interferência de pessoas de fora da corporação. “Não se pode ver isto como ingerência, a PF é de excelência e tem independência funcional. O enredo se desenvolveu em órgãos do Rio de Janeiro e Ministério Público Federal. Onde está o presidente neste episódio?”
Leia também:
CNN obtém acesso a contrato de primeira-dama do RJ com empresa de operador
Witzel diz que operação da PF da qual foi alvo teve base em ‘suposições’
MP do Rio também deverá investigar Wilson Witzel
Augusto, por sua vez, disse ter elementos para sugerir que houve uma interferência, e fez uma linha do tempo de fatos que, segundo ele, amparam a tese de que Bolsonaro pode estar envolvido na investigação.
“Primeiro, o presidente fala que vai interferir na PF, o que ele faz ao mudar o diretor-geral da organização e o superintendente do Rio de Janeiro. Depois, há o vídeo da reunião em que uma ministra de Estado pede a prisão de governadores. Há também Paulo Marinho, que afirma que a PF havia vazado informações para a família Bolsonaro. Por último, o assessor especial da presidente tuita na última sexta-feira (22) para Witzel um símbolo de contagem regressiva. Não tenho como afirmar categoricamente a influência do presidente na operação de hoje, mas ligando os fatos, suspeitas existem aos montes.”
Caio disse que sua crítica é “sobre o teor do debate”, já que “o cerne da cobertura deveria ser contra a corrupção em momento de pandemia”. Para ele, as medidas para combate a Covid-19 criaram uma “tempestade perfeita” para que políticos pratiquem desmandos.
“A legislação da pandemia permite contratações sem uma série de controles de situações normais. Foi criada uma tempestade perfeita ao dar para prefeitos e governadores a possibilidade de realizar contratações sem licitação e sem se preocupar com gastos, já que serão recompostos pelo governo federal. Para mim, a discussão tem que ser voltada para a gestão da verba pública”, disse.