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    Apesar da euforia de Wall Street, oferta de ações da Coinbase é adiada

    O regulador multou a corretora em US$ 6,5 milhões por apresentar dados de transações enganosos que potencialmente inflaram o volume de negociações

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    A Coinbase Global, maior corretora de criptoativos do mundo, estava próxima de concluir sua oferta pública em Wall Street em março. Não se trata exatamente de um IPO, já que a listagem será feita de forma direta — com investidores e funcionários convertendo suas participações em ações –, mas o resultado prático será parecido: os papéis da empresa passarão a ser negociados na Nasdaq.

    Antes que o processo fosse concluído, no entanto, já surgiram os primeiros problemas. A Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC em inglês) multou a corretora em US$ 6,5 milhões por apresentar dados de transações enganosos que potencialmente inflaram o volume de negociação em sua plataforma profissional GDAX.

    Além disso, o regulador afirmou, no âmbito da punição, que um ex-funcionário da empresa teria realizado “wash trading”, que é o ato de vender e comprar simultaneamente os mesmos ativos para criar atividade artificial e enganar o mercado, em 2016. Segundo a Bloomberg, há outras investigações em curso.

    Para lidar com os questionamentos, a Coinbase decidiu então adiar a sua listagem, a princípio, em 15 dias. Ainda segundo a rede de notícias americana, a plataforma quer resolver todas as pendências legais antes de sua estreia na Nasdaq. Entre os entusiastas das criptomoedas, cresce o temor de que entidades regulatórias possam dificultar o processo.

    Enquanto isso, à espera da abertura da companhia, o mercado se bem mostrou animado, e os motivos são tão simples quanto parecem. Primeiro que, como empresa, a corretora já entregou resultados extremamente positivos em 2020, com receita líquida superior a US$ 1,1 bilhão. Além disso, esse passo está sendo visto como um caminho para dar credibilidade aos criptoativos e aumentar o acesso seguro a eles.

    “Como ação, a Coinbase será parecida com a ICE, controladora da NYSE, e com a B3, já que realiza intermediação e custódia de 19 criptomoedas e mais de 40 criptoativos”, diz Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities. “O mercado espera que seja uma das maiores ofertas do ano.”

    Com isso, o valuation da empresa já disparou e alcançou, segundo a agência de notícias Reuters, os US$ 68 bilhões. Em um documento regulatório, a Coinbase disse que suas ações no mercado privado foram negociadas a um preço médio ponderado de US$ 343,58 cada no primeiro trimestre até 15 de março, ante US$ 28,83 por ação no terceiro trimestre de 2020. Isso que representa um salto de quase 13 vezes em sua avaliação em alguns meses. 

    O número é suficiente, inclusive, para que a novata supere o valor de mercado da própria ICE, da Nasdaq e da Bolsa de Valores de Londres, e a coloca US$ 4 bilhões abaixo da operadora de bolsa de futuros CME, de acordo com dados da Refinitiv. Para se ter uma ideia, o valor de mercado da B3 é de cerca de US$ 19 bilhões.

    Mercado

    A oferta pública da Coinbase ocorre em meio a um boom de criptomoedas em geral, com o bitcoin, em particular, ganhando mais aceitação entre as principais empresas e investidores e superando a barreira dos US$ 60 mil. Até grandes companhias, como a Square e a Tesla, vêm comprando o ativo nos últimos meses.

    “Existe um grande interesse de acessar este mercado por parte dos investidores. Alguns têm dúvidas, outros, como gestores de fundos, não podem investir em cripto por conta de questões regulatórias. A expectativa é que a empresa se torne uma forma indireta de investir nesse tipo de ativos”, diz Zanin.

    “Do lado da empresa, o contrário também é válido. A Coinbase já disse que tinha outras formas de levantar capital, mas ir à bolsa traz credibilidade, algo que, do ponto de vista de alguns, ainda falta aos criptoativos. A listagem traz também visibilidade, o que pode atrair ainda mais clientes.”

    E aqui, quando se fala de clientes, é claro que a empresa olha para o varejo, mas os investidores institucionais são o grande alvo. A companhia já conta com a carteira da Tesla, de US$ 1,5 bilhão, e quer reforçar a tendência. “Além de ser mais volume, é um dinheiro mais estável”, explica Zanin.

    Empresa

    De acordo com prospecto entregue à SEC, a CVM americana, a Coinbase teve receita líquida de US$ 1,14 bilhão em 2020, ante US$ 483 milhões no ano anterior. A empresa também registrou lucro líquido de US$ 322 milhões no ano, após registrar prejuízo em 2019, mostrando que já não é mais deficitária.

    A corretora declarou ainda que tinha 43 milhões de usuários verificados no final de 2020, com 2,8 milhões fazendo transações mensais. Para efeitos comparativos, a B3 possuía, ao final de 2020, 3,2 milhões de usuários. Os negócios de bitcoin e ethereum representam 56% do volume de negócios na plataforma.

    O analista explica que a plataforma ainda possui algumas vantagens competitivas. Como o mercado de criptoativos é mais fragmentado, ela ganha por ser a empresa mais reconhecida do meio e consegue cobrar taxas mais altas de corretagem, algo que as empresas que vendem ações já não conseguem fazer.

    A comissão começa em 0,5% e pode até subir conforme as condições do mercado –lembrando que há negociação ininterrupta dessa classe de ativos.

    Para investir

    Como a empresa não terá BDR inicialmente, a única forma de o investidor brasileiro comprar ações da Coinbase será operando diretamente na bolsa americana. Para quem busca outra alternativa, a CVM aprovou o primeiro ETF de bitcoin da bolsa nacional. O QBTC11, gerido pela QR Capital, espera movimentar R$ 500 mi em sua oferta primária. 

    *Com informações da Reuters

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