Ar da região mais poluída do mundo está associado a perdas de bebês
Índia, Bangladesh e Paquistão somam aproximadamente 350 mil abortos espontâneos
Mulheres grávidas no sul da Ásia que foram expostas à poluição do ar têm mais risco de sofrer uma perda da gravidez, um aborto espontâneo ou ter um filho natimorto, de acordo com um novo estudo.
Pesquisadores descobriram que cerca de 349.681 perdas de bebês a cada ano na Índia, Bangladesh e Paquistão estavam associadas à má qualidade do ar.
Publicado na revista “Lancet Planetary Health” na quarta-feira (6), o estudo sugere que, se esses países cumprissem o padrão de qualidade do ar da Índia, 7% das perdas poderiam ter sido evitadas.
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O ar poluído já havia sido associado ao aumento no número de abortos espontâneos, partos prematuros e crianças com baixo peso ao nascer, como resultado dos efeitos da poluição na mãe. Outra pesquisa descobriu que a poluição pode romper a placenta da mãe e potencialmente atingir os fetos no útero.
No entanto, acredita-se que esse estudo seja o primeiro do tipo a quantificar o efeito da poluição ambiental nas perdas de bebês no Sul da Ásia, uma das regiões mais poluídas da Terra. Os autores afirmam que suas descobertas são importantes para melhorar a saúde pública e a saúde materna, especialmente em países de baixa renda.
“O Sul da Ásia tem o maior número global de perdas de gravidez e é uma das regiões mais poluídas por PM2.5 (material particulado fino) do mundo. Nossas descobertas sugerem que a má qualidade do ar pode ser responsável por uma quantidade considerável de perdas de gravidez na região, fornecendo mais justificativas para ações urgentes a fim de combater os níveis perigosos de poluição”, disse o autor principal do estudo, o doutor Tao Xue, professor adjunto da Universidade de Pequim, China.
O PM2.5 ou material particulado fino pode penetrar profundamente nos pulmões quando inalado e entrar na corrente sanguínea. Compostas de poeira, sujeira, fuligem ou fumaça, as partículas têm origem em canteiros de obras, ruas não pavimentadas, campos, chaminés ou incêndios e podem conter diferentes produtos químicos. A maioria das partículas é uma mistura de poluentes de emissões de usinas elétricas, fábricas e veículos.
A exposição a essas partículas têm sido associada a distúrbios pulmonares e cardiovasculares e pode prejudicar as funções cognitivas e imunológicas.
Os pesquisadores se concentraram nessas minúsculas partículas de poluição e descobriram que, entre 2000 e 2016, 7,1% das perdas de gravidez no Sul da Ásia foram atribuídas a mães expostas a uma poluição do ar que excedeu o padrão atual de qualidade do ar da Índia, de 40 microgramas por metro cúbico de ar.
Ainda segundo o estudo, por conta da poluição do ar acima das diretrizes de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde, que recomenda 10 microgramas por metro cúbico de ar, a exposição pode ter contribuído para 29% das perdas de gravidez.
Segundo o estado, mulheres grávidas mais velhas ou de áreas rurais corriam maior risco do que mães jovens de áreas urbanas. A perda de gravidez associada à poluição do ar era mais comum na região das planícies do norte da Índia e do Paquistão.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores analisaram dados de pesquisas domiciliares sobre saúde de 1998 a 2016, e estimaram a exposição à poluição durante a gravidez com a ajuda de satélites. Eles então criaram um modelo que examinou como a exposição à poluição aumentava o risco de uma mulher perder o bebê, considerando a idade materna, temperatura e umidade, variação sazonal e tendências de longo prazo em perdas de gravidez.
O estudo avaliou 34.197 mulheres que tiveram a gravidez interrompida, incluindo 27.480 abortos espontâneos e 6.717 natimortos. Das perdas, 77% eram da Índia, 12% do Paquistão e 11% de Bangladesh.
Os autores disseram que a pior qualidade do ar pode aumentar o número de perdas de gravidez em países de baixa e média renda, portanto, diminuir os níveis de poluição poderia reduzir a quantidade de abortos espontâneos e natimortos, e ainda levar a melhorias na igualdade de gênero.
“Sabemos que perder uma gravidez pode ter efeitos mentais, físicos e econômicos sobre as mulheres, incluindo o aumento do risco de transtornos depressivos pós-parto, mortalidade infantil durante a gravidez subsequente e aumento dos custos relacionados à gravidez, como a perda de trabalho”, disse o coautor Dr. Tianjia Guan, da Academia Chinesa de Ciências Médicas e do Peking Union Medical College.
O estudo alerta que mais pesquisas são necessárias para estabelecer a causalidade entre a poluição e a perda de gravidez, já que os dados da pesquisa estão sujeitos ao viés de memória. Os pesquisadores também não conseguiram estabelecer uma diferença entre perdas naturais de gravidez e aborto intencionais, e observaram que houve subnotificação de perdas naturais de gravidez devido a estigma ou por ignorar abortos espontâneos precoces.
O ar poluído é um grande risco ambiental para a saúde. A OMS afirma que 4,2 milhões de pessoas morrem a cada ano devido a derrames, doenças cardiovasculares, câncer de pulmão e doenças respiratórias agudas e crônicas ligadas à poluição do ar.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).