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    O que é o ‘vapor’, a modalidade de crime que leva terror ao interior do país

    Ocorrências chocam pela agressividade e pela dificuldade de reação das forças de segurança

    Anna Satie, da CNN em São Paulo

    Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram ação de criminosos em Cametá (PA
    Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram ação de criminosos em Cametá (PA)
    Foto: Twitter/ Reprodução

    Entre segunda (30) e quarta-feira (2), dois crimes similares aconteceram em pontas opostas do país. Primeiro, foi em Criciúma, no sul catarinense, onde cerca de 30 pessoas encapuzadas bloquearam ruas, atiraram contra o batalhão da Polícia Militar, usaram reféns como escudo e assaltaram uma agência do Banco do Brasil na região central da cidade.

    No dia seguinte, os moradores de Cametá, a 235 km de Belém, viveram uma madrugada de terror parecida, com cerco ao batalhão da Polícia, explosivos, reféns e assalto a uma agência do Banco do Brasil. De acordo com o governo paraense, os criminosos erraram o cofre e não conseguiram levar nada.

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    As ocorrências chocam pela agressividade e têm um apelido entre os bandidos: vapor. A ação ganha esse nome porque os criminosos chegam “fervendo” a cidades de pequeno e médio porte, dificultando qualquer reação com a exibição de poderio de fogo muito superior ao das forças policiais. O uso de um grande número de reféns como escudo humano também tem o objetivo de inibir qualquer resposta da polícia durante a ação.

    De acordo com a secretria do Pará, o que ocorreu em Cametá foi um registro pontual e que, no último ano, três ações como essa aconteceram, frente a 15 no ano anterior. O mesmo modo de operação aconteceu três vezes neste ano no interior paulista: na última semana de novembro, um grupo fugiu após assaltar agências da Caixa e do Banco do Brasil em Araraquara. Em julho, o terror foi em uma cidade vizinha, Botucatu. Em maio, na também próxima Ourinhos.

    Criciúma teve madrugada violenta, com assalto seguido de tiroteios
    Criciúma teve madrugada violenta na última segunda-feira, com assalto seguido de tiroteios
    Foto: Redes Sociais/ Reprodução

    “O crime precisa se capitalizar. Ele vê que tem a modalidade do crime que é essa, que é arriscada, mas se chega de surpresa e os policiais não podem responder, acaba sendo fácil se tem a técnica para isso”, explica Rafael Alcadipani, professor da FGV e associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No entanto, ele lembra que casos como esses acontecem desde ao menos 2016 no estado de São Paulo, quando criminosos assaltaram uma empresa de valores em Santos

    “É a ideia do ‘Novo Cangaço’, onde se derruba tudo, se pilha a cidade. O crime percebe que as cidades estão desguarnecidas e que, se usarem bem, colocam a cidade de joelhos, atuam nessa facilidade”, disse. “E eu prevejo o pior: de que isso pode continuar acontecendo”. Ele teme que a visibilidade desses crimes e a aparente facilidade com que as quadrilhas atuam podem encorajar outros grupos a agirem de forma semelhante.

    O professor opina que a solução para o problema não está somente na investigação minuciosa dos acontecimentos. Para ele, esse tipo de ação só poderia ser prevenida com um “sistema integrado de segurança pública, uma polícia de investigação bem remunerada, articulada, uma polícia militar que atue com inteligência e um Ministério Público que atue integrando as polícias e não as separando”.

    “Daqui a pouco, eles vão prender alguém e vão achar que está tudo resolvido. Não está, porque não atacou a raiz do problema”, declarou.  

    Policiais trocaram tiros com criminosos durante a madrugada em Botucatu
    Policiais trocaram tiros com criminosos durante a madrugada em Botucatu
    Foto: Reprodução – 30.jul.2020 / CNN