Grande Debate: ‘E daí?’ Declaração de Bolsonaro sobre mortes foi desrespeitosa?
Thiago Anastácio e Gisele Soares também abordaram flexibilização do isolamento social e os médicos cubanos no combate ao novo coronavíru
Com participação dos advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares, O Grande Debate desta quarta-feira (29) abordou a declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o recorde no número de mortes pela COVID-19 no Brasil.
Segundo o Ministério da Saúde, 474 novas mortes foram confirmadas nas últimas 24 horas, totalizando 5.017 no país até terça-feira (28). Questionado sobre a tragédia da pandemia no país, Bolsonaro declarou: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, disse, em referência ao próprio sobrenome. “Mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente, a gente quer ter uma morte digna e deixar uma boa história para trás. O que eu mais quero é entregar um Brasil muito melhor do que eu recebi para quem vier me suceder.”
A reação do presidente recebeu críticas e foi analisada pelos debatedores. Além desse tema, os participantes ainda debateram sobre possíveis flexibilizações de isolamento social neste momento, se médicos cubanos devem ajudar no combate ao novo coronavírus
Thiago Anastácio abriu a discussão sobre o teor do posicionamento de Bolsonaro e fez críticas. “Esse ponto do nosso debate é muito complicado, porque se para pra fazer uma crítica ou um elogio, nós entramos numa esfera da ausência de lógica”, iniciou ele.
“Fico consternado com uma situação como essa. Não é preciso ser o Messias, mas ter passado recados e exemplos, porque um líder vai sempre fazer seu povo ser direcionado pela palavra – na qual já sabemos que não devemos confiar – e pelo exemplo, que agora se mostra absolutamente errado. Não adianta passar a mão na cabeça do presidente. Vocês acham razoável que, com pessoas morrendo, um presidente diga e ‘daí?'”, acrescentou.
O advogado concluiu a argumentação inicial dizendo que abordar esse assunto vai além da lógica e necessita de repúdio veemente. “Critique-se quando se deve ser criticado e elogie-se quando se deve, mas isso ultrapassa o bom senso e a mãe de todas as leis, que é a educação”, disse.
Nesse ponto, Gisele Soares concordou com o debatedor. Ela classificou que tratou-se de “uma manifestação muito infeliz e um trocadilho bastante reprovável”. “Devemos respeito às mortes não só causadas pela COVID-19, mas a todas que vêm ocorrendo e que ainda não sabemos exatamente qual foi a causa. Esse é um tema muito difícil e tratar a morte com banalização é realmente bastante desrespeitoso”, considerou.
Para a advogada, o momento pede “calma, cautela e parcimônia”, além de respostas do ministro da Saúde, Nelson Teich, sobre o real número de casos do novo coronavírus no país.
O mediador do debate, Reinaldo Gottino, entrou na discussão com um questionamento adicional: “Em 1 ano e quatro meses no cargo, o presidente já não deveria saber o que pode ou não dizer?”, quis saber ele.
Gisele Soares considerou que Bolsonaro “tem uma maneira muito peculiar e espontânea de se comunicar” e que responde de um jeito reativo por ser alvo de críticas, mas voltou críticas para os governos estaduais. A gente não pode esquecer que essa competência foi, inclusive, garantida pelo STF, então é preciso que governadores e, também, prefeitos nos tragam essas respostas”, cobrou ela.
Thiago Anastácio saiu em defesa dos prefeitos e governadores. “Os estados estão fazendo muito mais coisas e não estão criando problemas políticos”, avaliou ele. “Os governadores deveriam ser aplaudidos, neste momento, porque estão dirigindo seus estados por termos cada vez mais problemas no governo federal”, completou.
Gottino trouxe outra reflexão e colocou outra pergunta no debate. “O presidente disse, na sequência, que é solidário com as famílias das vítimas. Isso diminui o impacto do que ele falou anteriormente?”, questionou.
Thiago considerou que não. “Não podemos fechar os olhos para fatos. Vocês acham que o presidente deve aprender a falar quando já é presidente?”, devolveu. Gisele avaliou que a segunda colocação de Bolsonaro é importante, mas que “infelizmente não diminui o impacto da primeira”.