Guarulhos tem 4 vezes mais mortes por coronavírus que Campinas
De proporção semelhante e iguais em vários aspectos, municípios paulistas vivem realidades completamente distintas no enfrentamento da pandemia
Duas grandes cidades do estado de São Paulo, com mais de um milhão de habitantes, enfrentam realidades bem diferentes em relação à pandemia do novo coronavírus. Guarulhos já registrou 283 mortes pela doença, enquanto Campinas tem 78.
As duas cidades estão entre as maiores do estado e são muito parecidas em vários aspectos. Guarulhos, na Grande São Paulo, e Campinas, no interior, são cortadas por rodovias de grande circulação, Anhanguera, Bandeirantes e Presidente Dutra.
As duas também têm aeroportos importantes: Viracopos, em Campinas, é o maior em movimentação de carga, e Cumbica, em Guarulhos, é o maior da América do Sul.
Neste momento, a grande diferença entre as cidades é o número de casos da Covid-19. Raul Borges é professor de Geografia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e faz parte de um grupo que estuda o avanço da doença fora da cidade de São Paulo.
Essa diferença pode ser explicada por duas questões: a desigualdade social existente em Guarulhos e a proximidade da cidade com a capital do estado. Borges lembra que um estudo feito pelo IBGE mostra que proporcionalmente Guarulhos tem mais moradores em favelas do que São Paulo: 280 mil pessoas.
Para entender essas diferenças, a CNN foi até as duas cidades para conhecer a realidade. Em Guarulhos, os primeiros casos começaram a ser diagnosticados no centro, e a doença foi se espalhando para a periferia. Ricardo Santos, morador que perdeu o pai para a doença, alerta para o grande número de pessoas sem usar máscaras na cidade.
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Já em Campinas, o início da doença foi verificado em bairros de classe média e alta, de onde a Covid-19 se espalhou para os bairros da periferia. A maior preocupação está em Campo Grande e Ouro Verde, dois bairros que são áreas de grande concentração de pessoas e que possuem 13% dos casos. Para evitar a disseminação dos casos, o comitê municipal de enfratamento da doença iniciou o isolamento social em 16 de março, uma semana antes do decreto estadual.
As duas cidades possuem hospitais de campanha. O de Guarulhos foi o primeiro do país a ser construído e tem laboratório, tomógrafo, raio-x e ultrassom. São 56 leitos de enfermaria e 14 de UTI, em uma estrutura que custa R$ 5 milhões por mês.
De acordo com o prefeito Gustavo Costa (PSD), Guarulhos tem uma série de dificuldades. A cidade tem recursos bloqueados pela Justiça. Falta dinheiro e respiradores no mercado para aumentar o número de UTIs na rede de saúde.” A gente está chegando perto do colapso , estamos correndo muito para conseguir contratar novos leitos”, diz.
Em Campinas, o hospital de campanha foi montado por uma ONG. São 36 leitos, com a possibilidade de expansão a 114. Um dos grandes trunfos da cidade do interior para combater a pandemia é o sistema de saúde. Campinas conta com o Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que é referência para 6 milhões de pessoas que vivem na cidade e em outros 60 municípios do entorno.