‘Racismo à brasileira’ degrada sociedade como um todo, diz Comissão Arns
Nota foi produzida após vir a público a morte de João Alberto Silveira Freitas, dentro de um supermercado Carrefour na zona Norte de Porto Alegre
Segundo delegada Roberta Bertoldo, João Alberto Silveira Freitas sofreu asfixia
Em nota pública divulgada na tarde de sexta-feira, a Comissão de Defesa de Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns) afirma que o “racismo à brasileira” degrada a sociedade como um todo e alerta para a “escalada da violência contra a juventude negra e pobre, assim como para o racismo em empresas que lidam diretamente com o público – como supermercados, lojas, shopping-centers –, em eventos recorrentes, que vão da humilhação verbal
à tortura”.
A nota foi produzida após vir a público a morte de João Alberto Silveira Freitas, dentro de um supermercado Carrefour na zona Norte de Porto Alegre, ocorrida na véspera do Dia da Consciência Negra. A Comissão Arns tem acompanhado casos semelhantes, como o ocorrido em São Paulo no ano passado, quando um jovem negro foi chicoteado por seguranças do supermercado Ricoy.
Fazem parte da Comissão lideranças e expoentes da defesa dos direitos humanos no Brasil, assim como intelectuais e acadêmicos ligados à causa, como o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, e a filósofa Sueli Carneiro, diretora do Geledés, entre outros.
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Pela vida perdida de João Alberto
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns vem a público manifestar o seu mais veemente repúdio à morte, por espancamento brutal e manobras de asfixia, de João Alberto Silveira Freitas, nas dependências do supermercado Carrefour, na zona Norte de Porto Alegre. Crime hediondo, mancha com sangue e vergonha este Dia da Consciência Negra.
A morte de João Alberto acrescenta mais um capítulo ao racismo histórico, estrutural, com o qual a sociedade brasileira convive – e, frequentemente, tolera. Mais uma triste página de um país que todos os dias pune cidadãs e cidadãos negros, sob múltiplas formas de discriminação e violência. Não é à toa que a taxa de homicídios da população negra brasileira tenha alcançado 37,8 por 100 mil habitantes, enquanto está em 13,9 para os brancos, como informa o Atlas da Violência de 2020 (Ipea-FBSP).
Esta Comissão vem alertando a sociedade para a escalada da violência contra a juventude negra e pobre, assim como para o racismo em empresas que lidam diretamente com o público – como supermercados, lojas, shopping-centers –, em eventos recorrentes, que vão da humilhação verbal à tortura. Mas o “racismo à brasileira” parece seguir o seu caminho, impávido, degradando a sociedade como um todo e cada um de nós como indivíduos.
Exigimos que a vida perdida de João Alberto não vire estatística. Que a sua morte seja apurada com o rigor que a gravidade impõe. Que se apure a responsabilidade do estabelecimento comercial pela contratação de empresa de segurança adepta de práticas abusivas e tratamento desumano. Que os perpetradores do crime sejam investigados, julgados e respondam por seus atos. E que o mundo empresarial brasileiro incorpore, de uma vez para sempre, o respeito aos direitos humanos no seu dia a dia. Não podemos tolerar tanta injustiça. Basta!
São Paulo, 20 de novembro de 2020
Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo
Arns – Comissão Arns