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    ‘Momento errado’, avaliam especialistas após Rio ampliar horário de bares

    Decisão permite que bares e restaurantes na capital fluminense ampliem o horário de funcionamento até às 21h, em vez de 17h

    Aglomeração em bares no Rio de Janeiro
    Aglomeração em bares no Rio de Janeiro Foto: Ana Paula Lima/Arquivo Pessoal (5.mar.2021)

    Paula Martini e Thayana Araújo, da CNN, no Rio de Janeiro

    A ampliação do horário de funcionamento dos bares não combina com o clima de “tristes e mórbidos recordes batidos diariamente”. Essa é a avaliação de Chrystina Barros, especialista em saúde pública da UFRJ, após a prefeitura do Rio prorrogar a abertura de bares e restaurantes até 21h.

    A determinação começa a valer nesta sexta-feira (12) e tem a validade de uma semana, podendo ser renovada. Infectologistas e especialistas em saúde ouvidos pela CNN dizem que não é o momento de flexibilizar as medidas de restrição devido à alta de casos e circulação de novas variantes da Covid-19

    “O Rio continua recebendo os turistas e esses bares se tornam ponto de encontro de pessoas que ‘dão carona’ ao vírus com suas diversas variantes. Eles são ambientes de franca disseminação não só no nosso estado, mas em todo país e todo mundo”, destaca Chrystina Barros.

    “Bares e restaurantes se tornam espaços de confraternização onde as pessoas ficam sem máscaras e, muitas vezes, relaxam pelo contexto de confraternização e consumo de bebidas alcoólicas. Soma-se isso ao fato de muitos bares e restaurantes serem ambientes fechados onde não há circulação de ar. O relaxamento dessa medida pode ter um impacto muito importante na disseminação do virus”, complementa a pesquisadora.

    Para o infectologista José Pozza Junior, da Unirio, a prefeitura deveria ter adotado medidas mais duras, e não recuado. 

    “O maior problema é que as pessoas estão se sentido um pouco mais confortáveis pelo Rio de Janeiro, até agora, não apresentar um número exorbitante de casos notificados. Mas o número de internações por Covid-19 e síndrome respiratória aguda grave vem aumentando. Por isso, acredito que qualquer atividade que tenha risco de gerar aglomeração deve ser restrita. Muita gente questiona a exposição no transporte público, que é enorme, mas esse é um problema crônico que não vamos conseguir resolver de uma hora para outra. Então a saída é realmente conter o avanço da doença em atividades que conseguimos controlar”, diz.

    Apesar do alerta, o professor diz que ainda não é momento de falar em lockdown no Rio, mas de reforçar as medidas de prevenção como o uso de máscara e o distanciamento social.

    A pesquisadora do Observatório Fiocruz Covid-19, Margareth Portela, lembra que os outros estados do Sudeste estão em zona crítica, e considera que a decisão da prefeitura é temerária, podendo causar maior impacto sobre a população mais jovem.  

    “São Paulo entrou na zona crítica, Minas Gerais e Espírito Santos tiveram aumentos e estão quase na zona crítica, com 79% de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos. No Rio de Janeiro houve crescimento do indicador, mas chega a ser surpreendente que seja o único estado no país que apresentava taxa de ocupação pouco inferior a 70% no último dia 08 de março, quando os dados foram obtidos por nós”, concluiu.

    Além de prorrogar as medidas restritivas até o dia 22 de março, a prefeitura também decidiu escalonar o horário do comércio e dos serviços para reduzir aglomerações no transporte público.

    Os especialistas consideram a estratégia positiva, mas ressaltam que ela pode até agravar a lotação dos ônibus e trens se não houver planejamento.

    “A estratégia é correta desde que as concessionárias ofereçam um número adequado de veículos durante o dia todo. Não adianta colocar toda frota no período que seria inicial e ir retirando durante o dia. Porque aí você vai ter gente circulando pela cidade em vários horários e, sem mexer nas linhas, pode ter aglomeração. Tem que haver diálogo com as empresas para que elas adeque a oferta a uma demanda diferente do habitual”, avalia o infectologista José Pozza Junior.