Compra de coletes: lobista evitou conversas em público após flagrante em cafeteria, apontam mensagens
Imagens do encontro fazem parte do inquérito da PF e mensagens foram interceptadas; CNN teve acesso ao conteúdo
Em meio às investigações sobre a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, em 2018, conversas interceptadas de lobistas revelam que houve um acordo para que eles não conversassem em público sobre as compras dos 9.360 coletes balísticos para a Polícia Civil do Rio de Janeiro. O contrato de R$ 40 milhões foi feito sem licitação.
O “sinal vermelho”, como disseram, foi após um flagrante entre o lobista Fernando Baiano, delator da Lava Jato, e Glauco Octaviano Guerra, advogado da CTU Security no Brasil, empresa vencedora do contrato, em uma cafeteria no shopping Fashion Mall, no Rio de Janeiro.
Segundo aponta o inquérito da PF, a qual a CNN teve acesso, o encontro foi às 11h30 de 12 de junho de 2018 e virou notícia no blog do jornalista Lauro Jardim em 11 de setembro com título “O Café do Baiano”, onde menciona o encontro do lobista com Guerra.
Glaucio Guerra, irmão de Glauco, enviou o link da matéria e fez o alerta.
“Não deu em nada, mas acendeu a luz vermelha para os encontros em lugar público”, disse Guerra a um colega. Uma outra pessoa responde: “Nem falar alto”, que recebe um “sim”.
Logo após, há uma sugestão entre eles para evitar que alguém ouvisse as conversas: “De preferência, pegar carona no carro e ir conversando”. “Sim, todo mundo de olho”. “Sempre tem um invisível [observando]”.
Segundo a PF, as conversas foram sobre uma concorrência para equipamentos, como coletes, do Exército.
“A matéria jornalística contém duas imagens do encontro, uma de Fernando Baiano sentado sozinho e outra onde ele está de pé conversando com outra pessoa, que pelas imagens trata-se de Glauco Octaviano Guerra, irmão de Glaucio. Em seguida, Glaucio avisa que não deu em nada, mas acendeu a luz vermelha para encontros em lugar público”, diz o relatório da PF.
No inquérito, a investigação aponta que o encontro mencionado na reportagem ocorreu um dia antes do acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) em referência à consulta realizada pelo então interventor federal, general Walter Braga Netto, que liberou o contrato de R$ 40 milhões sem licitação com a CTU Security, mas estabeleceu que a vigência dos contratos firmados com dispensa de licitação deveriam ser limitadas à data final estabelecida para intervenção.
A PF aponta Glauco Octaviano Guerra como o principal articulador no Brasil para concretizar a venda dos coletes ao Gabinete de Intervenção Federal do RJ e diz que ele tem grande influência nos órgãos públicos envolvidos. “É responsável por toda articulação com militares da reserva em troca de influência no GIFRJ e interferência no processo licitatório de compra de coletes”, detalham os investigadores.
Já Fernando Baiano, de acordo com as investigações, foi preso em 2015 na operação Lava Jato por atuar como lobista e atuou como investidor no negócio da compra de coletes ao Rio de Janeiro em 2018. A PF aponta que ele sabia antes do início da concorrência que eles iam vencer a disputa.
Os dois foram alvos de mandados de busca e apreensão pela PF na terça-feira (12).
Outro lado
A CNN não conseguiu contato com Glauco Guerra e Fernando Baiano nos números disponibilizados. O espaço segue aberto.
O general Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e interventor federal à época, declarou em nota que todo o trâmite do contrato teve respaldo do TCU, mas partiu do próprio gabinete a suspensão com a empresa CTU após descumprimento do contrato.