O Grande Debate: quem são os responsáveis pelo recorde de contágio?
Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla discutem a frase de Bolsonaro de que as mortes pelo coronavírus não são culpa sua
O Grande Debate da noite desta quarta-feira (29) abordou dois temas. Primeiro, Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho discutiram a fala de Jair Bolsonaro de que as mortes por coronavírus não são culpa sua, e que os governadores e prefeitos têm que ser questionados pelos altos números de óbitos. Depois, debateram a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de suspender a nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal.
Para Caio, existem duas maneiras de encarar esta pandemia, uma de maneira alarmista e outra de maneira positiva. Segundo ele, a primeira linha de argumentação foi escolhida pelos político “para tomar para si a salvação de vidas”. Caio acredita que os políticos deram voz “a especialistas apocalípticos, ignorando tratamentos experimentais e a perda de vidas por problemas econômicos”. Por fim, afirmou que a população é quem decidirá o culpado pelas mortes.
Já Augusto citou estudos que indicam que a situação no Brasil ainda é de calamidade, e que o momento não é de pensar em reabertura. “No Brasil, o total de mortos pelo coronavírus dobra a cada sete dias, mesmo o ministro da Saúde admitiu hoje que não sabe quando será o pico da doença no país nem o exato número de pessoas infectadas pela COVID-19. Há também o número de mortes de síndrome aguda grave, que cresceu em 1.000% na média, um indicativo de que há mais pessoas morrendo de coronavírus do que imaginamos. Um estudo feito por 47 pesquisadores do mundo mostram que o Brasil tem a maior taxa de contágio do mundo, 2,81 por pessoa. Repetindo o que o ministro disse hoje, estamos navegando às cegas”, disse.
Caio então citou o estudo COVID Brasil, que, segundo ele, “propõe modelo epidemiológico que considera características do Brasil como clima e pirâmide etária”. “Estudo faz conta inversa para determinar a curva epidemiológica, partindo dos óbitos para estimar o contágio e determinar se estamos próximos ou não do fim da pandemia. Importante lembrar também que um fator determinante é o acesso a leitos de UTI, e em São Paulo estamos tranquilo em relação a isso”, disse.
Sobre as experiências de flexibilização da quarentena, Augusto trouxe o caso de Blumenau, que na última semana teve seus shoppings reabertos com vídeos que mostravam grandes aglomerações para entrar nos centros comerciais. “Blumenau abriu seu comercio semana passada. Quando isso aconteceu, a cidade tinha 95 casos confirmados, somente no final de semana após a reabertura, 62 casos surgiram, fazendo com que o número de infectados passassem de 95 para 194 casos. Na Alemanha a flexibilização já começou a dar problema, com órgão oficial que auxilia o governo afirmando que a liberação, ainda que gradual, já aumentou o índice de infecção e letalidade do país”, disse.
Para Caio, é preciso pensar na flexibilização gradual, que tenha método e que leve em consideração as particularidades de cada região. “Sempre defendi a flexibilização gradual, em fases, com a adoção de protocolos de segurança individual. Não tem nada de não científico nisso. O comportamento individual impacta na coletividade. É possível usar protocolos e liberar atividades controladas, como fábricas e escritórios, e evitar a pauperização da população”, afirmou.
Suspensão da nomeação de Ramagem
O segundo assunto do debate foi a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem para o posto de diretor-geral da Polícia Federal.
Para Caio, a ação de Alexandre de Moraes indica que o ministro “mantém seu histórico de decisões políticas da corte”. “Mesmo com a imprensa mostrando que o nome superava todas as exigências para o cargo, e que tinha ótima reputação entre os pares, a amizade com o presidente Bolsonaro fez com que a Justiça criasse uma jurisprudência para negar sua entrada, por um juiz que já realizou forte ataque à liberdade de imprensa ao censurar uma matéria que criticava um membro da corte. O conteúdo do mandado de segurança é eminentemente político, e tentou manchar a imagem de um policial federal de reputação ilibada. O STF está julgando no tempo futuro”, disse.
Augusto concordou com a crítica de Caio sobre o tempo futuro, mas disse: “Na decisão do Supremo, a separação de poderes aparece no início da sentença, admitindo ser poder do presidente a nomeação. Então, para justificar a suspensão, a peça citou as frases de Moro, Bolsonaro e Carla Zambeli no dia da demissão do ex-ministro de Justiça, afirmando com base nessas falas um desvio de finalidade”, disse. “Para concordar com o resultado da decisão, tenho que presumir que as falas são verdadeiras. Porém o inquérito ainda sendo realizado. É uma decisão antecipada demais e que poderia ter sido melhor apurada ao longo da investigação que o próprio Supremo está fazendo. É um caso típico de judicialização da política”, disse.
Caio finalizou dizendo que “a fala do Augusto me lembrou outro vício do STF, que é antecipar votos”.