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    Assassinato da ex-vereadora Marielle Franco completa 3 anos neste domingo (14)

    Um levantamento feito pela CNN mostra que já foram realizadas oito operações e setenta prisões durante as investigações do caso

    Iuri Corsini, da CNN, no Rio de Janeiro

    Passava das nove horas da noite de 14 de março de 2018, quando a então vereadora Marielle Franco, o motorista Anderson Gomes e a assessora Fernanda Gonçalves saíam de um evento na Lapa, no centro do Rio. Os três entraram no carro da parlamentar e deixaram o local. O que não sabiam é que estavam sendo seguidos por matadores de aluguel. Poucos minutos depois, quando passavam pelo Estácio, ainda no centro da cidade, o carro da vereadora foi alvo de vários tiros.

    O Ministério Público diz que foi um veículo dirigido por Élcio de Queiroz que emparelhou com o carro da parlamentar e, de dentro dele, o PM reformado Ronnie Lessa teria atirado ao menos treze vezes contra o grupo. A vereadora, que estava sentada no banco traseiro, foi atingida quatro vezes na cabeça enquanto Anderson levou três tiros nas costas. Marielle morreu na hora e o motorista perdeu a vida antes do socorro chegar. Fernanda conseguiu escapar ilesa – ao menos fisicamente.

    As defesas de Élcio e Ronnie negam as acusações e afirmam que o MP não tem provas suficientes para convencer o júri da participação de ambos. Bruno Castro, advogado de Lessa, diz que “o MP vai para o júri se agarrando na comoção social do caso”. Ele argumenta que não há prova de que ele estava dentro do carro de onde saíram os tiros que tiraram a vida de Marielle e Anderson.

    Já se passaram três anos desde esta brutal execução. Mesmo decorrido todo esse tempo, persistem dúvidas e perguntas sem respostas. Afinal, quem mandou matar Marielle Franco e por quê?

    “Já são três anos e ainda temos tantas perguntas sem respostas. Mais uma vez, cobramos das autoridades mais empenho. Não tem como mensurar a dor de uma mãe com uma perda dessa”, afirmou Marinete Silva, mãe de Marielle, em evento virtual promovido pelo Instituto Marielle e Anistia Internacional do Brasil.

    Nestes três anos já foram três governadores no Rio, dois presidentes da República, três delegados, dois promotores, dois procuradores gerais de Justiça e algumas trocas na segurança pública do Rio de Janeiro. Tantas mudanças no comando das investigações, inclusive, são alvos de preocupação por parte dos familiares de Marielle e Anderson.

    “Toda mudança causa impacto. A mudança realmente é uma preocupação. Tenho acompanhado o caso diretamente e ainda está numa fase de transição muito grande. É muita coisa envolvida para formar uma equipe preparada para tocar as investigações em pouco tempo. Então causa preocupação, sim”, disse Marinete.

    Levantamento da CNN revela que, desde a morte de Marielle, foram realizadas pelo menos oito operações e 70 prisões relacionadas às investigações do MP e da Polícia Civil do Rio em desdobramentos diversos das apurações iniciadas com o caso.

    Força tarefa e dados da internet

    Em março deste ano, o MP do Rio de Janeiro criou uma força-tarefa específica para atuar nas investigações do caso Marielle. Anielle Franco, irmã da vereadora, elogiou e acredita que a nova frente dará força à investigação.

    A criação da força-tarefa foi iniciativa do procurador-geral de Justiça do Rio, Luciano Mattos, que diz que há diversas linhas investigatórias e que podem resultar no desfecho do caso. “Hoje, o caso conta com vários procedimentos investigatórios correlatos à questão do mandante. Então, designamos uma equipe de promotores para ficarem voltados com exclusividade nesse desfecho”, disse à CNN.

    Além dessas linhas de investigação sigilosas, há ainda a expectativa de dados da internet que podem ajudar a esclarecer o assassinato. O Facebook vai ceder informações relacionadas ao caso e a Justiça do Rio também espera receber dados do Google – a busca por essas informações, aliás, está em uma batalha jurídica que foi parar no Supremo Tribunal Federal.

    Com essas informações das gigantes da internet, os investigadores esperam conseguir rastrear uma ligação entre os executores e os mandantes do crime, através, por exemplo, do histórico de pesquisa por palavras chaves correlatas à Marielle e sua agenda.

    Uma das teses investigadas é de que Marielle foi morta como forma de vingança pela atuação do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL). Ambos trabalharam juntos quando ele presidiu a CPI das Milícias, em 2008. Nessa linha de apuração, há os nomes de dois ex-políticos Cristiano Girão e Domingos Brazão como possíveis mandantes – ambos negam envolvimento com o crime.

    Marielle Franco (14 de março de 2021)
    A ex-vereadora Marielle Franco (14 de março de 2021)
    Foto: Reprodução / CNN

    Código de honra de matadores

    A morte de Marielle é encarada por alguns especialistas como o crime mais complexo da história do Rio de Janeiro. Um deles é Marcus Neves, ex-delegado da Polícia Civil que atuou por 20 anos no combate às milícias do Rio.

    “Este foi um ato de ousadia extrema por parte do crime organizado. Já vimos o assassinato de autoridades no Rio, mas chegar a esse ponto foi uma demonstração de ousadia, era algo impensável.

    Não houve outro crime na história do Rio de Janeiro, não que eu tenha conhecimento”, afirmou Neves.
    O ex-delegado, que hoje é advogado criminalista e doutor em filosofia, acredita que as autoridades já podem ter chegado ao mandante do crime. Porém, ainda faltam provas para fundamentar o processo penal e concluir judicialmente quem de fato deu a ordem para matar a parlamentar.

    “Acho que a delegacia de homicídios já sabe quem foi o mandante, mas ainda não tem provas. A maior dificuldade é você colher a prova necessária para fundamentar o inquérito policial e processo penal, principalmente a prova testemunhal. Esses matadores têm habilidade técnica para executar os crimes sem deixar rastro”, explicou.

    O ex-delegado ainda falou sobre o “código de honra” dos matadores de aluguel, que pode dificultar ainda mais na resolução do caso. “A grande questão é que existe um código de honra entre esses matadores. O código diz que aquele que é pego praticando crime por ordem de alguém não fala quem foi. Então, se ficarem na dependência de uma eventual confissão do Lessa e seu grupo para se chegar aos mandantes, dificilmente se chegará a um veredito”.