Queda de internações em SP ocorre pela vacinação, diz João Gabbardo
Coordenador-executivo do Centro de Contingência da Covid-19 diz
Em entrevista à CNN nesta segunda-feira (14), o coordenador-executivo do Centro de Contingência da Covid-19 no estado de São Paulo, João Gabbardo, afirmou que o estado está há seis dias registrando uma queda no número de novas internações causadas pelo novo coronavírus, movimento que ocorre mais cedo do que projetado pelo governo.
No entanto, ressaltou o médico, essa redução não se deve ao respeito dos paulistas às medidas de segurança sanitária, mas sim ao avanço da vacinação no estado mais populoso do país.
“Nos nossos cálculos e projeções de quatro semanas atrás, dizíamos que aumentaria ainda o número de casos e internações até a metade do mês de junho, e que a partir da segunda quinzena de junho a tendência seria de redução de novas internações e redução de óbitos, mas isso já está aparecendo nos nossos dados”, afirmou Gabbardo.
“Isso é importante, mas não é porque a gente está cumprimento melhor as exigências e as recomendações de distanciamento físico, não, essa redução está ocorrendo porque temos uma parcela cada vez maior da população que está imunizada”, explicou.
Apesar dos números melhorando paulatinamente, a ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para Covid-19 ainda está em 80%, advertiu o médico. Gabbardo também tratou como boa notícia o fato de a cidade de São Paulo não ter encontrado evidências de que a cepa do coronavírus identificada na Índia esteja em circulação na capital, como anunciou nesta segunda-feira a Prefeitura de São Paulo.
Segundo Gabbardo, isso é importante porque o planejamento feito pelo governo do estado não leva em consideração a possibilidade de piora do quadro epidemiológico em função de uma nova variante.
Antecipação do cronograma
Gabbardo afirmou que o plano anunciado no domingo (13) pelo governador João Doria (PSDB) de que todos os adultos de São Paulo poderão receber ao menos a primeira dose de vacinas contra a Covid-19 até o dia 15 de setembro, uma antecipação de mais de 30 dias ante a previsão anterior, é factível.
Segundo o integrante do Centro de Contingência, o anúncio de Doria só aconteceu depois de uma cuidadosa análise dos números, levando-se em conta as projeções do Ministério da Saúde e contando também com “sobras de vacinas de outros grupos que anteriormente estavam sendo vacinados”. Assim, disse Gabbardo, “chegamos à conclusão de que é possível, mantendo esse ritmo, e com alguma margem de segurança, cumprir com esse cronograma”.
“O recado para a população é que a gente está perto, temos aí mais dois, três meses em que precisamos enfrentar isso [a pandemia] com bastante cuidado. Nós temos que manter o uso de máscaras e o distanciamento físico até termos vacinado pelo menos 75% da nossa população”, disse.
Questionado sobre as pessoas que receberam a primeira dose, mas não voltaram para tomar a segunda, Gabbardo defendeu que este é um problema à parte, e que não faria sentido, na atual situação do país, que vacinou pouco mais de 10% de sua população com a segunda dose, reter vacinas a espera de quem não se imunizou completamente.
Gabbardo disse que usar essas doses que seriam inicialmente destinadas à segunda aplicação para ampliar a cobertura vacinal é o certo a fazer porque “não tem sentido ficar esperando com a vacina no posto de saúde enquanto a população ainda não está vacinada”. “Temos que avançar com a população, nas faixas etárias, de acordo com a nossa disponibilidade de vacina”, argumentou.
“Paralelamente a isso”, continuou, “nós temos que fazer um trabalho de convencimento das pessoas para que elas tomem a segunda dose”.
Uso de máscaras
O coordenador-executivo do Centro de Contigência classificou o momento como “absolutamente inoportuno” para um debate a respeito da flexibilização do uso de máscaras, como vem propondo nos últimos dias o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), iniciativa confirmada também pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
“Isso é totalmente fora de propósito. Neste momento, nós temos que convencer a população de que mesmo vacinada, mesmo que ela já tenha tido contrato com a doença, ela deve se proteger e deve utilizar máscaras”, disse à CNN.
Gabbardo argumentou que ainda não se sabe por quanto tempo pessoas que tenham sido infectadas pelo coronavírus são capazes de produzir anticorpos contra ele, e que mesmo pessoas vacinadas ainda podem transmitir a doença, ainda que não manifestem sintomas.
Segundo o médico, caso o Brasil desincentive o uso de máscaras conforme avança a vacinação, o país pode passar por uma experiência como que vive atualmente o Chile, líder em cobertura vacinal no continente e que, ao mesmo tempo, passa por uma nova onda de contaminações.
“Isso aconteceria no Brasil também porque as vacinas que nós estamos usando em maior quantidade são as mesmas que o Chile utilizou”, pontuou Gabbardo.