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    Cutucar o nariz não é apenas nojento: é perigoso na época do coronavírus

    As pessoas não estão apenas espalhando suas próprias bactérias e vírus, mas também 'transferem germes da ponta dos dedos para o nariz'

    Homem coçando o nariz
    Homem coçando o nariz Foto: drobotdean/Freepik

    Starre Vartan, da CNN*

    Ensinamos as crianças a não fazer isso. É anti-higiênico. É nojento de ver.

    Mas vamos ser realistas, no entanto. A maioria de nós enfia o dedo no nariz – algo em torno de 91% da população de acordo com o único estudo (pequeno e antigo) sobre o tema.

    Só o fato de não haver mais pesquisa sobre o assunto talvez indique o pouco os cientistas querem pensar sobre tema. Olhando ao redor, no entanto, não é exatamente incomum ver alguém com um dedo no nariz, seja discretamente ou nem tanto, como a rainha Elizabeth, flagrada com o dedo no nariz em 2014.

    Brincadeiras à parte, enfiar o dedo no nariz é algo muito sério.

    Ao fazer isso, as pessoas não estão apenas espalhando suas próprias bactérias e vírus em tudo que tocam depois de catar uma caca, mas também “transferem germes da ponta dos dedos para o nariz, o que é exatamente o oposto do que alguém deseja no momento”, explicou o doutor Paul Pottinger, especialista em doenças infecciosas e professor da Escola de Medicina da Universidade de Washington em Seattle.

    Isso significa que você pode espalhar o coronavírus para outras pessoas a partir de sua sessão de “limpeza do salão”. É também mais provável que leve esse vírus, junto com outros como o da gripe ou o rinovírus (do resfriado comum), diretamente para o seu corpo.

    Como o coronavírus entra em seu corpo

    O nariz é uma das três principais portas pelas quais os vírus podem entrar no corpo. As outras duas são a boca e os olhos. Vários sistemas de defesa existem no nariz para manter os patógenos afastados, incluindo pelos na frente das narinas para bloquear partículas maiores e a membrana mucosa

    O revestimento úmido do nariz “tem glândulas microscopicamente pequenas que podem secretar muco para as vias aéreas em resposta a invasores estranhos, como coisas grandes como pólen, sujeira e poeira e também microscópicas, que incluem bactérias e vírus”, disse o doutor Pottinger.

    Um pouco de muco é algo bom e saudável, mantendo a maioria dos invasores fora. Mas, quando o muco seca, junto com o que quer que tenha pegado, ele se transforma no que a maioria de nós chama de meleca ou caca (e os cientistas chamam de crostas). Quando você sente uma no nariz, é fácil querer pegá-la sem pensar duas vezes.

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    O que muitas pessoas não percebem é como essa pele dentro do nariz pode ser delicada. Cutucar o nariz pode criar pequenos cortes nos delicados revestimentos epiteliais da cavidade nasal, segundo o virologista molecular Cedric Buckley, ex-professor associado de biologia na Universidade Jackson State no Mississippi.

    “Uma vez que essa barreira é violada, atinge-se o leito capilar, que se torna o canal para a infecção com partículas virais”, explicou Buckley, que também trabalha na Força-Tarefa da Covid-19 da cidade de Jackson. Essa violação aumenta suas chances de transmitir para a corrente sanguínea quaisquer germes que estejam em suas mãos.

    Quebrando um hábito

    Enfiar o dedo no nariz é algo a ser evitado – e mais do que nunca durante uma pandemia. Mas hábitos podem ser difíceis de quebrar, especialmente aqueles que você faz sem pensar.

    Cutucar o nariz, assim como roer as unhas, arrancar a cutícula, mastigar os lábios e puxar os cabelos, é considerado pelos profissionais de saúde mental um “comportamento repetitivo focado no corpo”.

    São “ações dirigidas ao próprio corpo e que muitas vezes se concentram em cuidar ou remover partes do corpo”, de acordo com o doutor Elias Aboujaoude, professor clínico de psiquiatria da Universidade de Stanford na Califórnia e diretor de sua Clínica de Desordem Obsessiva-Compulsiva.

    Para Aboujaoude, esses hábitos comportamentais podem ser um distúrbio clínico se resultarem em danos ou prejuízos significativos à vida pessoal ou profissional de alguém. Para muitos de nós, porém, são apenas maus hábitos, não distúrbios.

    A terapia de reversão de hábitos, uma forma de terapia cognitivo-comportamental, é uma ferramenta que os psiquiatras usam para ajudar as pessoas com comportamentos repetitivos focados no corpo.

    O tratamento “aumenta a consciência do comportamento e suas consequências, e treina o indivíduo para substituir o cutucar o nariz por uma ‘resposta competitiva’”, contou Aboujaoude. Isso significa fazer algo menos prejudicial e mais socialmente aceitável com as próprias mãos, como fechar o punho e segurá-lo, ou apertar uma bola antiestresse.

    É aqui que o uso de máscara pode ser especialmente útil. Além de eficazes na redução da transmissão de partículas transportadas pelo ar que podem conter o coronavírus, as máscaras também podem ajudar a reduzir a vontade de colocar o dedo no nariz, bloqueando fisicamente a ação habitual ou inconsciente.

    “Se a pessoa está ansiosa para parar de cutucar o nariz, tem uma grande oportunidade de aproveitar este momento na história da humanidade em que todo mundo deveria estar cobrindo o rosto”, opinou o doutor Pottinger.

    Melhores práticas de saúde nasal

    Se você descobrir que cutucar o nariz não é tanto um hábito quanto uma reação a um nariz constantemente desconfortável ou entupido, consulte seu médico. Seu problema pode ter menos a ver com aquelas crostas de nariz e mais a ver com outro problema que precisa ser resolvido.

    “Você pode ter um desvio de septo, inflamação nasal ou estar sujeito a alergias sazonais ou crônicas, situações nas quais as membranas nasais estão constantemente inchadas”, explicou o professor Buckley.

    A melhor maneira de se livrar da meleca é assoar o nariz em um lenço de papel e depois lavar as mãos, em vez de retirar as crostas.

    Higienizadores nasais ou sprays de solução salina são outra opção. “Lembre-se: a meleca é apenas um pedaço de muco seco. Se você reidratar o muco, poderá soprá-lo ou fazê-lo sair por conta própria”, disse Pottinger.

    No entanto, ele disse que todos deveriam ter seu próprio frasco, sem compartilhar, nem mesmo com parceiros íntimos. Ele deve ser mantido limpo e a ponta deve ser higienizada regularmente para que os germes não sejam transferidos para o nariz depois do uso. Se você tem um higienizador, disse Pottinger, use água esterilizada. Umidificadores para manter a umidade do ar em ambientes internos também podem ajudar a reduzir a formação de crostas.

    Previna a Covid-19 – e a perda do olfato

    Cuidar da saúde nasal, que definitivamente inclui não cutucar o nariz, reduzirá o risco de contrair o coronavírus e de transmiti-lo.

    Ao trabalhar com pacientes que contraíram a doença, Pottinger observou o efeito colateral às vezes duradouro da infecção viral que é a anosmia, ou perda do olfato, que afeta a capacidade de saborear também.

    Pacientes que apresentam essa condição ficaram “muitíssimo deprimidos e desanimados por não poderem mais saborear a comida. Tenho esperança de que algumas dessas pessoas recuperem o olfato, pois muitas conseguem. Para alguns pacientes, é uma recuperação demorada”, afirmou. “Se você gosta de comer e quer saborear coisas boas, tome cuidado para não pegar a Covid-19”.

    *Ex-geóloga, Starre Vartan é jornalista científica e corredora que mora em uma ilha em Puget Sound, perto de Seattle, e coleta pedras aonde quer que vá.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).