Risco de morrer por Covid-19 é maior em cidades pobres
Nos municípios de IDH baixo, 61,69% dos registros de Covid-19 foram de óbito; nos mais ricos, os óbitos por esta doença representam 32,9%
A chance de morrer por Covid-19 em um município com baixo ou médio Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador de longevidade, educação e renda dos brasileiros, é quase o dobro do que em uma cidade com o IDH alto. Esta é uma das conclusões de uma nota técnica divulgada nesta quarta-feira (27) pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), que envolve pesquisadores da PUC-Rio, Laboratório de Medicina Intensiva da Fiocruz e Instituto D’or de Pesquisa e Ensino.
Nos municípios de IDH baixo, 61,69% dos registros de Covid-19 foram de óbito. Nos de nível médio, 51,49%. Já nos municípios mais ricos, os óbitos por esta doença representam 32,9% do total do universo da pesquisa.”A taxa de letalidade do Brasil é muito elevada, influenciada pelas desigualdades no acesso ao tratamento”, aponta a pesquisa.
Dados do painel do Ministério da Saúde atualizados nesta quarta-feira apontam que a mortalidade por 100 mil habitantes do coronavírus é mais alta nas regiões norte (27,3) do país, com destaque para o estado do Pará (29,6), um dos que têm o menor IDH no Brasil.
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A análise considerou 157.268 notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) de 2020, dos quais 43.906 são casos confirmados de Covid-19. Destes, foram considerados somente os casos encerrados, ou seja, que já tiveram desfecho: óbito ou recuperação (alta), resultando em uma amostra de 29.933 casos. O documento também aponta que a porcentagem de pretos e pardos que morreram por Covid-19 (54,78%) foi maior do que de brancos (37,93%). Segundo os pesquisadores, essa divisão por raça se mantém mesmo quando analisas as diferentes faixas etárias. Somente na faixa dos 90 anos é que os valores se aproximam.
Já em relação à escolaridade do paciente, pessoas com nível superior apresentaram menor proporção de óbitos por Covid-19 (22,55%) do que os sem escolaridade (71,3%). “Este efeito pode ser resultado de diferenças de renda, que geram disparidades no acesso aos serviços básicos sanitários e de saúde”, apontam os pesquisadores.
Outro achado é que pretos e pardos sem escolaridade mostraram uma proporção 4 vezes maior de morte por Covid-19 do que brancos com nível superior (80,35% contra 19,65%). Os pesquisadores admitem que o estudo tem limitações, já que as notificações de SRAG confirmadas para Covid-19 não representam o total de casos confirmados do país. Também apontam que nem todos os registros da doença possuem informações sobre raça e escolaridade. “Estes resultados levantam uma série de indagações que podem vir a explicar essas diferenças, tais como diferenças de pirâmide etária, distribuição geográfica e desigualdades sociais, que afetam diretamente o acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, os desfechos das internações.”