Covid-19: Adultos de até 40 anos são maioria entre internados na UTI
A cada 100 hospitalizados, apenas sete são idosos, aponta levantamento
Pela primeira vez desde o começo da pandemia, o perfil dos pacientes internados por Covid-19 mudou. No mês passado, mais de 58,1% das internações em UTI foram de adultos com até 40 anos.
O campeão olimpico de vôlei de praia Bruno Schmidt, no auge da forma aos 34 anos e a poucos meses dos Jogos Olímpicos de Tóquio, ficou internado por 13 dias, passou pela UTI devido a Covid-19 e teve 70% dos pulmões comprometidos.
“Antes de eu pegar, não vou mentir, achava realmente que o pessoal com vigor físico e ritmo de treino, como são os atletas, seriam acometidos de uma maneira bem mais branda, praticamente assintomáticos, como grande parte vinha relatando. Foi um susto e tenho um respeito pra ele (coronavírus) tremendo agora”, afirmou o atleta, que está treinando para recuperar a forma a tempo das Olímpiadas de Tóquio.
Ao invés dos mais velhos ou doentes crônicos, pela primeira vez jovens saudáveis ocupam a maioria das vagas de UTI, segundo uma pesquisa da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) em mais de 20 mil leitos.
Em março, 58,1% das internações em UTI foram de pessoas até 40 anos. Em comparação com os meses anteriores, os mais jovens representavam cerca de 45% dos internados. Por outro lado, a ocupação de idosos acima dos 80 anos nas UTIs caiu 42%. Hoje, a cada 100 pessoas hospitalizadas, apenas sete são idosos.
O número de pacientes graves e intubados sem nenhuma comorbidade, como diabetes e obesidade, também cresceu. Entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano, o número variou entre 41,8% a 48%. No mês passado, eles já eram 58% dos internados.
Para o infectologista Renato Grinbaum, o comportamento dos mais jovens e a variante do vírus mudaram o perfil da pandemia no Brasil.
“O jovem é mais impaciente que a pessoa mais madura e a gente vê mais aglomerações, festas clandestinas, então isso favoreceu a um grande número de casos entre os jovens, mas isso seria insuficiente. Junto a isso nós temos o segundo fator, que é uma cepa variante, que me parece muito evidente, é mais agressiva e tem a capacidade de fazer casos mais graves entre as pessoas que não são do grupo de risco que é o caso dos jovens”, avalia.
Grinbaun também acredita que a imunização dos mais velhos tem surtido efeito. “A vacina é limitada, não é uma vacina perfeita, mas ela tem a capacidade de diminuir enormemente o número de casos graves. Eu acho que esse número de redução de casos nessa população de casos graves é um reflexo da vacinação prioritária que foi feita”.