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    Investigadores próximos a Aras consideram que vídeo não fortalece inquérito

    A CNN conversou com investigadores do Ministério Público Federal (MPF) que trabalham em Brasília e São Paulo e que despacham na sede da PGR

    Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), na reunião ministerial em 22 de abril, no Palácio do Planalto.
    Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), na reunião ministerial em 22 de abril, no Palácio do Planalto. Foto: Marcos Corrêa/PR

    Teo Cury da CNN, em Brasília

    Integrantes da equipe do procurador-geral da República, Augusto Aras, avaliam reservadamente que o conteúdo do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, divulgado nesta sexta-feira (22) pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), não traz novos elementos nem provas que fortaleçam a investigação.

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    A CNN conversou com investigadores do Ministério Público Federal (MPF) que trabalham em Brasília e São Paulo e que despacham na sede da Procuradoria-Geral da República (PGR) para avaliar os impactos do conteúdo divulgado nesta sexta-feira na investigação em curso no STF. Os investigadores falaram com a reportagem sob a condição de anonimato.

    Um integrante da alta cúpula da PGR considera que é “baixa a probabilidade” de as falas do presidente Jair Bolsonaro terem consequências práticas no inquérito que tramita no STF por não haver novas provas. 

    Outro investigador acredita que uma das falas do presidente — citadas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro como uma das provas de que Bolsonaro interferiu na Polícia Federal — fazia menção à segurança de sua família e que esse trecho não impulsiona as investigações.

    “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse o presidente na reunião.

    Bolsonaro alegou na última semana que a troca dizia respeito à necessidade de mudar a segurança de sua família no Rio de Janeiro, e não uma mudança no comando da Polícia Federal. 

    O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, comandado pelo general Augusto Heleno, é responsável pela segurança do presidente e seus familiares. 
     
    “E me desculpe, o serviço de informações nosso, todos, é uma… são uma vergonha, uma vergonha! Que eu não sou informado! E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô!”, disse o presidente em um outro trecho do vídeo. Neste momento em que fala novamente em interferência, Bolsonaro olha para o lado da sala de reunião onde Moro está sentado.

    Um terceiro integrante da cúpula da PGR considera “bem fraco” o trecho do vídeo que diz respeito à suposta tentativa de interferência política na PF. De acordo com ele, houve muita especulação em torno da divulgação do vídeo. Ele pondera, no entanto, que é preciso analisar o conjunto final das provas — trabalho que será feito por Aras.

    Outros investigadores concordam com essa avaliação. Acreditam que o vídeo não trouxe provas fortes que corroborassem o depoimento do ex-ministro e que o conteúdo divulgado ontem não muda o rumo das investigações.

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    Essa análise, no entanto, não é consensual no MPF. Parte dos investigadores avalia que a exposição das falas do presidente dá “maturidade” ao inquérito e fortalece as acusações feitas por Moro. 

    Há ainda uma ala que acredita que o conteúdo do vídeo por si só não parece o bastante para fortalecer o caso e que é preciso mais elementos indiciários, como depoimentos, declarações e apresentação de provas e documentos. 

    Questionado, Aras informou, por meio de sua assessoria, que “irá se manifestar na próxima semana após assistir à íntegra do vídeo”. Ele recebeu o material do STF por volta das 18h30 desta sexta-feira.

    Aras solicitou a abertura de um inquérito no Supremo para apurar as acusações feitas por Moro ao deixar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública.