Collor vê obstáculos na gestão do MEC e não acredita em impeachment de Bolsonaro
Ex-presidente e atual senador falou sobre nomeação de Milton Ribeiro para a pasta e avaliou o cenário político atual
Em entrevista à CNN nesta sexta-feira (10), o ex-presidente e atual senador Fernando Collor (Pros-AL) falou sobre a nomeação do novo ministro da Educação, Milton Ribeiro, e avaliou o cenário político atual. Collor acredita que por Ribeiro ser pastor presbiteriano, isso dificultará um pouco a sua gestão, pois a educação é um posto que “deve obedecer o laicismo e não aprofundar a divisão ideológica que existe hoje no país”.
“Isso [o novo ministro ser pastor] aprofunda as divisões nas relações sociais e dificulta muito o trabalho que o novo ministro terá para pacificar esse instrumento fundamental para a construção da cidadania, que é a educação, por intermédio do Ministério da Educação”, falou.
Milton Ribeiro foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como chefe do MEC nesta sexta-feira (10). A nomeação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União.
O ex-presidente também mostrou preocupação com o Ministério da Saúde, que, em meio à pandemia do novo coronavírus, não tem ministro, e sim um interino, o general Eduardo Pazuello.
Governabilidade
Collor falou sobre a importância de o chefe do Executivo construir uma base de sustentação no Congresso Nacional.
“Em um sistema de presidencialismo de coalizão, como o que vivemos, é fundamental que o presidente construa solidamente uma maioria parlamentar, porque sem maioria no Congresso o presidente não governa e, não governando, não conclui o mandato.”
Ele lembrou ainda que como líder político, “o presidente precisa fazer política por intermédio dos instrumentos que a democracia lhe confere, que são os instrumentos institucionais dos partidos políticos e dos políticos”. Portanto, quando Bolsonaro divide o governo, dificulta a aproximação, afirmou Collor.
“Tem que fazer um governo suprapartidário, claro que com linhas mestras traçadas por ele, mas um governo que congregue linhas um pouco mais distantes do radicalismo de um lado e do outro, que são trazidos por essa ala que se diz olavista e a outra, militar”, disse. “Não se pode governar apenas ouvindo um lado e o outro. Tem que ouvir os diversos setores da sociedade, do bom senso, da plausibilidade. Construir um governo de nação, para que se veja representada.”
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O senador falou também que “felizmente” houve uma “mudança de tom” do presidente Bolsonaro nas últimas semanas. Collor também mencionou que Bolsonaro deixou de participar de manifestações que causam aglomerações em tempos de pandemia e pedem o fechamento do Congresso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e invocam a volta do AI-5.
“A simples presença dele ouvindo aqueles gritos e vendo faixas era uma forma de consentir com aquilo tudo, e isso deixava toda a nação brasileira sem saber direito para que lado ele queria ir. Porque de um lado ele dizia que é democrata e a favor da democracia, mas, na prática, ao participar dessas manifestações e aglomerações, ele dava um tom de desrespeito às instituições democráticas e ao que diz a ciência, a academia e a medicina”, ressaltou
Impeachment
Na avaliação de Collor, falar em impeachment neste momento é “um crime de quase lesa-pátria”.
“Não podemos confundir ainda mais a situação, fazer mais barulho. O barulho maior que temos é o que a pandemia está fazendo nos lares brasileiros, ceifando as vidas, trazendo desassossego e desemprego”, falou.
O senador também enfatizou que, para que o processo de afastamento de um presidente possa ser iniciado, é preciso ter a maioria no Congresso, o que segundo ele não existe hoje.
Descrédito na política
Para Collor, a sociedade não pode se afastar do sistema democrático brasileiro. Segundo o senador, quem participa de manifestações pedindo o fechamento do Congresso, do Supremo e a volta do AI-5 pede para que se tire os seus direitos, “porque o AI-5 tirou o direito de escolher seus representantes, de ter livre expressão”.
“Quando elas dizem desacreditar na política, estão desacreditando em si próprias, porque são elas, as pessoas, os eleitores, que elegem os seus mandatários. Todos que estão em Brasília são resultado de uma escolha livre e secreta”, afirmou o ex-presidente
Governo Bolsonaro
Para Collor, ainda é cedo para avaliar a gestão de Bolsonaro, mas o ex-presidente lembrou que a palavra “conflito” está presente no dia a dia do governo. “Se dissesse que é causado [o conflito] pela oposição… Mas não. A oposição está desarticulada inteiramente. Esses conflitos, o que é mais grave ainda, são gerados pelo próprio Executivo.”
O ex-presidente disse ainda que “brigar com a imprensa é brigar contra o ar”, e que ao fazê-lo Bolsonaro “não tem nada a lucrar, só a perder”.
“A imprensa tem que ser respeitada e tratada com consideração. Ao se sentir atingido, tem os meios judiciais para poder obter a reparação. Mas a imprensa livre é um instrumento fundamental para o exercício da democracia. Em um país sem imprensa livre, não tem democracia”.
O senador aconselhou ainda que Bolsonaro procure “se reconciliar com a grande mídia”. “Essa é uma forma de reconciliação com parcela da população brasileira, que não o apoia”.
(Edição: Bernardo Barbosa)