Weintraub é 12º nome a ser trocado no 1º escalão do governo Bolsonaro
Nos 17 meses e meio do governo Jair Bolsonaro, já houve 11 trocas de nomes do primeiro escalão
A saída do economista Abraham Weintraub do Ministério da Educação, anunciada nesta quinta-feira (18) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), será a 12ª troca ministerial realizada nos 17 meses e meio do atual governo.
Weintraub é o 10º a sair definitivamente do primeiro escalão do Executivo desde 1º de janeiro de 2019. A lista de trocas sobe para 12 com as inclusões de Onyx Lorenzoni e André Mendonça, que mudaram de postos dentro do governo.
Onyx, que largou como chefe da Casa Civil, agora é ministro da Cidadania. Mendonça, que começou o governo como advogado-geral da União, foi escalado para substituir o “superministro” Sergio Moro no comando da pasta da Justiça e Segurança Pública.
A primeira mudança aconteceu ainda no primeiro trimestre do governo. Em fevereiro, o advogado Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL e coordenador da campanha de 2018, foi demitido da Secretaria-Geral da Presidência, substituído pelo general Floriano Peixoto. O militar também teve vida curta na pasta, tendo sido trocado em junho por Jorge Oliveira, policial militar da reserva que trabalha há anos com a família do presidente Jair Bolsonaro.
Com a saída de Weintraub, o Ministério da Educação entra na lista das pastas que já tiveram duas mudanças no governo Bolsonaro. O ministro substituiu Ricardo Vélez Rodríguez, professor colombiano dispensado por Bolsonaro por problemas de “gestão”.
A outra pasta no topo das mudanças é o Ministério da Saúde. Durante a atual crise derivada da pandemia do novo coronavírus, o governo trocou duas vezes o comando da pasta, após ministros discordarem dos posicionamentos defendidos pelo presidente. Favorável ao distanciamento social, Luiz Henrique Mandetta deixou o cargo em abril. A divergência que levou à saída de Nelson Teich, um mês depois, foi a adoção ampla da hidroxicloroquina no país.
Relembre as trocas do primeiro escalão do governo Bolsonaro:
1. Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência)
Um dos coordenadores da campanha presidencial e então presidente do PSL, legenda pela qual Bolsonaro se elegeu, Bebianno era visto como um dos homens-fortes do governo.
A relação estremeceu após o jornal Folha de S.Paulo revelar o esquema de candidaturas laranjas do PSL na eleição de 2018. O ministro disse em entrevista ao jornal O Globo que não havia crise interna e, para provar, afirmou que havia falado com Bolsonaro diversas vezes naquele dia.
Deu-se início a um processo de desgaste, em que tanto o presidente quanto um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), foram às redes sociais desmenti-lo.
Bebianno acabou demitido, e o general Floriano Peixoto foi anunciado como novo Secretário-Geral da Presidência. Mais tarde, a revista Veja revelou áudios e mensagens de texto trocados entre o ex-ministro e o presidente, provando que, de fato, estavam em contato durante aquele período.
No dia 14 de março deste ano, Bebianno morreu aos 56 anos. Segundo o presidente do PSDB-RJ, Paulo Marinho, o ex-ministro não resistiu a um infarto. Depois de romper com Bolsonaro, Bebianno era pré-candidato à prefeitura do Rio pelo PSDB.
2. Ricardo Vélez Rodríguez (Ministério da Educação)
Indicado pelo escritor Olavo de Carvalho, Vélez acumulou uma série de polêmicas, recuos e demissões em altos cargos do ministério em pouco mais de três meses no cargo. Destaque para a publicação de um edital que permitiria a compra de livros didáticos com erros, publicidade e sem referências bibliográficas, posteriormente anulado, e uma carta enviada às escolas pedindo que filmassem os alunos durante a execução do hino nacional.
O ministro também chegou a dizer que mudaria os livros didáticos para revisar o entendimento da ditadura militar e do golpe de 1964. Segundo ele, “não houve golpe em 31 de março de 1964 nem o regime que o sucedeu foi uma ditadura”. No dia 5 de abril, Bolsonaro disse abertamente a jornalistas que Vélez não estava “dando certo”. Três dias depois, o ministro foi demitido e substituído pelo economista Abraham Weintraub.
3. Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo)
O general Santos Cruz acumulou desafetos durante os seis meses em que ocupou a Secretaria de Governo da Presidência. Teve atritos com Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil, e Fábio Wajngarten, que comanda a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social).
Santos Cruz também se desentendeu publicamente com Olavo de Carvalho, que publicou textos se referindo ao ministro como “fracote”, “bandidinho” e “fofoqueiro”. Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, Santos Cruz declarou que era “claro o desequilíbrio” do ideólogo do governo.
Após o longo histórico de rusgas, Santos Cruz foi demitido por Bolsonaro. Foi substituído pelo também general Luiz Eduardo Ramos Baptista, ex-assessor parlamentar do Exército.
4. Floriano Peixoto (Secretaria-Geral da Presidência – 2ª troca)
Floriano Peixoto vinha tendo uma passagem sem destaques pela Secretaria-Geral quando foi escalado para assumir a presidência dos Correios. Seu antecessor, Juarez de Paula Cunha, foi exonerado depois de criticar a possibilidade de privatização da estatal e tirar fotos junto de parlamentares da oposição.
Para sucedê-lo, foi promovido o policial militar da reserva Jorge de Oliveira Francisco. Ex-chefe de gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Jorge Oliveira passou a acumular a Secretaria-Geral com a Subchefia de Assuntos Jurídicos da Presidência, que processa nomeações e atos jurídicos.
5. Gustavo Canuto (Ministério do Desenvolvimento Regional)
Primeiro ministro trocado em 2020, Gustavo Canuto teve sua saída atribuída a atrasos no programa Minha Casa, Minha Vida. De perfil técnico, Canuto continua no governo, agora como presidente da Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência), vinculada ao Ministério da Economia.
Quem assumiu a posição foi Rogério Marinho, ex-secretário especial do Trabalho e da Previdência e ex-deputado federal pelo PSDB. Marinho ganhou destaque após ser considerado um dos principais articuladores da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados.
6. Osmar Terra (Ministério da Cidadania)
Osmar Terra foi exonerado da chefia do Ministério da Cidadania após divergências com a equipe econômica sobre a reformulação do Bolsa Família. Sob sua tutela, o principal programa social do governo voltou a ter uma longa fila de espera, com quase meio milhão de famílias aguardando inclusão.
Osmar Terra voltou a assumir seu mandato como deputado federal pelo MDB-RS.
7. Onyx Lorenzoni (da Casa Civil para o Ministério da Cidadania)
Bolsonaro também buscava uma vaga para recolocar Onyx Lorenzoni, então ministro da Casa Civil e fiel apoiador do governo desde os tempos de campanha. O órgão chefiado por Lorenzoni foi perdendo atribuições aos poucos, sinal que causou especulação sobre sua possível demissão do governo.
Em 13 de fevereiro, Bolsonaro anunciou que Walter Braga Netto, general que ganhou destaque após comandar o Gabinete da Intervenção Federal no Rio de Janeiro, seria o novo ministro-chefe da Casa Civil. Onyx foi nomeado para o Ministério da Cidadania.
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8. Luiz Henrique Mandetta (Saúde)
Luiz Henrique Mandetta foi demitido na tarde da quinta-feira, 17 de abril de 2020. A notícia chegou a partir de sua própria conta no Twitter, onde confirmou o seu afastamento da pasta. A exoneração já era esperada. Diante da crise da COVID-19, Bolsonaro e Mandetta divergiram quanto às recomendações de segurança.
Seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde, o ex-ministro defende o isolamento social – medida criticada pelo presidente. Bolsonaro explicitou a falta de sintonia por criticar a posição de Mandetta que estaria indo conta a sua autoridade.
Seu substituto foi o oncologista Nelson Teich.
9. Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública)
Sergio Moro pediu demissão do cargo no dia 24 de abril de 2020, horas depois de Bolsonaro publicar no Diário Oficial da União a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Mauricio Valeixo. A demissão, feita sem a anuência do ministro da Justiça, foi atribuída à insatisfação com a forma como a PF vinha atuando no governo.
Principal juiz da Operação Lava Jato, Moro aceitou deixar uma carreira de 22 anos como juiz federal para comandar o Ministério da Justiça logo após as eleições de 2018, quando Bolsonaro foi eleito em segundo turno.
Tido como um dos principais ministros do governo, Moro teve total autonomia para montar sua equipe e recebeu a promessa, na época, que teria “carta branca” para conduzir a pasta.
Ao longo do tempo em que ficou no cargo, no entanto, o ex-juiz precisou sair de diversas saias-justas com o presidente, incluindo a transferência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para o Ministério da Economia e a desidratação do Pacote Anticrime, seu principal projeto, aprovado em janeiro depois de sofrer mudanças profundas.
Enquanto era juiz federal no Paraná, Moro foi responsável pela primeira condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção no caso do triplex do Guarujá, em 2017. A manutenção da sentença, em 2018, impediu o petista de disputar a eleição daquele ano, vencida por Bolsonaro.
10. André Mendonça (Da AGU para a Justiça)
André Luiz de Almeida Mendonça, já cotado pelo presidente Jair Bolsonaro para ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), era advogado-geral da União desde o início do governo. Após a saída de Moro, Mendonça foi anunciado para comandar o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Para o seu lugar, foi nomeado José Levi, que era procurador-geral da Fazenda Nacional, cargo subordinado ao Ministério da Economia.
11. Nelson Teich (Ministério da Saúde – 2ª troca)
Substituto de Luiz Henrique Mandetta, Teich ficou menos de um mês do cargo. Ele pediu demissão por se recusar a autorizar o uso da cloroquina – uma droga sem a eficácia cientificamente comprovada contra a Covid-19 -, como quer o presidente Jair Bolsonaro.
Ao pedir demissão, Teich disse que não iria “manchar sua biografia” por causa da cloroquina. Nas quatro semanas em que comandou o SUS, Teich tentou implementar uma tática de testagem em massa e isolamento inteligente, mas esbarrou no aumento exponencial de casos de Covid-19 no país, que, na altura de sua demissão, já superavam os 200 mil, com mais de 14 mil mortes.
12. Abraham Weintraub (Ministério da Educação – 2ª troca)
Décimo ministro a deixar o governo, o economista Abraham Weintraub permaneceu 14 atribulados meses na pasta da Educação.
Entre as controvérsias acumuladas, estão protestos contra contingenciamento de gastos, um inquérito de crime contra racismo, erros na realização do Enem 2019 e uma fala que “mandaria prender os ‘vagabundos’ do STF”.
A mesma expressão foi utilizada em um encontro com manifestantes pró-governo, o que teria irritado o presidente. Weintraub anunciou sua saída em um vídeo publicado nas redes sociais e deve ocupar um cargo na direção do Banco Mundial.