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    Subprocuradores se dizem surpresos e procuradores criticam sala em aeroporto

    A informação de que a PGR quer contratar para eles um serviço de receptivo no Aeroporto Internacional de Brasília foi revelada no domingo pela CNN

    Movimentação no Aeroporto Internacional de Brasília
    Movimentação no Aeroporto Internacional de Brasília Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

    Teo Cury Da CNN, em Brasília

    Subprocuradores-gerais da República ouvidos pela reportagem nos últimos dias receberam com surpresa a informação de que a PGR quer contratar para eles um serviço de receptivo no Aeroporto Internacional de Brasília. A notícia foi revelada no domingo pela CNN.

    Para proteger os subprocuradores de eventuais agressões fisicas e verbais dos demais passageiros, a PGR vai contratar por R$ 76 mil anuais o serviço de “fast pass”, como também é chamado. 

    Ele dará direito à permanência em uma sala de espera reservada, traslado até a aeronave e escolta de até dois agentes de segurança da PGR e um funcionário do aeroporto.

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    A CNN ouviu nove subprocuradores de diferentes alas sob a condição de anonimato. Até mesmo os que integram a cúpula da instituição e fazem parte da gestão atual disseram não saber da existência das negociações para firmar o contrato. 

    Parte deles criticou a decisão da instituição de contratar o serviço. Alguns destacaram que o país vive um momento de restrições financeiras — inclusive dentro da própria PGR — e em meio à pandemia do novo coronavírus, e que, portanto, o serviço não deveria ser prioridade. 

    Um subprocurador lembrou que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) usam salas exclusivas no aeroporto e, justamente por isso, são alvo de críticas da população. Ele classificou como “um equívoco lamentável” o interesse da PGR em contratar o serviço.

    Este subprocurador, que atua em importantes casos de combate à corrupção, afirmou que nunca foi alvo de ataques. Segundo ele, a população, em geral, não sabe quem são os subprocuradores. Ele acredita que o procurador-geral da República, Augusto Aras, deve ter receio de receber vaias em locais públicos. 

    A maioria dos subprocuradores defende, no entanto, que os que atuam em casos delicados e que podem ser alvo pelos processos que conduzem deveriam poder ter direito a um tratamento diferente. 

    Um integrante da gestão acredita que, a depender da pessoa, o serviço pode se justificar. Ele diz que hoje não usaria, mas pondera que caso se tornasse visado ficaria constrangido de ficar no embarque comum. Ressaltou, porém, que é contrário a salas com regalias.

    A avaliação de alguns é a de que os procuradores de instâncias inferiores correm mais riscos, já que os subprocuradores recebem os processos em grau de recurso.

    Dois integrantes da cúpula da PGR afirmam que a lei impõe aos subprocuradores os mesmos tratamentos dispensados aos ministros de cortes superiores. Este também foi o argumento usado oficialmente pela secretaria de comunicação do MPF.

    Um auxiliar de Aras afirma que a pandemia do novo coronavírus e o distanciamento social decorrente dela possam ter explicitado a necessidade de preservar a saúde dos subprocuradores, já que, segundo ele, muitos integram o grupo de risco da doença. 

    Este integrante da PGR, no entanto, ponderou que um tribunal com medo ou um Ministério Público assustado são um desserviço à população.

    Outro subprocurador disse que nunca foi alvo de agressões e que considera que usar a sala chamaria mais atenção. Também disse ser importante questionar quem são os subprocuradores que estão viajando em meio à pandemia, qual o motivo de criar novas despesas e se os serviços à disposição deles atualmente não são suficientes. 

    Repercussão interna e nas redes

    A revelação da intenção da PGR de contratar o serviço especial no Aeroporto de Brasília repercutiu na rede interna de comunicação da instituição e em grupos nacionais de trocas de mensagens. 

    As fontes ouvidas pela CNN dizem que procuradores, procuradores regionais e subprocuradores, os três níveis da carreira do MPF, criticaram nesses grupos a decisão, que atribuíram a Aras.

    Nas redes sociais, procuradores também se manifestaram. Alan Mansur, procurador-chefe do MPF no Pará, escreveu que a medida é um gasto desnecessário. Bruno Calabrich, procurador regional da República, disse ser contra a decisão e afirmou esperar que Aras a reavalie. 

    O procurador regional João Carlos Rocha também discordou da medida e afirmou que o argumento de agressões não se justifica. “Em 28 anos de MPF desconheço qualquer agressão em Aeroporto a subs PGRs”, escreveu.

    Rocha, que assessorou o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot na área cível, disse que sempre viu respeito ao trabalho dos subprocuradores, mesmo entre quem discordava da Lava Jato. 

    Ele lembrou que, durante o julgamento do mensalão, o então procurador-geral da República Roberto Gurgel viajava em voo comercial, carregava sua mala de bordo e recebia manifestações de apoio. 

    “Quem cumpre com seu dever e sabe que nossa missão é servir a sociedade, não se entrincheira em salas VIPs”, escreveu.