Jairinho é o 5º vereador preso com mandato em vigor no Rio nos últimos 15 anos
Estado fluminense teve ainda 1 governador e 14 deputados afastados; já na capital, além dos 5 vereadores presos, há também 1 prefeito na lista
A recente prisão do vereador Jairo Souza Santos Junior (sem partido), conhecido como Dr. Jairinho, chocou o país pela barbaridade do crime cometido que tirou a vida do menino Henry Borel, de apenas 4 anos. Porém, ele faz parte de uma longa lista de outros parlamentares presos enquanto estavam no exercício de seus mandatos.
Um levantamento feito pela CNN apontou que, de 2006 até o presente momento, 21 políticos foram presos com mandato em vigor. Destas prisões, além da de Jairinho, 14 foram por corrupção, 5 por envolvimento com milícias e 1 por ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
O levantamento levou em consideração governadores, deputados estaduais e federais, no âmbito estadual e, no municipal, prefeitos e vereadores da capital fluminense.
A última prisão de um parlamentar em exercício do mandato foi a de Jairinho – expulso do Solidariedade no dia da prisão. Ele foi preso no dia 8 de abril deste ano após as investigações da polícia o apontarem como autor do crime que tirou a vida do menino Henry Borel, que teria sido morto após ser espancado e torturado pelo vereador. O parlamentar, inclusive, é filho do Coronel Jairo, preso enquanto deputado estadual, em 2018.
A lista pode ganhar mais um nome em breve, caso a Justiça do Rio decida prender a deputada federal Flordelis. Ela é apontada pelo Ministério Público do Rio e pela Polícia Civil fluminense como a mandante e mentora do assassinato do pastor Anderson do Carmo, morto a tiros em sua casa em junho de 2019.
Segundo o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Marcus Dezemone, o problema político no Rio passa por um sistema complacente e conivente, que engloba os poderes legislativo, executivo e judiciário.
“Temos um sistema no Rio de Janeiro que é, em primeiro lugar, complacente com esse tipo de prática. Além dessa complacência há também uma conivência. Temos um grande número de secretários envolvidos nos esquemas de corrupção. Por força da governabilidade, o executivo vai buscar apoio junto ao poder legislativo. Só que não fica aí. Quando olhamos para o Judiciário e para os órgãos de fiscalização, percebemos essa complacência e até mesmo uma cumplicidade.
Em 2007, por exemplo, o presidente e quatro conselheiros do Tribunal de Contas foram presos por serem sócios dessa corrupção. No judiciário, tivemos a prisão do Procurador Geral do Estado, o Cláudio Lopes. Então é um quadro mais complexo do que apenas os políticos envolvidos em corrupção. O que temos são instituições do estado do Rio de Janeiro que são sócias dessa prática corrupta”, fundamentou Dezemone.
O professor também fala que para além da corrupção, que está enraizada no sistema político do Rio há anos, com bases eleitorais bem definidas e certa camaradagem entre os políticos, que acabam se blindando, o principal problema atualmente é o novo crescimento da milícia dentro da política fluminense.
Dos 19 presos que estão listados abaixo, cinco foram por envolvimento com a milícia carioca. O Doutor Jairinho, inclusive, chegou a ser citado algumas vezes em uma investigação contra milícias no Rio. Sua participação no crime organizado paramilitar, entretanto, não foi comprovada. Seu pai, o Coronel Jairo, foi citado quando da CPI das Milícias, presidida por Marcelo Freixo (PSOL), em 2008. Por falta de provas, ele não chegou a ser indiciado.
Além dos políticos presos com mandato em vigor e que constam em nosso levantamento, há que se destacar, também, os nomes dos cinco ex-governadores presos: Moreira Franco, o casal Anthony e Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão – este o único preso com o mandato em vigor.
O último governador eleito do estado do Rio, Wilson Witzel, foi afastado do cargo por suspeitas de corrupção. Witzel chegou a ter seu pedido de prisão emitido pela Procuradoria Geral da República (PGR), mas o pedido foi negado pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Benedito Gonçalves.
Mesmo com tantas prisões no estado e no município do Rio, nenhum dos políticos perdeu seus mandatos pelo motivo de terem sido presos. Doutor Jairinho pode ser o primeiro político a perder o cargo parlamentar pela prisão. Algo que será decidido em breve pela Câmara dos Vereadores do Rio.
Confira a lista dos parlamentares presos enquanto vigoravam seus mandatos, desde 2006 até os dias atuais:
Governadores presos
– Luiz Fernando Pezão (MDB): Preso, em novembro de 2018, na operação Boca de Lobo, um desdobramento da Lava-jato no Rio. As investigações apontaram os crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e corrupção ativa e passiva. Ele foi o 4º governador do Rio preso, e o primeiro e único a ser preso em exercício do mandato. Foi solto em 2019 e hoje cumpre medidas cautelares. O ex-governador não pode se ausentar do Rio, tem que se apresentar periodicamente em juízo e faz uso de tornozeleira eletrônica.
Prefeitos presos (Apenas na capital do Rio)
– Marcelo Crivella (Republicanos): Preso em dezembro de 2020 em um desdobramento da Operação Hades, que investigou um suposto ‘QG da Propina’ na Prefeitura do Rio, sob seu comando. Pouco tempo depois Crivella foi para prisão domiciliar. Porém, em fevereiro deste ano, em decisão do ministro do STF, Gilmar Mendes, ele deixou a prisão domiciliar, tendo apenas que cumprir com medidas restritivas, tais como: comparecimento periódico à Justiça, proibição de sair do país e manter contato com outros investigados.
Deputados presos
Deputados Estaduais
– Álvaro Lins (PMDB): Preso quando da operação Segurança Pública S/A, em 2008, dois anos depois de se eleger deputado estadual. Ele foi acusado por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha armada, facilitação de contrabando e corrupção passiva. Foi solto nove meses depois de sua prisão.
– Anderson Alexandre (SDD): Eleito deputado estadual e ex-prefeito de Silva Jardim (RJ), Anderson Alexandre foi preso no final de 2018. Ele é acusado de receber doação ilegal para campanha de reeleição em 2006, no intuito de favorecer futuros contratos com a prefeitura. Foi eleito, mas não chegou a tomar posse por ter sido preso.
– André Corrêa (DEM): Corrêa foi eleito para seu 6º mandato como deputado estadual em 2018, pelo partido Democratas. Um mês depois, no bojo da Operação Furna da Onça, um desdobramento da Lava Jato, o deputado foi preso preventivamente, acusado de corrupção. Ele ficou encarcerado por cerca de um ano. Por decisão da Justiça, Corrêa retomou seu cargo parlamentar. A Furna da Onça apurou um esquema de corrupção entre deputados estaduais do Rio e empresas privadas, e também o loteamento de cargos públicos. O esquema seria comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral.
– Chiquinho da Mangueira (PSC): Também foi preso em novembro de 2018, durante a operação Furna da Onça. Segundo as investigações, Chiquinho recebeu verba através do esquema criminoso. Essa verba teria sido usada para financiar o desfile da escola de samba. Ele foi solto em outubro de 2019 e, assim como André Corrêa, retomou seu cargo parlamentar.
– Luiz Martins (PDT): Outro preso ao longo da Furna da Onça. Martins foi acusado pela Justiça de ter recebido mesada em troca de favorecer envolvidos no esquema. Além disso, teria, segundo as investigações, recebido R$ 1,2 milhão para sua campanha de 2014. É outro que reassumiu seu mandato após ser solto.
– Marcos Abrahão (Avante): Mais um deputado preso na Furna da Onça. De acordo com a denúncia do MPF, Abrahão também recebia uma mesada para votar de acordo com interesses do grupo criminoso que seria comandado por Sérgio Cabral. Também reassumiu o cargo após decisão judicial.
– Marcus Vinícius Neskau (PTB): Preso no bojo da operação Furna da Onça, mais um acusado de receber mesada para votar de acordo com interesses do grupo chefiado por Sérgio Cabral.É um dos cinco deputados presos que, após soltura, retomou o mandato parlamentar.
– Coronel Jairo (MDB): Pai do vereador Dr. Jairinho, foi um dos 10 deputados presos na Furna da Onça, por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos.
– Edson Albertasi (MDB): Albertassi foi preso na operação Cadeia Velha, em 2017. Segundo as investigações, ele fazia parte de um esquema de corrupção na administração pública estadual do Rio, ligado a desvios na Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). No ano seguinte, também foi condenado à prisão quando da operação Furna da Onça.
– Jorge Picciani (MDB): Também foi preso na operação Cadeia Velha, em 2017. Segundo as investigações, ele fazia parte de um esquema de corrupção na administração pública estadual do Rio, ligado a desvios na Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). No ano seguinte, também foi condenado à prisão quando da operação Furna da Onça.
– Paulo Melo (MDB): Mesma situação de Albertassi e Picciani. Foi preso na operação Cadeia Velha, em 2017. Segundo as investigações, ele fazia parte de um esquema de corrupção na administração pública estadual do Rio, ligado a desvios na Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). No ano seguinte, também foi condenado à prisão quando da operação Furna da Onça.
– Marcelo Simão (PP): Preso na Furna da Onça em 2018 enquanto ainda era deputado,. Ele já havia perdido a eleição, mas seu mandato ainda estava em vigor. Mais outro apontado pela Justiça como membro do esquema de mesadas para favorecer interesses do grupo criminoso comandado por Cabral.
– Natalino José Guimarães (DEM): Irmão de Jerominho, foi eleito em 2006 e preso em 2008. Natalino é acusado de integrar uma milícia do Rio e sua prisão se deu após ele ter trocado tiros com policiais. Renunciou ao mandato para evitar cassação. É apontado, junto com Jerominho, como líder da milícia conhecida como Liga da Justiça.
Deputados Federais
– Daniel Silveira (PSL): Foi preso em flagrante, em fevereiro deste ano, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Sua prisão aconteceu depois do deputado ter publicado um vídeo com ofensas, ameaças e pedido de fechamento do Supremo, segundo a decisão do ministro.
Vereadores presos (município do Rio)
– Dr. Jairinho (SDD): Preso em em 08 de abril deste ano, ele é apontado pela investigação como o autor do crime que tirou a vida do menino Henry Borel, de apenas 4 anos. Jairo Souza Santos Junior teria espancado e torturado o menino até a morte, na casa em que mora com Monique, mãe de Henry.
– Luiz André da Silva, o Deco: Preso pela primeira vez em 2011, suspeito de comandar um grupo miliciano. Foi solto em 2012 e retomou a legislatura. Porém, pouco tempo depois, foi novamente afastado. Em 2016, voltou a ser preso, acusado de homicídio qualificado e formação de quadrilha.
– Cristiano Girão (PMN): Preso em 2009. Ele foi denunciado pelo Ministério Público estadual, juntamente com outras 11 pessoas, por crimes de formação de quadrilha, extorsão e lavagem de dinheiro. Posteriormente, foi condenado por chefiar uma das principais milícias do Rio.
– Jerominho (MDB): Preso no final de 2007, acusado de ter mandado matar um motorista de van, em 2015. Depois, foi condenado em primeira e segunda instância, acusado de chefiar a Liga da Justiça, um dos maiores grupos milicianos do Rio de Janeiro.
– Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras (PFL): Foi preso em novembro de 2007, acusado de envolvimento na morte de um inspetor da Polícia Civil. Segundo as investigações, Nadinho tinha envolvimento com milícias e também com a máfia dos caça-níqueis, no bairro Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio. O ex-vereador foi morto em 2009, em um atentado na Barra da Tijuca.