TDAH pode aumentar risco de anorexia, depressão grave, TEPT e suicídio, diz estudo
Transtorno é um padrão de hiperatividade, desatenção e comportamento impulsivo que interfere no funcionamento ou desenvolvimento diário
O transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) está associado a uma maior incidência de depressão, anorexia ou transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), bem como ao risco de tentativas de suicídio, descobriu um novo estudo.
Uma condição de neurodesenvolvimento, o TDAH é um padrão de hiperatividade, desatenção e comportamento impulsivo que interfere no funcionamento ou desenvolvimento diário.
Pessoas com TDAH tinham 30% mais probabilidade de tentar o suicídio e 9% mais probabilidade de desenvolver depressão grave, de acordo com o estudo, que só conseguiu mostrar associações e não provar uma causa e efeito diretos. Depois que aqueles com TDAH desenvolveram depressão, eles tiveram 42% mais probabilidade de tentar tirar a própria vida.
“O TDAH e o comportamento suicida compartilham fatores genéticos comuns que podem refletir variantes genéticas associadas à impulsividade, uma característica altamente hereditária”, disse o principal autor do estudo, Dennis Freuer, estatístico e catedrático de epidemiologia da Universidade de Augsburg, na Alemanha.
“A impulsividade é um componente central do TDAH e está intimamente associada ao comportamento suicida. Nosso estudo sugere que tanto o TDAH quanto o transtorno depressivo maior são fatores de risco para tentativa de suicídio”, disse Freuer por e-mail.
Viver com TDAH também foi associado a uma chance 18% maior de desenvolver TEPT após um trauma. Se a pessoa tivesse TDAH e depressão, o risco de TEPT aumentaria 67%.
Transtornos alimentares associados ao TDAH
O estudo também encontrou uma ligação direta entre o TDAH e a anorexia nervosa, um transtorno alimentar caracterizado por uma imagem corporal distorcida, um medo intenso de ganho de peso e um peso corporal perigosamente baixo.
Pessoas com a doença vão a extremos para evitar ganhar quilos, incluindo “vomitar depois de comer ou pelo uso indevido de laxantes, auxiliares de dieta, diuréticos ou enemas, de acordo com o site da Clínica Mayo.
No entanto, “a anorexia não tem nada a ver com comida”, observou Mayo. “É uma forma extremamente prejudicial à saúde e às vezes fatal de tentar lidar com problemas emocionais. Quando você tem anorexia, muitas vezes você equipara magreza com autoestima.”
Ao contrário das conclusões do estudo sobre suicídio e TEPT, a nova pesquisa não mostrou associação entre depressão maior e desenvolvimento de anorexia. Em vez disso, “o risco aumentado de anorexia nervosa pode ser atribuído inteiramente ao TDAH”, disse Freuer.
Por que isso aconteceria? Porque as duas condições partilham “déficits neurocognitivos” que se centram na falta de controle dos impulsos, disse Freuer.
“A impulsividade, por exemplo, é um sintoma característico do TDAH e acredita-se que surja de anormalidades nas vias neurais do cérebro que governam a recompensa e a inibição dos impulsos”, disse o médico do TDAH, James Greenblatt, diretor médico da Walden Behavioral Care. em Waltham, Massachusetts, por e-mail. Ele não estava envolvido no estudo.
No geral, os resultados do novo estudo não foram surpreendentes, pois é bem sabido que o TDAH está frequentemente associado a outras doenças mentais, disse Greenblatt, que escreveu livros sobre como personalizar o tratamento para crianças com TDAH, compulsão alimentar, dependência alimentar e mais. No entanto, acrescentou, um diagnóstico de TDAH não “garante” resultados futuros específicos.
“Ter TDAH não torna a depressão (ou outros transtornos mentais) inevitável. O que ele faz, no entanto, é ‘empilhar’ o baralho de cartas que recebemos — cartas como genética, bioquímica, estilo de vida, meio ambiente e psicologia — de forma a tornar mais prováveis certos resultados, como a depressão”, disse ele.
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Usando genes para estabelecer risco
O estudo, publicado nesta terça-feira (5) na revista BMJ Mental Health, utilizou um método estatístico chamado randomização mendeliana, que utiliza “variação genética para avaliar como — e quão significativamente — um determinado fator de risco pode influenciar um resultado de saúde”, disse Greenblatt.
Os pesquisadores procuraram uma ligação entre o TDAH e sete problemas de saúde mental: anorexia nervosa, ansiedade, transtorno bipolar, depressão profunda, TEPT, esquizofrenia e pelo menos uma tentativa de suicídio.
Embora a pesquisa tenha descoberto uma ligação direta entre o TDAH e o desenvolvimento do transtorno depressivo profundo e tenha descoberto que tanto o TDAH quanto o transtorno depressivo profundo “separadamente e em conjunto” contribuíram para o TEPT e as tentativas de suicídio, esse não foi o caso de outras condições crônicas de saúde mental, de acordo com Freuer. “Não houve evidência de uma ligação causal entre TDAH e transtornos bipolares, ansiedade (ou) esquizofrenia”, disse ele.
A falta de resultados sobre ansiedade é incomum, já que “até 2/3 das crianças com TDAH têm pelo menos uma outra comorbidade — a ansiedade é a mais comum”, disse Greenblatt.
“Também estão na lista a síndrome de Tourette, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão, transtornos por uso de substâncias, transtornos alimentares, dificuldades de aprendizagem e disfunções do sono”, acrescentou.
Os genes são apenas parte do quebra-cabeça
A genética desempenha um papel no desenvolvimento de doenças ou condições em um indivíduo, mas o ambiente desempenha um papel importante na expressão desses genes, disse Greenblatt.
“Duas crianças podem ter o transtorno, e uma tem um ambiente familiar e escolar que realmente apoia e a outra criança pode ser criticada, estressada e constantemente se sentir desprezada em casa e a escola não tem acomodações”, disse ele.
Ambas as crianças têm o mesmo distúrbio biológico — TDAH — mas ambientes diferentes irão revelar sintomas diferentes, como ansiedade ou depressão, disse Greenblatt.
“Para mim, a conclusão do estudo é: ‘Ok, agora temos a ligação genética para acompanhar o que sabemos através da observação. O que vamos fazer com isso? Como médico, reforça a necessidade de diagnosticar e tratar de forma abrangente o TDAH em crianças e adultos.”
Como o TDAH é normalmente diagnosticado na infância, os resultados do estudo poderiam ser usados pelos médicos para fazer exames precoces de sinais de depressão, ideação suicida ou anorexia, disse Freuer.
“Isso permitiria um tratamento precoce adaptado ao paciente”, disse ele. “Do ponto de vista pessoal e familiar, penso que é importante não subestimar quaisquer sintomas e a própria doença e as suas possíveis consequências e procurar ajuda profissional atencipadamente.”