‘Governadores fazem frente à irresponsabilidade de Bolsonaro’, diz Temporão
Ministro da Saúde no governo Lula, José Gomes Temporão afirmou que Bolsonaro age como aliado do novo coronavírus e deve respeito à ciência
Ministro da Saúde no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o médico sanitarista José Gomes Temporão avaliou em entrevista à CNN nesta sexta-feira (15) a demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde. Segundo Temporão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se comporta como aliado da Covid-19, e os governadores “fazem frente à irresponsabilidade” do presidente.
Temporão disse considerar que, para além de equipamentos e leitos, o Brasil precisa também de uma “liderança nacional que consiga implementar um plano de ação com olhar estratégico e juntar a sociedade em torno desse movimento, que é em defesa da vida”.
“O que estamos vendo nesse momento é a absoluta ausência do governo federal. Estados, municípios e sociedades médicas estão criando uma governança paralela para fazer frente à irresponsabilidade do presidente Bolsonaro”, criticou Temporão. “O maior aliado do vírus hoje se chama Jair Bolsonaro.”
Teich estava à frente da pasta havia menos de mês, em substituição a Luiz Henrique Mandetta, que foi demitido pelo presidente em 16 de abril. As duas baixas ocorrem enquanto o país enfrenta saltos diários no número de casos de Covid-19 e mortes pelo novo coronavírus. Na quinta-feira (14), o Brasil ultrapassou a marca de 200 mil casos e chegou a 13.393 mortes.
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O ex-ministro da Saúde afirmou que “médico se forma para defender a vida” — o que, para ele, Teich percebeu que não conseguiria fazer.
“Teich é um médico respeitado que, imagino, entrou no governo com a melhor das intenções para fazer alguma coisa positiva, mas rapidamente percebeu que não é possível quando você tem um presidente que vira ‘médico'”, disse.
Ciência
Perguntado se vê como possível que o governo tenha um ministro que siga as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao mesmo tempo que seja alinhado com Bolsonaro, o ex-ministro avaliou que é preciso que Bolsonaro comece a respeitar a ciência e os profissionais que estão arriscando suas vidas para salvar as vítimas da Covid-19.
“Bolsonaro tem que mudar essa posição. Você não vai encontrar uma pessoa que consiga esse equilíbrio. O respeito à ciência, à medicina tem que vir do presidente, senão vai ser muito difícil encontrar uma pessoa qualificada, séria e comprometida que assuma essa responsabilidade”, acrescentou.
Como exemplo da efetividade da ciência no combate à pandemia da Covid-19, Temporão citou dados sobre o que considerou o sucesso do distanciamento social no país.
“Está fazendo um efeito positivo. No início da pandemia, a taxa de reprodução do vírus era de uma pessoa transmitindo para outras três. Hoje essa taxa está em cerca de 1,4. Ou seja, a gente conseguiu reduzir a velocidade de disseminação do vírus”, disse.
Temporão defendeu que “a situação estaria muito pior se não tivéssemos tomado a decisão do distanciamento em março” e apontou que, caso mantida, a medida salvará vidas.
“Na média [do] Brasil, se nós conseguirmos manter o nível de distanciamento social nas próximas duas semanas, vamos salvar uma vida a cada minuto”, estimou.