Precisamos de pessoas capazes de unir e liderar o país, diz FHC
Ex-presidente disse em entrevista à CNN que "a polarização cansa, chega um momento em que é preciso ter juízo"
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse em entrevista à CNN nesta quarta-feira (1º) que o Brasil precisa de pessoas capazes de unir e liderar o país. Em conversa na qual analisou o cenário político brasileiro, FHC afirmou que “a polarização cansa, chega um momento em que é preciso ter juízo.”
“No momento, precisamos dar confiança ao Brasil, acreditar em nós mesmos, e as palavras do presidente [Jair Bolsonaro] são simbólicas para a nação. É preciso alguém que explique o que quer fazer e que toque o coração das pessoas, alguém que faça as pessoas sentirem algo, que tenho o espírito aberto, que simboliza o caminho. A dificuldade maior no momento é encontrar quem seja capaz de liderar.”
Leia também:
Após Decotelli, governo revê sistema de nomeações
Bolsonaro é aconselhado a não ter pressa para definir novo ministro da Educação
Para o ex-presidente, os atos de Bolsonaro não vão ao encontro da conciliação, mas sim da exclusão. Mais do que isso, FHC criticou a falta de rumo da atual presidência e diz que isso reflete na desorganização dos ministérios.
“Se o presidente não sabe para onde vai, os ministros não vão saber também. As pessoas atualmente estão se matando por coisas menores. Não se consegue nem nomear um ministro”, disse FHC, depois de o recém-nomeado Carlos Alberto Decotelli da Silva sequer completar uma semana à frente do Ministério da Educação.
Frente ampla e renovação
Questionado sobre a tentativa de formação de frente ampla que alguns partidos de direita, centro e centro-esquerda tentam elaborar, FHC disse ser favorável a estes movimentos, mas fez a ressalva de que estas ações normalmente são criadas em torno de pauta única, como foram as Diretas Já.
“A frente ampla deve servir para um fim, a última importante que tivemos foram as Diretas Já. O objetivo político não pode ser derrubar quem foi eleito democraticamente. Precisamos de paciência histórica para manter as instituições funcionando.”
Ele disse ainda que é preciso que o Brasil realize uma renovação de suas lideranças políticas, e voltou a insistir na noção de que os próximos líderes do país devem mostrar um rumo a população, e não separar o país.
“A dificuldade maior no momento é encontrar alguém que seja capaz de liderar. É preciso de renovação geracional. Fora do jogo político, tem o Luciano Huck, vamos ver se ele é capaz de expressar os anseios da sociedade. Há também o João Doria, governador de São Paulo, e o Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. O próprio PT tem novas lideranças no Nordeste. O tempo obriga a renovar, porém ninguém nasce líder, você se faz na circunstância.”
Economia
Ao elencar os principais desafios do Brasil, FHC colocou a economia como um obstáculo, lembrando do período de fraco crescimento dos últimos anos, mas criticando a visão exclusivamente pró-mercado do atual governo.
“A questão é manter o crescimento da economia, estamos paralisados há muito tempo. Sem crescimento não há emprego. Precisamos recuperar a confiança e fazer investimentos em áreas que afetem a vida das pessoas. Pensar que o nosso país será regido apenas pela lei de mercado está errado. Ele está certo em algumas regulações, mas só o mercado não é suficiente, é preciso escutar a opinião pública.”